domingo, 17 de março de 2013

Taxar depósitos é diferente de taxar qualquer outra coisa

Taxas património não é a mesma coisa do que taxar transações.
E taxar património imóvel não é a mesma coisa do que taxar património móvel.

Taxar património móvel, tipo, DINHEIRO fiat, é altamente arriscado, porque é muito flexível no seu modo de existir. Pode estar no banco, como podemos guardá-lo em casa; podemos trocá-lo por tudo o que quisermos, etc.
Taxar uma propriedade ou um carro é diferente, já que estes não se convertem em dinheiro de um momento para o outro, e muitos menos se transformam em qualquer outra coisa.
O dinheiro sim, tem essa capacidade de nos escorregar das mãos e transformar-se naquilo que nós quisermos.

Quando a UE decide taxar 6% e 10% a todos os depósitos bancários domiciliados no Chipre, está simplesmente a abusar da confiança que os depositantes "depositaram" nas instituições públicas que supostamente devem zelar pelo bem comum.
Abalos destas na confiança do sistema têm consequências, e estas não se farão esperar.

Sendo o bem taxado o dinheiro, a riqueza mais líquida que temos ao nosso dispor no planeta, facilmente começamos a movê-lo de instituições "sagradas" para outros locais, onde achamos que está mais bem protegido e/ou a trocá-lo por coisas que achamos mais difíceis de taxar/desvalorizar.

Estas são as dificuldades que se apresentam aos governantes que querem taxar a riqueza do pessoal sob a forma de dinheiro. Facilmente as decisões escorregam-lhes das mãos e perdem o controle da situação.

E se a opção dos europeus for retirar cada vez mais dinheiro dos bancos, mais frágil será a condição financeira destes, exigindo aos políticos que imponham ainda mais restrições aos levantamentos e aumentando a desconfiança das populações, criando as condições para uma espiral que ninguém sabe onde irá parar.

Taxar dinheiro aos depósitos bancários dos cipriotas reflete o desespero e o esgotamento de opções a que a UE já chegou. Vale tudo para se chegar a um compromisso naquelas reuniões longuíssimas em que já há mais gente a bocejar do que a refletir.

Ainda o parlamento cipriota não ratificou esta medida (vamos ver a cowboiada que isto vai dar) e já o Governador do Banco do Chipre deu ordens aos bancos para cativarem a percentagem relativa a cada conta. Eis a perda de soberania em todo o seu esplendor.

Como diria o falecido Mário Cesariny, mas a propósito dos automobilistas portugueses, entrámos na política do Que sa'Foda

Tiago Mestre

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