sábado, 22 de dezembro de 2012

Nacionalizar o BPN foi uma escolha, e não uma obrigação, certo? Certo

Teixeira dos Santos nacionalizou o BPN, certo? Certo

E levou os ativos tóxicos para uma empresa pública chamada Parvalorem, certo? Certo

O resto do banco, como depósitos e créditos pouco ou nada delinquentes, mantiveram-se no BPN, certo? Certo

Porque é que Teixeira dos Santos nacionalizou? Porque acreditava que não nacionalizar seria pior.

Foram esses riscos quantificados? Foram. Casos ocorridos noutros países referiam que não nacionalizar um banco destes daria um prejuízo na sociedade portuguesa a rondar os 7-8 mil milhões de euros. Os custos INICIAIS da nacionalização do BPN rondaram os 500 milhões se não me falha a memória.

A fatura foi crescendo ano após ano, e segundo notícias de hoje da SIC, os custos poderão ascender a, Ooops... 7 mil milhões de euros!

E porquê?
Porque desde 2008 que muitos dos créditos que o BPN tinha concedido estavam na mão de pessoas que não tinham condições para os solver, ou porque não apresentaram garantias de jeito, ou porque investiram o dinheiro em negócios que não geraram a faturação que se esperaria, etc, etc.


Caros leitores e leitoras, o que Teixeira dos Santos fez, cheio de boas intenções, foi exatamente aquilo que todos os políticos em apuros fizeram nos seus países desde 2008:

Nacionalizaram o que cheirava a merda, na esperança de que o ATO de nacionalizar faça passar o pivete e o cheiro a rosas volte a emergir, cativando aqueles que previamente tinham fugido.

Ensinaram-nos que tudo era uma questão de confiança. Não havia bons ou maus investimentos em si mesmos, mas antes investimentos que faziam variar a sua qualidade em função da sua atratividade na percepção dos investidores.
E como o VALOR do ativo se perdeu ao longo do tempo com tanta manipulação e trafulhice politiqueira, o que conta mesmo é o PREÇO, independentemente do ativo tresandar ou não.

Também com o BPN se acreditou que nacionalizar o que tresandava traria algum tipo de confiança a quem eventualmente, mais tarde, estaria interessado em adquirir o que afinal já cheirava a rosas.

Este tipo de comportamentos políticos joga bem com a falta de percepção do povo em compreender estas coisas, eternamente esperançado de que o futuro será melhor do que o passado.

Podemos encontrar este mesmo padrão em muitos ativos espalhados pelo planeta, como a dívida pública portuguesa ou a americana, por exemplo. Os seus preços NÃO refletem os seus fundamentos, ou seja, a INcapacidade dos governos em não deixá-las crescer ou até solvê-las.

Eu percebo que muitos de nós não querem que o que é nosso mas que cheira mal seja dado a conhecer a quem se sente atraído. Preferem a dissimulação desde que o fim desejado seja atingido. Relativizam-se os meios para atingir os fins. É um clássico, mas cheio de rasteiras, porque o comprador NUNCA gosta de ser enganado, nem aqui, nem na China.

Faz-me lembrar aquela história de que para algumas mães, os filhos nunca cheiram mal!
Pois, mas às vezes cheiram mesmo mal, e se nada fizerem, nem que seja confrontá-los com isso, dificilmente alteram hábitos e corrigem trajetórias.

São as escolhas que fazemos todos os dias que refletem aquilo que nos irá acontecer um pouco mais à frente. Dissimular e deixar andar pode resultar no curto prazo, mas duvido que o feitiço não se vire contra o feiticeiro lá mais para a frente..

Tiago Mestre

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