sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O otimismo dos 1%

Caros leitores e leitoras, com tantas notícias boas a inundarem os nossos media:

- Crescimento de 1,4% em 2014

- Bancos Centrais a intervirem de forma proativa nos mercados, etc, etc

- Queda das yields das obrigações soberanas
- Regresso antecipado de Portugal aos mercados
- Acalmia nos mercados europeus
- Otimismo nos EUA mesmo com o Estado permanentemente à beira do incumprimento
- Crescimento vigoroso das bolsas

É possivel afirmar que as políticas públicas vigentes conseguiram dar os resultados que se pretendiam.
Várias foram as vezes que dei os parabéns a Mario Draghi no Contascaseiras. Pessoalmente eu não acreditava que fosse possível subir ainda mais a parada ao ponto de acalmar o pessoal.

Quando eu digo subir a parada significa usar recursos públicos, como a moeda €, por exemplo, para satisfazer as necessidades dos bancos mais "entalados" e cativar os fundos de investimento que entretanto tinham saído.

O mundo dos mercados e das finanças públicas que dependem destes para se financiarem, com a ajuda dos bancos centrais, conseguiram descolar da economia real, tendo criado uma espécie de satélite do planeta Terra, um mundo à parte, blindado tanto quanto possível de tudo o que são fundamentos e números terrenos que possam prejudicar a confiança daqueles que transacionam nesse satélite.

São esses 1% que recebem 99% da atenção, tanto dos bancos centrais como da elite política e até de muitos media, e são esses 1% que só querem ir à Terra quando ela ainda tem alguma coisa para lhes dar, porque de outra maneira, é fugir novamente.

Quem conseguiu bilhete e embarcou no mesmo barco dos bancos centrais está de parabéns porque conseguiu fazer uma fortuna neste último ano sem produzir nada, e quem não comprou bilhete teve que ficar em terra, disputando recursos físicos, todos eles escassos e finitos contra uma data de gente que está cada vez mais desesperada e impaciente.

Tiago Mestre

3 comentários:

Manuel Galvão disse...

Acalmar especuladores? Quando eu não tenho confiança quanto à capacidade de uma pessoa pagar a renda da casa, não lhe arrendo uma casa minha. Muito menos lhe proponho arrendá-la por uma renda superior à do mercado!

E já agora leia isto:
http://portuguese.ruvr.ru/2013_01_17/O-gato-ruivo-genio-em-financas/

Tiago Mestre disse...

Gostei do gato. faz-me lembrar o polvo Paul

Mas é realmente um facto que os banqueiros centrais entraram com o que tinham e com o que não tinham.
Desde Julho/Agosto 2012 que a Europa começou a acalmar com as intervenções que Draghi fez nos media. A queda das yields nas dívida dos países periféricos é uma realidade a partir daí.

Não achas que há um efeito de causalidade entre uma coisa e outra?

Ricardo Anjos disse...

Na minha opinião, não há esse efeito de causalidade!
Os intervenientes do planeta financeiro estão apenas com um apurado comportamento que garanta a sua sobrevivência.
Como em todos os esquemas de Ponzi, os participantes que estão perto do topo da pirâmide (quase a ganhar o jackpot) querem aguentar o esquema por mais algum tempo... puro instinto de sobrevivência.

a yield das bonds dos PIIGS, é irrelevante para o caso. Já há muito passamos do ponto em que o roll over da dívida era possível. pedir dinheiro a 12meses com juros de 2% numa economia que decresce 1,8%??? não me parece sustentável.

Pegando no exemplo do Manuel: se o meu inquilino aparecesse de carro novo a pedir que lhe permitisse protelar o pagamento da renda... começava de imediato a procurar um advogado, para tratar do despejo!
como pessoa que sabe fazer contas, presumo que farias o mesmo!