domingo, 30 de junho de 2013

"Conversas Vadias" com o Agostinho da Silva - Episódio II

  
 Prof. Agostinho da Silva conversa com Adelino Gomes.


Adelino Gomes é um não crente e virou cego.

O mundo das coisas más reportado no quotidiano jornalístico tornou-o um desconfiado, impotente para distinguir a árvore do resto da floresta.

Agostinho responde como pode, enervado com tanta pergunta acintosa.

Uma alma perdida, impossibilitada de encontrar a ilha dos amores de Agostinho.


Tiago Mestre


sexta-feira, 28 de junho de 2013

Instituto Mises Brasil & Olavo de Carvalho

PODCAST 78 – OLAVO DE CARVALHO

Num passado recente, muitos liberais e libertários chegaram até as obras de Mises, especialmente ao livro Ação Humana, pelas referências elogiosas feitas em seus textos pelo filósofo Olavo de Carvalho. Em seu site, não é de hoje que Mises faz parte de uma selecionada galeria de homens de ideias identificados como seus gurus intelectuais (“Depois que você lê von Mises é que você percebe como os outros economistas são confusos”). Num texto publicado em 1988 na extinta revista República, Olavo afirmou que Mises talvez tenha sido o economista mais filosófico que já existiu. 

No Podcast do Instituto Mises Brasil desta semana, o filósofo explica qual é a dimensão filosófica e qual a grande virtude da obra de Mises, expõe as bases de sua crítica ao intervencionismo, comenta o problema da estrutura expansionista do poder a partir da tese de Bertrand de Jouvenel e, ao analisar a amplitude do estado moderno, apresenta um quadro que pode ajudar a entender uma parte das manifestações que tomaram as ruas do Brasil nas últimas duas semanas, muito embora a entrevista tenha sido gravada antes dos protestos. “Hermann Rauschning, em seu livro Revolução do Niilismo, diz que o estado moderno se tornou uma máquina tão abrangente e complexa que não haverá mais revoluções populares, só haverá revoluções desde cima. Isso é batata. Nos Estados Unidos, o Obama está fazendo uma revolução desde cima e o PT no Brasil está fazendo uma revolução desde cima. Primeiro eles tomam o poder por via legal, controlam todo o estado, e depois incitam a massa militante contra poderes locais. E o poder estatal cresce às custas dos poderes independentes locais. É sempre assim: elimina-se os poderes intermediários e centraliza-se tudo”. 

Olavo também apresenta a sua concepção de liberdade e defende a importância de uma ordem social para garanti-la, e disseca a ideia central do socialismo/comunismo, além de apontar os perigos e riscos ainda existentes pelo trabalho eficiente de seus representantes. “A ideia socialista tem que ser varrida da face da terra, tem que ser eliminada, como tantas outras ideias e teorias malucas que foram eliminadas. Hoje em dia quem é que vai defender seriamente uma ideologia racista? Não dá. Se o cara começa a defender racismo, já se sabe que é maluco. O socialismo tem que virar uma ideia diante da qual as pessoas vão rir no futuro”.




Capitalismo: sociedade individual ou sociedade familiar?


Tribunal de Contas chumba gestão da Faculdade de Arquitetura da UTL

O Tribunal de Contas fez um rastreio às contas e procedimentos da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa para o ano de 2010, e entre várias conclusões saltam estas mais à vista:

2.1.2 - 2 dos 5 membros do Conselho de Gestão autorizaram pagamentos, para os quais não tinham delegação de competências, tendo estes atos sido ratificados pelo Conselho de Gestão fora do prazo legalmente previsto

Suspeito que teve a ver com férias/ausência dos membros que tinham delegação de competências. Lá tentaram corrigir à posteriori, mas mesmo assim ainda conseguiram ultrapassar o prazo legal para o fazer. Pacífico

2.2.8 -
Custos e perdas: 11,4 milhões de euros
Proveitos e ganhos: 10,3 milhões de euros
Resultado: -1,139 milhões de euros
Prejuízo/Défice: 10%

Com um prejuízo destes, é necessário encontrar financiamento à bruta para pagar despesas, ou então não se pagam e fica-se a dever. Neste caso, parece que o principal lesado foi a Caixa Geral de aposentações, que ficou a arder com 622 mil euros. Lindo

2.5.1.1
Entre 2004 e 2010 pagaram-se 3,2 milhões de euros em subsídios de férias e de Natal a pessoas que trabalhavam sob a forma de avença.

Suspeito que era pessoal que trabalhava tal e qual como qualquer outro colaborador, do tipo horário das 09.00 às 17.00, respeitava hierarquia, e já agora, gozava férias e porque não, também auferia os subsídios.
Tais autorizações de pagamento só poderiam vir da direção da faculdade, que sabendo e sendo conivente com esta irregularidade laboral a que sujeitava os avençados, acabava por não ter a coragem de pôr as coisas direito, fazendo ainda pior:
Pagar subsídios que não deveriam ser pagos com dinheiro dos contribuintes e das propinas.
Mais uma

2.5.2 Dívidas à CGA
Só no ano de 2011 é que a Faculdade pagou à CGA as dívidas que tinha de 2010, ou seja, durante 2010 não entregou a TSU ao Estado e, imagine-se, reteve o dinheiro dos descontos dos trabalhadores, não os entregando ao Estado no dia 15 de cada mês como é sua obrigação.
E pelos vistos, a liquidação da dívida à CGA em 2011 parece que foi com dinheiro que estava exclusivamente consignado a projetos de investigação.
Mais uma

2.5.4.3
... A Faculdade omitiu 83.209€ ao TC respeitante a dívidas que tinha com fornecedores, comparativamente com o valor que constava como dívida a terceiros no seu balanço. Nada de grave.


Do ponto 33 até ao ponto 44:
Em todos eles, o TC investiga uma muy misteriosa ata nº4, a saber:

A ata nº4 do conselho de Gestão tinha como único ponto da ordem de trabalhos a aprovação da conta de gerência de 2009. Até aí tudo bem.
Mas em 2012, talvez no âmbito desta "investigação", o TC voltou a requerer esta mesma ata nº4, facto que a Faculdade prontamente diligenciou, contudo, ao comparar as duas atas, que deveriam ser exatamente iguais, o TC verificou que aquela enviada em 2012 continha um parágrafo adicional, escrito à mão:

"O CG (...) delega no Vice-Presidente da FA (...) a competência para autorizar despesa e na vogal (...) a competência para autorizar pagamentos (...) pretendendo " (...) ratificar todos os atos que no âmbito das competências delegadas tenham sido por eles praticados a partir da sua posse (...)"

A primeira conclusão do TC é logo esta no ponto 35:
Falsificação de documentos, previsto no art 257º do Código Penal. Só fica por saber a moldura penal !
Toma e vai buscar.

A faculdade teve direito ao contraditório, e eis a resposta de Sua Excelência o Presidente da Faculdade no ponto 37:

"(...) só na reunião de 7 de Julho de 2010, quando o Conselho de Gestão se preparava para aprovar a Ata da reunião de 20 de Maio de 2010, deu conta de que a Ata nº4 não tinha sido alterada de acordo com as indicações que havia transmitido ao secretariado (...) e resolveu acrescentar, à mão, o que havia sido efetivamente deliberado."

Enquanto transcrevo esta coisa não consigo parar de rir. Então vamos cá ver:

1. Supostamente discutiram na reunião de dia 20 a tal história de delegação de competências ao Vice e à Vogal, mas como o secretariado se "esqueceu" de redigir esta "piquena" decisão do CG à posteriori, resolveram escrevê-lo pelo próprio punho quando deram por falta dela na reunião seguinte, a 7 de Julho... problema resolvido.
2. E pelos vistos, o modus operandi é este:
1. O secretariado faz a ata antes das reuniões;
2. O Conselho de Gestão reúne, nem sequer olha para as atas e muito menos as assinam
3. A assinatura da ata far-se-á algures no futuro quando houver uma outra reunião.
Faz sentido?

E para justificar o lapso de se ter escrito a frase à mão, eis a semântica processual que faltava:

"(...) não houve qualquer intenção de adulterar o documento, muito menos de o falsificar, pelo contrário os membros do Conselho de Gestão agiram de boa-fé, tentando ultrapassar um erro que havia sido cometido. De forma naif ninguém se lembrou que a ata tinha seguido para o TC e que agora tinha passado a haver divergências entre a enviada ao TC e a que ficou na FA(...)."

Esta parte a loiça toda.

Andamos literalmente a brincar com o dinheiro dos contribuintes.
O Estado tem mesmo que encolher, e faculdades como esta, ou acabam, ou mudam de gestão.
Meter 10 milhões de euros por ano nas mãos deste pessoal é um risco demasiado grande.
Como os responsáveis não sentem o medo de ir parar à prisão por cometerem crimes de falsificação ou então ficarem com o seu património totalmente confiscado por insolvência da instituição (que é como eu me sinto caso a minha empresa for ao charco), o pessoal continua a cantar e a passear alegremente como se nada se passasse.

Deus os abençoe por serem naifs

Documento disponilizado pelo DN online aqui

Tiago Mestre

Os Viriatos respondem...


Por me, myself and i,


Portugal deve ficar no €?

Sim.
Portugal deve compreender a forma de estar do Bundesbak e perceber que esta é a melhor fórmula para evitar maus políticos ao serviço da gestão de um país. O € no cenário mundial é também uma moeda que permite o acesso a produtos e serviços a preços cada vez mais baixos.

Portugal deve renegociar o memorando da troika?

Não.
Aliás, todos nós já percebemos que foi um erro e um tempo perdido não se ter seguido o memorando à risca especialmente aquela parte que dizia que o ajustamento se faria em 2/3 pela despesa e 1/3 pela receita. O exemplo da austeridade feito nos países bálticos deveria servir como estímulo para o governo e para a troika em que as coisas funcionam quando se segue a estratégia correta.

Portugal deve reestruturar a sua dívida?

Sim. 
Após o cumprimento do memorando da troika e numa conversa aberta com os parceiros europeus pode ser analisada a melhor forma de abater parte da dívida ou seguir o mesmo molde do pagamento da dívida dos alemães no pós-guerra (prazos longos e condicionados ao crescimento e às exportações).


Como avalia a ação governativa?

Mediana.
Não é carne nem peixe. A missão do que temos para fazer é clara, mas a atitude política de alguns governantes teimam ainda em que é possível andar por aí apenas para ganhar tempo. Aprecio os ministros independentes que são os menos comprometidos com os interesses das corporações.

Como avalia a ação da oposição?

Deplorável.
É fácil de concluir que os nossos erros e vícios foram conquistados em bom nome do socialismo. Temos uma oposição de 2 partidos fossilizados que querem um neo-prec e um partido socialista que não percebeu os erros que cometeu. Parece-me que o Seguro foi “amaciado” no Bildberg para entrar no consenso mínimo e necessário para a reforma do estado.  


Qual a melhor forma de combater o desemprego?

- acabar com o salário mínimo
- acabar com a burocracia
- reduzir impostos


Qual acha que deveria ser o peso ideal no estado na economia?

20%.
O peso da intervenção no Estado na economia de um país precisa diminuir consideravelmente, e este é um caminho de sentido único para a sociedade ocidental de forma a garantir a liberdade e a prosperidade. Considero também que os limites da intervenção do Estado deviam estar previstos e amarrados à constituição para proteger a sociedade dos partidos e governos.

Acredita na via da austeridade?

Sim.
Foram anos de excessos. A austeridade é o encontro com a realidade e a correção dos vícios. A Europa só poderá sair mais forte se fizer tudo aquilo que há para fazer.


Acredita numa Europa Federal?

Não. 
Prefiro a Europa das nações à Europa Federal. Uma Europa onde cada país pode aprofundar as suas tradições e cultura e que sabe que tem à sua disposição um mercado livre é mais do que suficiente.   


Portugal tem futuro?


Sim.
Este é um momento delicado e até desesperador para muitos portugueses mas também é um bom momento para a reflexão. Temos de entender aquilo que somos enquanto nação e cada um deve procurar dar o melhor de si para preservar a tradição do ser português. Se cada cantinho de Portugal conseguir permanecer uma descoberta pela diferença na sua forma de estar continuaremos a ter então o melhor país do mundo para se viver.É importante também entender o papel dos milhões de portugueses espalhados pelo mundo e de todos aqueles milhões que também falam em português.



Ben desfalou...

Poucos dias passaram desde que Ben nos informou que estava a pensar reduzir o programa mensal de compras de ativos hipotecários e obrigações de tesouro, e desde aí que muita coisa aconteceu.

Com a queda abrupta de muitos mercados financeiros, quer nos países desenvolvidos como nos emergentes, Ben percebeu afinal que o vício está por demais enraizado e sem haver uma exit strategy, a coisa complica-se, e por conseguinte, 2 elementos da Reserva Federal já vieram a público esclarecer-nos de que essa redução não será aplicada nos próximos tempos.

Ok, fruto destes 2 comentários, fica a ideia de que Ben, na semana passada, aplicou aquela tática bem conhecida de "apalpar o terreno", na tentativa de perceber o que é que vem do outro lado, e se não vier coisa boa, podemos sempre desdizer o que dissemos, não só porque podemos como o que se disse originalmente é também muito vago:
"caso a economia recupere como estamos a prever, iniciaremos a redução do programa, senão, continuaremos".

Isto diz-nos quase tudo e o seu contrário, e portanto, agora cada um que adivinhe e faça o que achar melhor..

Tiago Mestre

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Está a espera de quê para entrar no mundo do Olavo?

  • Olavo de Carvalho Meu pai não era português, mas de família portuguesa. Quem veio de Portugal foi meu bisavô, mas me considero, para todos os efeitos, luso-brasileiro, e tenho muito orgulho do sangue português que corre nas minhas veias, herança bendita que recebi do povo mais valente da Terra.

                                                              http://www.olavodecarvalho.org


Em 2013, a austeridade fica-se pelo lado da receita

Vendo a síntese orçamental até Maio de 2013, salta-me a conclusão de que a austeridade este ano fica-se só pelo lado dos impostos. O corte de despesa está bastante bloqueado pelos motivos que todos sabemos, a saber:

Até Maio:

Despesa 2012: 25,2 mil milhões
Despesa 2013: 27 mil milhões
Agravou em quase 2 mil milhões

Receita 2012: 24,6 mil milhões
Receita 2013: 25,9 mil milhões
Aumentou 1,3 mil milhões a mais

Só vejo gente a comentar na televisão, incluindo Medina Carreira, de que a austeridade é muito forte, muito agressiva, que tem que ser mais leve. O governo errou, errou, falhou, falhou, etc, etc.
Inclusivamente todos querem mais tempo: 10 anos, por exemplo.
Nem se apercebem de que a correção que este governo começou a fazer vai a caminho dos 10 anos, e provavelmente não será suficiente.

O argumento mais frequente é que a economia deveria primeiro reestruturar-se e só depois é que o Estado deveria baixar a despesa e o défice. Os dois ao mesmo tempo é muito agressivo.
É quem é que sabe reestruturar a economia? Ideias sff..  Ninguém
E quanto tempo é que isso pode demorar? nepia
E que critérios é que é preciso atingir para definir que a economia já se reestruturou? oops
E que preço é que estamos dispostos a pagar para "tentar" reestruturar a economia primeiro e só depois resolver o problema do Estado? mantendo no entretanto uma estrutura de despesa pública que roça os 50% do PIB, um défice que dificilmente desceria dos 10 mil milhões e uma dívida que garantidamente subiria 10 mil milhões ao ano até a economia estar reestruturada...

Anda tudo a falar e a escrever acerca de realidades que desconhece em absoluto, tentando convencer o povo de que há ferramentas para o fazer, como por exemplo, dar mais crédito, estimular as PME's, etc, etc

Os críticos da política do governo, na ânsia de se ouvirem e de serem ouvidos, esqueceram-se de olhar para os números, e nem se aperceberam que o governo está a fazer exatamente aquilo que eles defendem:

Aliviar a austeridade, e MUITO;
Promover facilidades no acesso ao crédito, QREN's, etc, etc

Com o recuo da austeridade e com a implementação das "políticas" de crescimento usando as tais ferramentas de crescimento, vou ficar agora sentadinho à espera que a economia se reestruture "a bem".

Por total desconhecimento do mercado e do mundo dos negócios, há muita gente que acha que sabe como resolver os problemas da economia para voltá-la a pôr a crescer, quando nem sequer problemas são na sua essência, quanto mais aplicar remédios recorrendo a esta ou aquela ferramenta.

Tiago Mestre

Vai uma equidade à moda dos privados?

no DN

É melhor viver num mundo naturalmente desigual do que na igualdade artificial e perversa prometida pelo socialismo...



Hakuna Matata

A visita de Obama à África do Sul motiva críticas por o presidente fazer dela excursão familiar. Além da mulher e filhas, ele levou no Air Force One a sogra, Marian Robinson, e a sobrinha, Leslie. A viagem oficial custa 77 milhões de euros e inclui atiradores especiais para intervir num safari, caso alguma fera ameace as personalidades.

aqui


Hakuna Matata é uma frase do idioma suaíle, uma língua falada na África oriental, que significa "sem problemas" ou "não se preocupe". A frase é muito utilizada em países como a Tanzânia e o  Quênia. 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

The enemy


Vencem os sindicatos, perdem os contribuintes

"A Administração Pública está capturada por corporações - professores, médicos... -, que não produzem o suficiente para justificar o que custam aos contribuintes. Por isto, as contas do Estado foram acumulando défice e dívida e o País acabou nas mãos da ‘troika' e a sofrer com as medidas de austeridade. Infelizmente, ainda não foi suficiente para mudar as mentalidades. Há corporações que recusam a mudança. Querem os direitos do passado quando já não há quem os sustente. A crise está muito longe do fim."
Bruno Proença

Esquerdopatia III

Deputados de Taiwan brigam por causa de impostos


Deputados de Taiwan brigam por causa de impostos
Fotografia © Reuters
Puxões de cabelos, arranhões e água a voar. Foi desta forma que os deputados do partido no poder em Taiwan tentaram evitar que os da oposição tomassem a palavra e revogassem um imposto sobre os ganhos de capital.
Segundo a BBC, o imposto sobre transações na bolsa foi aprovado no ano passado pelo Kuomintang (no poder) e entrou em vigor em janeiro. Contudo, os grandes grupos económicos são contra o imposto, e a oposição está a tentar revogá-lo.


terça-feira, 25 de junho de 2013

Esquerdopatia II



Uma boa troca de ideias

Aconteceu aqui

João da Silva 25/06/2013 13:56:35
Era capaz de jurar que estava a ler um retrato social e económico mas de Portugal. A situação por cá é praticamente igual. Deve ter sido uma herança que Portugal deixou ao Brasil. Só pode. Excelente artigo.
RESPONDER
Leandro 25/06/2013 14:50:08
Prezado João, creia-me, Portugal está muito melhor do que o Brasil. Anualmente, passo alguns dias em Lisboa. Sempre fico impressionado com a ordem, com a segurança e com a ampla variedade de bens e serviços ofertados a preços extremamente baixos.

Vocês têm uma moeda forte, não têm problema nenhum com inflação de preços (o restaurante em que sempre almoço no Chiado está com os mesmos preços de dois anos atrás) e têm acesso a bens importados a tarifas praticamente nulas. Os carros que circulam em Lisboa são mais elegantes e mais bem equipados do que a frota de São Paulo, a cidade mais rica do país.

Suas universidades ainda são decentes e os debates que nelas ocorrem -- a se julgar pelas publicações acadêmicas -- são infinitamente superiores aos das universidades brasileiras.

Sim, há um problema com o desemprego em Portugal, mas isso é culpa das leis trabalhistas e da carga tributária. Em país de moeda forte, não há impunidade para uma carga tributária alta e para burocracias intransigentes: elas geram desemprego, pois não há expansão monetária capaz de arrefecer estes empecilhos. Esse é o efeito colateral de se ter uma moeda pouco inflacionada, com alto poder de compra.

A coisa no Brasil está tão ruim, que estou até (e eu nunca imaginei que fosse dizer isso) me tornando simpático à União Europeia e suas leis: aí na Europa, nenhum governo tem autonomia para impor tarifas protecionistas e fechar seu mercado para proteger suas empresas favoritas, algo totalmente cotidiano aqui no Brasil. Se, por exemplo, o governo italiano quiser proteger a FIAT encarecendo a importação de carros alemães, a União Europeia o proíbe de fazer isso. Ele não tem essa autonomia. Aqui no Brasil, haver um mecanismo semelhante que amarrasse as mãos do governo federal desta forma seria um sonho.

Creia-me: vocês estão bem.

Abraços!
RESPONDER
Anônimo 25/06/2013 14:59:12
Leandro, poderia explicar melhor este parágrafo:

"Sim, há um problema com o desemprego em Portugal, mas isso é culpa das leis trabalhistas e da carga tributária. Em país de moeda forte, não há impunidade para uma carga tributária alta e para burocracias intransigentes: elas geram desemprego, pois não há expansão monetária capaz de arrefecer estes empecilhos. Esse é o efeito colateral de se ter uma moeda pouco inflacionada, com alto poder de compra."

Se não houver problemas, claro.
RESPONDER

Leandro 25/06/2013 15:12:53
Anônimo, isso foi explicado em mais detalhes neste artigo, mas posso abreviar.

Para se ter uma moeda forte você não pode inflacionar a oferta monetária continuamente. Ou seja, a oferta monetária tem de crescer pouco. Se a oferta monetária cresce pouco -- isto é, se a inflação monetária é baixa --, sua renda nominal também cresce pouco. Sendo assim, é difícil você conseguir fazer com que os custos da contratação da mão-de-obra sejam artificialmente barateados pela maior oferta monetária.

Imagine -- para pegar um exemplo extremo -- uma economia em que a quantidade de dinheiro fosse rigidamente fixa. Nesta economia, se o governo fosse elevando impostos continuamente, fosse aumentando o valor do salário mínimo e fosse criando cada vez mais regulamentações que encarecessem a mão-de-obra, haveria um momento em que você teria simplesmente de demitir pessoas e parar de contratar outras, pois os seus custos só aumentam ao passo que sua renda nominal está estagnada (pois a quantidade de dinheiro na economia está congelada).

Esse é o raciocínio.

Abraços!

Esquerdopatia

Fenómeno mental que atinge todos aqueles que dizem (inconscientemente) que são contra o estado a corrupção, burocracia e impostos asfixiantes e depois reclamam ao mesmo tempo (conscientemente) por mais benesses do estado, mais educação, mais saúde, mais direitos adquiridos...

Depois há surtos de loucuras como este caso:

Salários dos docentes portugueses subiram mais que a média europeia entre 2005 e 2011



Salários dos docentes portugueses subiram mais que a média europeia entre 2005 e 2011

Veja aqui o vídeo: http://bit.ly/11XQhI9
                   Veja aqui o vídeo: http://bit.ly/11XQhI9

Um estágio onde se perde a noção da realidade (e não conseguem perceber porque ficaram falidos).

Trata-se pois de uma patologia grave que pode colocar em causa o bom funcionamento de toda uma sociedade.



Dez impressões sobre o Brasil

Por João Pereira Coutinho,


1. Raramente escrevo sobre o Brasil no Brasil. Questão de cortesia. Sou convidado do país e um convidado não critica os anfitriões. Exceto quando os anfitriões deixam de ser assunto doméstico e viram fenômeno internacional.

2. Ironia. Quinze dias atrás gravei um podcast para esta Folha no qual dizia: as grandes rebeliões da história começam quase sempre por episódios anedóticos. A minha atenção estava na Turquia e na ambição de Erdogan em arrasar com um parque em Istambul para construir um shopping. Deu no que deu.

Quando debitava estas sábias linhas, nem reparei que São Paulo marchava contra aumentos nos transportes. Deu no que deu.

3. Historicamente, o melhor exemplo de um episódio anedótico que precipitou uma revolução encontra-se nos Estados Unidos. No século 18, os colonos americanos não desejavam "criar" um país. Queriam, mais modestamente, não pagar impostos à metrópole britânica, uma vez que não estavam representados no Parlamento de Londres ("no taxation without representation"). Foi a intransigência do rei inglês que mudou a história moderna.

4. Dilma parece ter alguma intuição histórica (ou será apenas bom senso?) ao não ter subido a parada da repressão. Sobretudo quando se confrontou com as consequências desastrosas das primeiras investidas policiais. Um gesto inteligente que distingue o Brasil do autoritarismo turco.

5. Dilma discursa ao país. Promete escutar todo mundo, investir mais em educação, importar médicos etc. Mas o que pensam os brasileiros quando a presidente nada diz sobre o "pibinho pequenininho", a inflação que não desce, a queda do investimento (sobretudo estrangeiro), a perda de competitividade [continua].

6. Portugal construiu dez estádios "padrão Fifa" para a Eurocopa de 2004. Sete anos depois o país estava falido. A Grécia cometeu iguais loucuras para as Olimpíadas do mesmo ano. Teve a honra de falir primeiro. Lição? Grandes acontecimentos desportivos nem sempre dão o retorno esperado.

7. Comparações entre o Brasil e a Europa não funcionam? Duvido. Começo pela economia: o desastre português não se deveu apenas aos dez fatídicos estádios, que na sua maioria hoje apodrecem ao sol.

Começou com a pior combinação econômica possível: juros baixos (com o euro), endividamento explosivo (Estado, empresas, famílias) e, golpe de misericórdia, crescimento econômico medíocre (uma década perdida abaixo de 1%). Soa familiar?

8. Na crise europeia, existe um bloqueio político evidente: as populações não confiam nos governos, mas também não confiam nas oposições. Assim é na Grécia, em Portugal - e, claro, na Itália, que quase elegeu um comediante (Beppe Grillo, não Berlusconi). E no Brasil?
Suspeito que exista o mesmo bloqueio. O PT, tradicionalmente a voz de protesto do sistema, é hoje governo. Donde, quem é a voz de protesto? Quem não acredita no governo, normalmente acredita na alternativa ao governo. Donde, onde está a alternativa?

9. Escrevo um diário desde os 16 anos. Procurei páginas passadas das minhas viagens pelo Brasil. Reli-as. Pergunta recorrente: como é possível às elites conviverem tranquilamente com a pobreza em volta?

Para certos espíritos, essa pergunta não é própria da "direita". Erro crasso. Não há nada que um conservador mais tema do que situações potencialmente revolucionárias. E a melhor forma de as evitar é seguir o velho conselho de Edmund Burke: para que o nosso país seja amado é também preciso que ele seja amável.

10. Revoluções. Regresso aos Estados Unidos. A guerra da independência não gerou apenas um país. Uma das consequências da guerra foi a ruína financeira da França, que apoiou os colonos. Essa ruína seria uma das causas da Revolução de 1789.

Mas existe outro legado revolucionário que os estudiosos tendem a esquecer: os intelectuais e os soldados gauleses que participaram na guerra viram no exemplo americano a medida da sua frustração caseira. Por isso, pergunto: quantos daqueles milhares de brasileiros que tomaram pacificamente as ruas não estudaram, trabalharam ou simplesmente se informaram sobre o mundo exterior?

É fácil aceitar a desigualdade, a corrupção e a insegurança quando não existem termos de comparação. Uma classe média mais fluente e afluente começa a fazer comparações. Brindo a isso.


A poeira da manifestação ainda não assentou...

e a campanha já está no ar!


PT já tem campanha pronta da reforma política, com cartazes e cartilhas, para transformar o Brasil em mais uma república socialista.

Tudo preparado bem antes da Dilma anunciar, como anunciou nesta segunda-feira, que iria propor a reforma e um plebiscito. 







Caos e estratégia


Por Olavo de Carvalho,

Nossos liberais e conservadores lêem Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek e, vendo que eles tratam o marxismo como uma pseudo-ciência econômica, concluem alegremente que ele não vale nada, não merece maior atenção. Acontece que o marxismo enquanto ciência e técnica da ação revolucionária não depende em nada da “base econômica” que nominalmente o sustenta. 


Essa ciência e essa técnica são de uma exatidão assustadora e não podem ser compreendidas só com a leitura dos “pais fundadores” do movimento ou com a da sua crítica liberal: requer o acompanhamento de toda uma evolução do pensamento estratégico marxista, que começa com Marx e se prolonga até Saul Alinsky e Ernesto Laclau. Este último, invertendo a fórmula clássica das relações entre “infra-estrutura” e “super-estrutura”, propõe abertamente a tese de que a propaganda revolucionária cria livremente a classe da qual em seguida se denominará representante. Maior independência de toda “base econômica” não se poderia conceber. Aqueles que imaginam ter dado cabo do marxismo tão logo refutaram seus princípios econômicos se acreditam muito realistas, porque eles próprios são crentes devotos da “base econômica” do acontecer político, a qual os próprios marxistas já superaram há muito tempo. O marxismo deve ser estudado, em primeiro lugar, como uma “cultura”, no sentido antropológico do termo. Remeto os interessados a três artigos em que resumo o que penso a respeito :

http://www.olavodecarvalho.org/semana/031218jt.htm

http://www.olavodecarvalho.org/semana/040101jt.htm 

http://www.olavodecarvalho.org/semana/040108jt.htm

Em segundo lugar, deve ser estudado como ciência e técnica da ação revolucionária, da intervenção ativa da elite revolucionária na sociedade e na história. Essa ciência é tão veraz, e a técnica que nela se arraiga é tão eficiente, que delas resulta este fato, tão fundamental entre todos e tão solenemente ignorado pelos críticos do marxismo: há pelo menos um século e meio o comunismo é o único – repito: o único – movimento político organizado unitariamente em escala mundial e dotado de uma consciência clara da sua continuidade, bem como das suas metamorfoses estratégicas. Todos os seus pretensos adversários e concorrentes são fenômenos locais, inconexos e passageiros, espalhados no tempo e no espaço como grãos de poeira soltos no vento, incapazes não só de fazer face ao rolo compressor do movimento comunista, mas até de enxergá-lo como um todo.

Sem nenhuma presunção de expor aqui o fenômeno no seu conjunto, mas raciocinando antes em função exclusiva dos últimos acontecimentos no Brasil, destaco adiante alguns pontos que, se não forem levados em conta, tornarão inviável qualquer tentativa de compreender os lances mais recentes da história continental e nacional.


O primeiro desses pontos é o seguinte: nenhuma ação comunista tem jamais – repito: jamais – um objetivo único e linear. Todas as decisões do comando estratégico comunista são sempre de natureza dialética e experimental. De um lado, jogam sempre com uma multiplicidade de forças em conflito, não interferindo jamais no quadro antes de ter uma visão bem clara das contradições em jogo e dos múltiplos sentidos em que elas podem ser trabalhadas. Sob esse aspecto, o pensamento marxista não mudou muito desde o começo. 


Apenas aprimorou formidavelmente a sua visão das contradições, integrando no seu retrato mental da sociedade inúmeros tipos de conflitos novos que ou não existiam no tempo de Marx ou ele não julgou relevantes; por exemplo, o conflito entre os impulsos sexuais e a ordem social, ou entre pais e filhos. De outro lado, a essa visão dialética cada vez mais sutil e aprimorada o marxismo acrescenta o caráter experimental e não dogmático de todas as suas decisões e ações estratégicas. A articulação de dialética e experimentalismo permite que as ações do movimento comunista se beneficiem, por um lado, de uma multiplicidade de direções simultâneas que desnorteiam o adversário, e, por outro, de uma capacidade de agir por avanços e recuos mediante contínuas e não raro velocíssimas mudanças de rumo. 

Quem quer que, ao analisar a recente explosão de protestos, concentre sua atenção nas reivindicações nominais – redução das tarifas de transporte público, “mais educação”, “mais saúde” etc. – para discutir sua justiça e viabilidade já prova, só nisso, sua total incompetência para lidar com o assunto. Mas quem quer que, furando essa primeira barreira de aparências, procure encontrar por trás delas um objetivo determinado e único que explique o conjunto, se engana talvez ainda mais desastrosamente.


Se os protestos têm um objetivo político determinado, este só é definido, na mente dos seus planejadores estratégicos maiores, em termos muito gerais e vagos. Gerais e vagos o bastante para admitir, a cada momento, novas e – para o adversário – imprevistas mudanças de rumo.


Tomando como ponto de partida o fato de que “o movimento” teve como seus criadores e mentores o Foro de São Paulo e a elite globalista condensada simbolicamente na pessoa do sr. George Soros, o seu objetivo geral já foi declarado muito antes de que o movimento eclodisse e não requer nenhum esforço especial de interpretação. Trata-se, em resumo, de encerrar a fase “de transição” e partir para a “ruptura” ou destruição ativa de um “sistema” já cambaleante e debilitado pela onipresente “ocupação de espaços”. Os slogans escolhidos para instigar a massa não têm, em si, a mais mínima importância. Podem ser trocados a qualquer momento, conforme o rumo que as coisas vão tomando. A técnica da mutação também não é rígida, mas adapta-se velozmente a uma conjuntura em constante transformação; transformação que o próprio movimento acelera por sua vez. Não se trata, portanto, de alcançar este ou aquele objetivo concreto em particular, mas de operar com um leque de possibilidades em aberto e conservar, na medida do possível, algum controle do conjunto.


Essas possibilidades são exploradas simultaneamente e, conforme uma ou outra se revele mais viável ou mais problemática, será intensificada ou refreada pelo comando do processo. As mais importantes, a meu ver, são as seguintes:


(a) Trocar a própria liderança visível da esquerda, substituindo os agentes da “transição” pelos agentes da “ruptura”, decididos a ações mais drásticas.
(b) Espalhar o caos para justificar medidas de força, aproveitando para, no mesmo ato, testar os “agentes de transição”: se conseguirem controlar repressivamente a situação e aumentar o poder do grupo dominante, sobreviverão; caso contrário, serão trocados.
(c) Incitar à ação pública as forças antagônicas (cristãos, patriotas, conservadores etc.), para mapeá-las e averiguar as possibilidades de controlá-las ou extingui-las.
(d) Caso a evolução do movimento se mostre majoritariamente favorável aos objetivos dos planejadores, fomentá-lo ainda mais para que a própria ação da militância enragée adquira autonomia e conquiste autoridade por si própria, transmutando-se em nova estrutura de governo.


Esta possibilidade, a mais ostensivamente “revolucionária”,.parece já ter sido excluída, na medida em que as forças antagônicas, malgrado sua total desorganização e ausência de comando, se mesclaram ao movimento, ocuparam as praças públicas e acabaram, em certos casos, por acuar e sobrepujar a militância esquerdista.


O próprio comando da esquerda militante ordenou que as manifestações cessassem, o que imediatamente deixa o campo livre para as massas antagônicas e favorece, ipso facto, a adoção da via repressiva para estrangular a ameaça de um “golpe teocrático e fascista”. Se esse estrangulamento tomará a forma de uma repressão policial violenta ou de um simples incremento do aparato de investigação e controle social, é cedo para dizer. 


O detalhe mais importante, aí, é que as forças antagônicas se constituem exclusivamente de massas amorfas e desorganizadas, sem o mais mínimo comando estratégico e até sem aquelas figuras de heróis improvisados que um erro terminológico denomina “líderes”, quando o certo seria chamá-los apenas de “símbolos aglutinadores”. Essa massa é numericamente superior, seja à militância organizada do Foro de São Paulo, seja às tropas de arruaceiros subsidiadas pelo sr. George Soros. Sua presença nas ruas, bem como a vaia multitudinária que despejou sobre a presidenta Dilma Rousseff, são, no sentido mais estrito do termo, explosões espontâneas e anárquicas no mais alto grau, contrastando, nisso, com a ação bem planejada dos militantes do outro lado, que ocupam o espaço público armadas de instruções precisas, de slogans bem ensaiados (em Brasília, viu-se até o texto de uma convocatória inteira recitado em côro pela multidão). Desse modo, o que se viu nas ruas não foi uma competição entre forças de um mesmo gênero – duas militâncias, duas ideologias, duas forças políticas –, mas entre dois tipos de multidão radicalmente hete
rogêneos: a massa e a militância, a revolta confusa e a ação premeditada.


Quem não levar em conta esses fatores não entenderá absolutamente nada do que está acontecendo e estará privado até da mera possibilidade teórica de uma ação consequente.


segunda-feira, 24 de junho de 2013

A vida por um fio

Com o que está a acontecer nos mercados financeiros mundiais, fica bem patente o manipulação que os bancos centrais exercem à escala mundial.
Até há semana passada, bad news eram good news, e good news também eram good news, porquê?
Porque já se sabia que quanto pior a economia, maior o estímulo da Fed e dos restantes bancos centrais.

Bastou Ben afirmar de que estaria a pensar em retirar os 85 mil milhões mensais de aquisição de ativos para que as bad news voltassem a ser interpretadas como... bad news.

Peter Schiff não acredita que Ben retire o estímulo. Porquê?
Porque as previsões de crescimento da economia calculados pela FED costumam dar errado, e portanto desta vez não será diferente.
Tudo terá que ser revisto brevemente, voltando os estímulos em força.

Quero acreditar que Ben irá mesmo retirar este estímulo, criando um precedente para os restantes bancos centrais, sobretudo o japonês.

E tenho a consciência que a retirada destes estímulos, com ou sem exit strategy, provocará muitos colapsos financeiros pelo mundo inteiro, mas quanto mais tarde se fizer, pior.

O paciente está demasiado drogado, e quer se opte pela recuperação ou pelo agravamento da dose, em ambos os casos a vida dele está por um fio.

Tiago Mestre

Criou um império graças a imensos financiamentos do governo brasileiro

Quando o bilionário brasileiro Eike Batista foi entrevistado no programa de Charlie Rose, em 2010, ele e seu país estavam em ótima fase.

A economia brasileira, estimulada pelo boom mundial das commodities, cresceu escaldantes 7,5% naquele ano. E os prodigiosos empreendimentos de Batista --estendendo-se do petróleo à mineração, navios e imóveis-- estavam disparando em valor.

Na entrevista, perguntado sobre qual seria seu patrimônio dentro de uma década, Batista respondeu: "US$ 100 bilhões", quantia que faria dele o homem mais rico do mundo.
Hoje, com a bolsa e o câmbio brasileiro em queda e manifestações de massa paralisando o país, os bilhões de Batista estão evaporando.

De um pico de US$ 34,5 bilhões em março de 2012, seu patrimônio caiu a um valor estimado em US$ 4,8 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
Os credores de Batista começam a se preocupar, e há quem antecipe que ele tenha de reorganizar seu império em contração --e no processo talvez perca o controle de suas empresas.

A ascensão e queda desse carismático industrial espelha a súbita reversão nas fortunas brasileiras. Depois de anos de expansão econômica, o país sul-americano começa a ratear.
A inflação se tornou preocupação grave. O índice da bolsa de valores brasileira caiu em 23% este ano, a maior queda entre os países grandes.

Este mês, a agência de classificação de crédito Standard & Poor's adotou perspectiva negativa quanto à classificação dos títulos brasileiros, mencionando a desaceleração do crescimento e uma situação financeira debilitada.

PROTESTOS

E há também os protestos de rua que se espalham pelo Brasil, chocando a elite política e empresarial. Com surtos de violência, os protestos, causados inicialmente por um aumento nas passagens de ônibus, cresceram e se tornaram um questionamento geral das prioridades do governo.

Os protestos abalaram diversas cidades no final de semana, com intensidade um pouco menor do que em dias anteriores, e os organizadores prometeram nova rodada de manifestações nos próximos dias.

O conglomerado de Batista, até recentemente um emblema da pujança industrial brasileira, está entre as prioridades governamentais que agora estão sendo questionadas, tendo recebido mais de US$ 4 bilhões em empréstimos e investimento do BNDES, o banco nacional de desenvolvimento.

Embora o foco da ira dos manifestantes não seja a elite do país, há crescente ressentimento pelo fato de que as estruturas governamentais brasileiras sujeitas à corrupção em nada mudaram durante o longo boom econômico, com as autoridades canalizando imensos recursos estatais para projetos controlados por magnatas.
Os manifestantes dirigiram boa parte de sua ira aos líderes políticos, alguns dos quais próximos a Batista, como o governador do Rio de Janeiro, Sério Cabral, que ocasionalmente usa o jatinho do empresário e agora enfrenta manifestantes acampados diante de sua casa.

"Eike Batista criou um império graças a imensos financiamentos do governo brasileiro", diz Carlos Lessa, economista e antigo presidente do BNDES.

"Mas sua explosão de riqueza e proeminência no cenário mundial veio envolta em riscos, como o governo e os investidores estão descobrindo agora."

INVESTIDORES

Batista construiu sua fortuna convencendo investidores quanto ao potencial do Brasil, formando companhias que se beneficiariam dos ricos campos petroleiros, vastos recursos minerais e classe média rapidamente crescente do país.

Mas ao longo dos últimos 12 meses, os investidores nas seis empresas de capital aberto controladas por Batista --todas as quais deficitárias-- despejaram suas ações no mercado, em meio a projeções decepcionantes, prazos descumpridos e uma pesada carga de dívidas.
"Ele empacotou e vendeu vento", diz Miriam Leitão, historiadora econômica e colunista do jornal "O Globo", um dos maiores diários brasileiros. "A euforia iludiu muita gente."

Agora, Batista está despejando ativos no mercado para levantar capital.

Em abril, ele vendeu uma grande participação acionária em sua companhia de energia. Colocou à venda seu jato privado, um Embraer Legacy 600, por US$ 26 milhões. Está em busca de sócios para o histórico Hotel Glória, no Rio de Janeiro, que ele adquiriu em 2008 e cuja renovação deveria estar pronta em tempo para a Copa do Mundo de 2014, mas enfrenta sérios atrasos.

No domingo, o jornal Folha de S. Paulo reportou um calote de US$ 200 milhões da construtora de projetos offshore de Batista, OSX, contra a construtora espanhola Acciona.
Um porta-voz de Batista contestou a reportagem, alegando que a OSX estava negociando com a Acciona quanto a suas "obrigações".

Em comunicado, Batista rejeitou as especulações de que seu império empresarial pode estar a caminho do colapso.

Referindo-se à recente venda de ações da OGX, companhia petroleira e principal empresa de seu grupo, ele definiu a transação como "um ajuste mínimo e oportuno", relacionado à "redução do custo da dívida entre os credores".

A transação erodiu a confiança dos investidores, e Batista enfatizou que não tinha planos de repeti-la.