terça-feira, 7 de maio de 2013

Portugal volta a entrar no pelotão dos devedores cheios de qualidades

E o país rejubila por termos regressado aos mercados com maturidades a 10 anos.

É sinónimo de que a confiança dos investidores na dívida portuguesa está em alta (leia-se europeia), que (só por acaso) está totalmente segurada pelo BCE de Draghi.

A confiança traduz-se numa redução das taxas de juro, que já andam em valores baixos, muito baixos para um país com as contas de Portugal.

Sendo o juro da dívida portuguesa o preço do dinheiro a que o governo português tem que se sujeitar para o adquirir, na minha opinião, o preço justo de dinheiro a 10 anos não deveria andar na casa dos 5, 6 %.

Deveria estar lá bem mais em cima, na casa dos 9 a 10%. Isso sim, era o maior estímulo para que a austeridade se mantivesse e as contas batessem certo. Mas como a dívida é tão tão grande nos dias que correm, preços do dinheiro como aqueles que estou a sugerir são a bancarrota do Estado num estantinho.

A bancarrota até seria o cenário natural após tantos anos de formação artificial do preço do dinheiro para Portugal, mas enfim, a Europa não deixa e ninguém quer assumir os riscos de tal empreendimento.

O melhor mesmo é continuarmos a enganar-nos uns aos outros, referindo que Portugal está no bom caminho ao aceder a dívida de 10 anos exatamente pelo mesmo preço que nos levou a passar de 60 mil milhões para 204 mil milhões de dívida entre 2000 e 2012. A dívida é um veneno que cheira a canela.
Só podemos estar de parabéns.

Fico com curiosidade em saber até onde nos deveremos continuar a endividar. Para um PIB de 165 mil milhões estamos com uma dívida total de 700-750 mil milhões.

O que vos parece 850 mil milhões?
E 999 mil milhões?
Quiçá 1 bilião?

Tiago Mestre

3 comentários:

Pedro Miguel disse...

Tiago, sou levado a discordar em parte do que dizes.

Um juro "baixo" é condição necessária para o crescimento/recuperação e o crescimento/recuperação é condição necessária para o juro "baixo".
Com o preço que temos nas OTs a 10 anos, nem muito alto, nem muito baixo, sabemos que não podemos ser laxistas e por outro lado, sabemos que existe a condição necessária para melhorar.

Não é por pedir emprestado que a dívida vai aumentar, a dívida aumenta quando se gasta mais do que aquilo que se recebe.
Se a dívida existe e tem maturidades, é normal que se ainda há défice, seja preciso refinanciar quando essa dívida vence.

Um pequeno exercício... para estes títulos a 10 anos
Durante o dia de ontem, fomos buscar 3000 milhões a 5,669%.
Em 2011 fomos ao mercado por 599 milhões a 6,716%.
Em 2010 fomos buscar mais 686 milhões 6,738%.
É certo que esta taxa de 5,669% é ainda proibitiva, mas vamos imaginar que com parte desse dinheiro se refinanciam as operações citadas de 2010 e 2011. Há logo um ganho de 13 milhões no défice.
Eu sei que fomos buscar mais do que os pedidos citados de 2010 e 2011, também sei que há uma extensão de prazo pelo que vamos pagar mais juros no futuro, mas queria apenas fazer um exercício de retórica e demonstrar que o refinanciamento a juros mais baixos e prazos mais longos diminui o défice no curto prazo e aumenta a possibilidade de crescimento e descida de impostos.
Assim sendo, se a economia crescer a um ritmo visível, a taxa a que nos estamos a financiar acaba por ser um pouco indiferente.

Anónimo disse...

POIS O TIAGO TB DIZIA QUE AS CONTAS DO 3 TRIMESTRE IAM SER MUITO MÁS, SE CALHAR TB SE ENGANA NAS PREVISÕES COMO O GASPAR

Tiago Mestre disse...

Pedro, gosto do modo elegante como no fundo separas as coisas:
Dívida é uma coisa
Défice é outra
Juro atual para refinanciamento é outra, e por aí fora.

Suspeito que esta discriminação, reveladora de uma boa gestão das contas públicas, seja permanentemente contaminada pela pressão das decisões no imediato.

Se a nova dívida emitida fosse apenas para refinanciar empréstimos que vencem, enfim, a coisa até seria positiva, como referes. Pagaríamos menos juros e ajudaria a reduzir o défice.

Mas na perspetiva do comportamento humano, a minha perceção vai noutro sentido:
Juro baixo = estímulo para nos endividarmos AGORA, esquecendo défices, esquecendo dívida que vem de trás, enfim, esquecer tudo que é desagradável.

O Dan Arieli faz este exercício:

Preferes receber agora meia tablete de chocolate ou receber uma tablete inteira daqui a uma semana?
80% ou 90% das pessoas preferem receber agora meia tablete..

O estímulo é que comanda, e juro baixo significa que o custo de obter coisas JÁ recorrendo a empréstimo é preferível a só obter esse bem depois de poupar o dinheiro necessário.

Penso ser este o primeiro mote para que se gaste mais do que se recebe..

_________

Caro anónimo, sendo eu uma pessoa que se preocupa quando sugere coisas que depois dão errado, o escrutínio apurado desses mesmos exercícios por pessoas como tu só me ajudam a reforçar o sentimento de humildade e do reconhecimento que afinal somos tão só uma cambada de ignorantes sempre a fugir dessa condição primária.

Mas se o intuito é provocar-me e desacreditar os exercícios que faço e que mostro à comunidade aqui no Viriatos, esquece, é preferível malhar noutro maluco. Não me deixo provocar. Não respondo a tais considerações e nem sequer guardo ressentimentos de ninguém. É chover no molhado