sábado, 19 de janeiro de 2013

A verdade à moda antiga

Artigo de António Alves Caetano, irmão de Marcello Caetano,
que os jornais se recusam a publicar, sobre as pensões dos reformados e pensionistas.


Estimados Amigos,

Como os jornais não publicam as cartas que lhes remeto e preciso de
desabafar, recorro aos meus correspondentes "Internéticos", todos os
amigos que constam da minha lista de endereços. Ainda que alguns não
liguem ao que escrevo.

Não sei a que se refere o Senhor Primeiro-Ministro quando afirma ser a
penalização fiscal dos pensionistas resultante de todos aqueles que,
em Portugal, "descontaram para ter reformas, mas não para terem estas
reformas".

Pela fala do Senhor Primeiro-Ministro fica-se a saber da existência de
pensões de aposentadoria que estão acima daquilo que resultaria da
correcta aplicação do Cálculo Actuarial aos descontos que fizeram.

Sendo assim - e não há razões para admitir que o Senhor
Primeiro-Ministro não sabe o que diz - estamos perante situações de
corrupção. Porque o Centro Nacional de Pensões e a Caixa Geral de
Aposentações só podem atribuir pensões que resultem da estricta
aplicação daqueles princípios actuariais aos descontos feitos por cada
cidadão, em conformidade com as normas legais.

Portanto, o Estado tem condições de identificar cada uma dessas
sirtuações e de sancioná-las, em conformidade com a legislação de um
Estado de Direito, como tem de sancionar os agentes prevaricadores,
que atribuíram pensões excessivas.

Mas, é completamente diferente a situação face aos cidadãos que
celebraram contratos com o Estado. Esse contrato consistia em que, ano
após ano, e por catorze vezes em cada ano, o cidadão entregava ao
Estado uma quota das suas poupanças, para que o mesmo Estado, ao fim
dos quarenta anos de desconto lhe devolvesse essa massa de poupança em
parcelas mensais, havendo dois meses em que era a dobrar, como
acontecera com os descontos.

E tem de ser assim durante o tempo em que o cidadão estiver vivo e, em
parte mais reduzida, mas tirada, ainda, da mesma massa de poupança
individual, enquanto houver cônjuge sobrevivo.

E esta pensão tem o valor que o Estado, em determinado momento,
comunicou ao cidadão que passava a receber. Não tem o valor que o
cidadão tivesse querido atribuir-lhe.

Portanto, o Estado Português, pessoa de bem, que sempre foi tido como
modelo de virtudes, exemplar no comportamento, tem de continuar a
honrar esse estatuto.

Para agradar a quem quer que seja que lhe emprestou dinheiro para
fazer despesas faraónicas, que permitiram fazer inumeráveis fortunas e
deram aos políticos que assim se comportaram votos que os aconchegaram
no poder, o Estado Português não pode deixar de honrar os compromissos
assumidos com esses cidadãos que, na mais completa confiança, lhe
confiaram as suas poupanças e orientaram a sua vida para viver com a
pensão que o Estado calculou ser a devida.

As pensões que correspondem aos descontos que cada qual fez durante a
vida activa nunca poderão ser consideradas excessivas. Esses
Pensionistas têm de merecer o maior respeito do Estado. Têm as pensões
que podem ter, não aquelas que resultariam do seu arbítrio.

E é este o raciocínio de pessoas honestas. Esperam que o Estado sempre
lhes entregue aquilo que corresponde à pensão que em determinado
momento esse mesmo Estado, sem ser coagido, lhes comunicou passariam a
receber na sua nova condição de desligados do serviço activo. Ou seja,
a partir do momento em que era suposto não mais poderem angariar outro
meio de sustento que não fosse a devolução, em fatias mensais, do que
haviam confiado ao Estado para esse efeito.

Os prevaricadores têm de ser punidos, onde quer que se situem todos
quantos permitiram que, quem quer que seja, auferisse pensão
desproporcionada aos descontos feitos, ou mesmo, quem sabe, sem
descontos. Sem esquecer, claro está, os beneficiários da falcatrua.

Mas, é impensável num Estado de Direito que, a pretexto dessas
situações de extrema irregularidade, vão ser atingidos, a eito, todos
aqueles que, do que tiraram do seu bolso durante a vida activa,
recebem do Estado a pensão que esse mesmo Estado declarou ser-lhes
devida.

Como é inadmissível que políticos a receberem ordenado de função,
acrescido de benesses de vária ordem proporcionadas por essa mesma
função, considerem que pensões obtidas regularmente, com valores
mensais da ordem de 1.350 Euros proporcionam vida de luxo que tem de
ser tributada, extraordinariamente.

António Alves Caetano



7 comentários:

Pedro Miguel disse...

Na minha opinião esses argumentos valem pouco.

O Estado, é realmente sério se conseguir corrigir erros feitos por funcionários do Estado.

Nenhum desses reformados, empresas das PPPs, FMI, BCE e por aí fora fez acordos ou contratos com o Estado...
Os acordos e contratos foram feitos com a máquina do funcionário público que estava ao momento no poder.

Quem está ao momento mandatado pelos portugueses para nos governar, deve garantir, que o Estado corrija o que está mal.


O professor Pedro Cosme fez umas contas interessantes quanto às reformas no seu blog:

http://economicofinanceiro.blogspot.pt/2012/12/as-potenciais-inconstitucionalidades-do.html

1 - A sobretaxa de solidariedade sobre as reformas mais elevadas
Para as reformas maiores que 12xIAS (5040€/mês) vai haver um corte extraordinário de 15% e de 40% sobre as que ultrapassem 18xIAS (7560€/mês).
Este ponto é o que tem maior risco de inconstitucionalidade porque apenas se aplica aos reformados (viola, potencialmente, o princípio da igualdade) e não está suficientemente explicado.
Como os juízes do Tribunal Constitucional não percebem nada de números, não compreendem que estas reformas são uma redistribuição mas ao contrário: as pessoas que trabalham hoje e que irão ter uma reforma baixa estão a subsidiar as pessoas mais ricas de hoje, principalmente juízes, professores e políticos reformados.

Vejamos as contas da Segurança Social.
Esta é para informar o Dr. Bagão Felix.
Vamos supor um indivíduo que trabalhou 45 anos, que os salários aumentaram 1.0%/ano (real), que se reformou aos 65 anos e que o salário médio foi de 5000€/mês.
Seremos levamos a pensar que esta pessoa tem mais que direito à sua reforma só falta discutir de quanto.

Supondo que metade da TSU foi guardado para a reforma (17.25% do salário) então, a pessoa mais a entidade patronal descontaram cerca de 560 Mil € para a pessoa ter reforma (capitalizada a hoje à taxa de inflação de 2%/ano, 14 meses por ano).
Pelas regras antigas da função pública, esta pessoa recebe de reforma 6750€/mês. Então, o valor total dos descontos dá para pagar 83 mensalidades. O problema é que, em média, uma pessoa com 65 anos dura 264 meses (18.84 anos, 14 meses/ano).

O que descontou foram 560 mil€ e vai receber de reformas 1790 mil€.
Por cada euro que descontou, este reformado vai, iria, receber 3.20€ (corrigidos os valores da inflação).
Será isto justiça social sabendo que as reformas de hoje estão a ser pagas pelos descontos dos jovens de hoje que, praticamente, não vão ter reforma?
O total dos descontos apenas dá para esta pessoa ter uma reforma de 2100€/mês.
Quem ganha 5000€/mês, desconta 45 anos e se reforma aos 65 anos de idade só contribuiu, juntamente com a entidade patronal, para uma reforma de 2100€/mês.
Receber mais é redistributivo que apenas é justo para as pessoas que têm baixos rendimentos.

É pouco?
Concerteza que parece pouco atribuir 40% do salário médio a uma pessoa que trabalhou 45 anos.
É pouco mas é para isso que dão os descontos que, juntamente com os nossos patrões, pagamos para a Segurança Social.

Vivendi disse...

Caro Pedro miguel,

Boa análise. É precisamente isso que eu defendo. Uma justa análise do que as pessoas realmente descontaram. E em função disso atribuir os respetivos montantes. E Portugal deve rapidamente fazer reformas e estabelecer um limite máximo de pensão pela via estatal e deixar o restante para sistemas de capitalização privados tal como acontece no modelo suíço.

Aqui tens a explicação de como funciona o modelo suíço:

http://vivendi-pt.blogspot.com/2011/12/reformas-na-suica.html

Pedro Miguel disse...

Isso mesmo Vivendi.

Para mim, a principal vantagem do sistema da Suiça é que será fácil corrigir asneiras.
Se o sistema de SS trabalha com menos dinheiro e valores mais baixos, não há grande espaço para os buracos financeiros.
Em segundo lugar, o dinheiro não fica nas mãos do ineficiente Estado, para quem é indiferente ser bem ou mal aplicado. Quem quer reformas maiores põe o dinheiro a circular na economia.

A seguir a isso aparecem as vantagens normais e que facilmente convencem quem analisa a situação.

Ricardo Anjos disse...

Nõ gosto de me repetir, mas, Miguel: é assim que funciona o esquema de Ponzi- para quem não sabe, da wikipedia:

A Ponzi scheme is a fraudulent investment operation that pays returns to its investors from their own money or the money paid by subsequent investors, rather than from profit earned by the individual or organization running the operation. The Ponzi scheme usually entices new investors by offering higher returns than other investments, in the form of short-term returns that are either abnormally high or unusually consistent. Perpetuation of the high returns requires an ever-increasing flow of money from new investors to keep the scheme going.[1]
The system is destined to collapse because the earnings, if any, are less than the payments to investors. Usually, the scheme is interrupted by legal authorities before it collapses because a Ponzi scheme is suspected or because the promoter is selling unregistered securities. As more investors become involved, the likelihood of the scheme coming to the attention of authorities increases.

O esquema de Ponzi, é um esquema FRAUDULENTO, que beneficia quem o cria (Políticos e Funcionários do Governo) e é por definição INSUSTENTÁVEL!!! quem diria???

E ainda estou à espera que me desmintam com contas (com matemática)... Será este esquema da SS, mesmo para beneficiar a população (a POLIS)?

felismente, graças a pessoas como o Vivendi, Tiago, Bernardo, etc... ainda podemos dizer a verdade nos BLOGS - por enquanto...

Pedro Miguel disse...

deathandtaxes eu sei o que é um sistema ponzi e até de onde apareceu o nome.

O que eu comentei foram as palavras do António Caetano, sobre os contratos com o Estado.
Fala-se do Estado como sendo algo abstracto, mas o estado não é mais do que a decisão de pessoas. Esses contratos que ele falou, foram contratos de funcionários públicos com outros funcionários públicos.
Faz lembrar lembrar a decisão do TC sobre o corte dos subsídios. Alguém se questionou que os PPC e Gaspar cortaram nos próprios subsídios e os juízes do TC, que são dos que mais recebem do Estado, decidiram que era inconstitucional. Quem foi sério?

Não sou contra que haja um sistema de SS, desde que sirva mesmo para proteger os mais pobres, quem tem dinheiro, deve optar como quer descontar e se quer descontar (pelo menos acima de certo valor).

Ricardo Anjos disse...

parece que todos sabemos o que é o Ponzi da Segurança Social... simplesmente, há dois lados desse esquema:

1- os actuais beneficiários, que estando já a receber os frutos do esquema - ainda que respaldados por leis, contratos, e outras vigarices (como BDP; CGD; Institutos para-públicos; altas-autoridades; comissões; ETC) - estão sob a ilusão que descontaram muito, e que não deveriam ser taxados. Este é mais um mito urbano - para mim, está na mesma categoria do ouro nos cofres do BDP, e de os <comunistas comerem crianças ao pequeno-almoço!

2- quem trabalha nas empresas 100/100 privadas - que são os únicos contribuintes líquidos para o SISTEMA/FRAUDE que é o Estado Social - e que vêm o cerco a apertar-se, mês após mês!

ou seja, ambos concordamos um com o outro, e discordamos dos pensionistas como este António Caetano, Bagão Félix, Soares, MFLeite; Manuel Alegre, Celeste Cardona, Jardim Gonçalves, etc., etc.............
alguns destes, foram enganados, e vivem na (des)ilusão. Outros foram arquitetos e cumplices, e mereciam cumprir pena de prisão por burla e furto!

Tiago Mestre disse...

Pedro,nunca me dei ao trabalho de fazer umas contas acerca dos descontos efetuados e reformas atribuidas.
Ainda bem que deste esse exemplo.

A conclusão a que se pode então chegar é que grande parte das reformas que hoje certos segmentos (médio-altos) da sociedade auferem, é superior em mais de 3 vezes, se usarmos a esperança média de vida, face aquilo que descontaram a vida inteira.

Interessante, muito interessante