segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

As bolsas e a realidade


Por Pedro Lino,
Os mercados foram dominados por máquinas e algoritmos.
O índice americano SP500 e o alemão Dax30 estão a 5% de distância de baterem os máximos históricos. Pode parecer estranho se olharmos à nossa volta para a economia real. O que vemos é desemprego, recessão, diminuição de salários, aumento de preços, nada que leve um cidadão comum a pensar que as acções estão a subir. O PSI 20 teve o seu melhor Janeiro desde há 15 anos, com algumas acções a subirem 50% em apenas 4 semanas. O Euro sobe contra o dólar para máximos de 14 meses, ameaçando a recuperação das exportações europeias, quando o mercado interno está em recessão. Irracionalidade? Não, são apenas os fluxos de capitais a funcionar, como consequência da política monetária expansionista, de taxas de juro baixas e cedências de liquidez na ordem dos triliões de dólares. 
Num mercado mundial com livre circulação de capitais, estas movimentações têm impactos substanciais nos preços. A tão esperada inflação, fruto da emissão de moeda e que tradicionalmente aparecia nos mercados imobiliários, de trabalho e serviços, está hoje patente nos mercados de capitais. 

O mercado das obrigações foi o primeiro a incorporar essa inflação com os preços a dispararem, e países como a Alemanha a receberem para se financiarem. Com taxas a 10 anos que rondam os 2% os investidores precisam de 50 anos de juros para recuperarem, por essa via, o dinheiro que investiram. Ora esta exuberância de preços elevados só foi possível graças às intervenções dos bancos centrais que cederam liquidez às instituições financeiras para comprarem títulos, e anunciaram programas de recompra de obrigações, financiando directa e indirectamente os países. 

A diminuição da percepção de risco dos países e procura por rentabilidade, está a criar uma dinâmica de realocação destes triliões de dólares e euros para os mercados accionista e de matérias-primas, criando um potencial problema inflacionários nestes mercados. Nas primeiras três semanas de Janeiro os americanos investiram mais de 14,9 biliões de dólares em fundos de acções, o valor mais elevado desde 2001. 

A expectativa dos bancos centrais é que o efeito riqueza que está a ser gerado nos mercados financeiros possa contagiar a economia real e que os consumidores e empresários voltem a gastar e investir. O problema está na participação desta subida e na duração, que no caso americano e alemão tem 4 anos. A participação dos investidores é muito baixa, devido à desconfiança, e prova disso - são os fluxos de capitais que estão a ser desviados para os mercados de acções. 

Os pequenos investidores estão, apenas agora, a ter noção da subida dos mercados e a começar a investir. Recentemente Mário Draghi, despoletou mais uma subida nas bolsas quando afirmou que a evolução dos mercados não era suficiente para devolver a confiança aos agentes económicos. Provavelmente tem razão, pois o número de investidores que vê o seu património valorizar é diminuto.

Há outro aspecto relevante, e ao qual as autoridades europeias insistem em fechar os olhos, a partir do momento em que os mercados foram dominados por máquinas e algoritmos, tudo mudou e o pequeno investidor vê-se muitas vezes cilindrado no meio de guerras de preços que não entende. 

As bolsas devem continuar na sua caminhada ascendente, mas os cuidados devem ser mais do que muitos, mesmo que a rede de segurança dos bancos centrais pareça mitigar os riscos, principalmente quando os problemas dos países periféricos e da Europa estão longe de ser resolvidos.
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