quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

"Não à substituição de trabalho por máquinas"




Existe uma história sobre  Milton Friedman que numa viagem por um país asiático por volta de 1960 visitou a construção de um novo canal. Ele ficou chocado ao observar que em vez de usarem equipamento pesado tal como escavadoras, os trabalhadores utilizavam pás. Ao perguntar porque é que os trabalhadores usavam pás o burocrata governamental que o acompanhava respondeu que se tratava de um “Programa de Emprego” ao que o Milton Friedman retorquiu: “Se são empregos que querem, porque é que não usam colheres?”.

De algum tempo para cá que tenho observado um certo número de artigos (tipo esteeste ou este) relacionados com a “ameaça” da substituição de empregos por máquinas. Depois de um amigo meu me ter facultado a foto ao lado(priceless) de uma manifestação da CGTP que teve lugar no Porto no fim-de-semana passado onde se pode ler um cartaz onde está escrito “Não à Substituição de Trabalho Por Máquinas – Em Defesa do Emprego“, resolvi escrever este post em grande parte baseado no Capítulo 7 – The Curse Of Machinery do Economics In One Lesson, um livro absolutamente imperdível do Henry Hazlitt

A proliferação da utilização de máquinas é de facto bom ou mau e irá-se traduzir em mais ou menos emprego?

Na medida em que a utilização de máquinas e equipamento aumenta a produtividade (já os homens das cavernas tinham descoberto isso), a sua proliferação é altamente benéfica, pois:
  • O aumento da produtividade aumenta a produção, reduz o preço e permite o aumento de salários.
  • Liberta recursos humanos para se dedicarem a outras actividades que de outra forma não seria possível.
Do ponto de vista do emprego, o progresso tecnológico e a utilização de máquinas em particular também é muito positivo para o emprego uma vez que:
  • São sempre necessárias pessoas para desenvolver, instalar e manter as máquinas pelo que se vão criar novos empregos (geralmente muito qualificados).
  • O aumento da produtividade estimulará a competição; a concorrência terá também que comprar mais equipamentos; e no geral a indústria terá que baixar os preços. Se o preço for elástico e uma redução do preço causar um aumento percentual maior da procura, então serão precisas mais pessoas a trabalhar na produção desse bem. Isto foi o que aconteceu com a indústria textil Inglesa no início da revolução industrial tendo o número de pessoas a trabalhar no sector textil passado de cerca de 7.900 em 1760 para 320.000 em 1787 (um aumento de 4.400% em 27 anos!).
  • O aumento da produtividade reduz os custos o que resulta numa libertação de fundos. Estes fundos podem ser distribuídos – em parte por opção, em parte por força do mercado –  pelos accionistas (distribuição de lucros), pelos trabalhadores (aumento de salários) ou pelos consumidores (redução de preços).  Estes fundos que passam a ficar disponíveis como resultado do aumento da produção, serão aplicados quer pelos accionistas, quer pelos trabalhadores, quer pelos consumidodes em três formas todas elas criadoras de emprego:
    • Investimento – em mais máquinas, ou noutras empresas ou indústrias
    • Poupança – que permitirá a outras pessoas e empresas realizar investimentos
    • Consumo – porque foi precedida de um aumento da produção
Embora em termos agregados o volume de emprego cresça com a introdução de equipamento que aumente a produtividade, alguns tipos de empregos serão de facto reduzidos ou até extintos (operadores de telégrafo, condutores de carruagens, dactilógrafos, etc.). Esses empregos que deixam de ser necessários serão substituídos por outros empregos necessários. Afinal de contas, os desejos humanos são infinitos e os recursos são finitos. O perfil dos novos empregos necessitará obviamente de qualificações e competências diferentes.

Um emprego não pode ser visto como um fim em si mesmo. Se o objectivo é criar empregos, o governo (quem mais?) poderia facilmente criar inúmeros empregos que consistiriam apenas em cavar e tapar buracos. Um emprego deve ser visto como um meio de se produzir algo útil que seja valorizado pelos consumidores, o que por sua vez permite que se efetuem trocas comerciais com outros bens e serviços que também são valorizados pelos consumidores.

De notar que o objectivo da tecnologia não é criar empregos, mas sim aumentar a produção e elevar os padrões da qualidade de vida. O aumento da qualidade de vida é conseguido através da produção mais barata de bens e serviços assim como de salários mais elevados resultantes do aumento da produtividade. O aumento do emprego é um efeito colateral.

Por redução ao absurdo, admitamos que o progresso tecnológico causa desemprego. Tendo este ocorrido de forma contínua desde o tempo em que o homem começou a produzir machados e lanças, o desemprego deveria ter vindo a aumentar continuamente desde então.

O facto é que o mundo tem hoje cerca de seis vezes mais população do que existia quando começou a revolução industrial. Sem o progresso tecnológico que se verificou desde então seria impossível que este planeta conseguisse suportar este volume de população. O futuro da humanidade certamente que dependerá da evolução e do progresso tecnológico.

Para terminar, fica aqui uma das muitas pérolas que se encontram pela Internet.



1 comentário:

vazelios disse...

Na Mouche Bernardo, bom artigo.

A historia do Friedman é das melhores que tenho ouvido!

Que lição!

Devia ser titulo dum capitulo sobre produtividade nos livros escolars de economia