domingo, 23 de junho de 2013

Os Viriatos respondem...


Por Bernardo Botelho Moniz,



Portugal deve ficar no €?
Sim, mas apenas na condição de que o euro continue a ser uma moeda relativamente forte, como a que é hoje, sem ser enormemente desvalorizada, como era o escudo nos anos 70. Caso as pressões de certos países, como Itália, Espanha, nós e até a França alcancem sucesso no sentido de desvalorizar o euro, acho que deveríamos sair e instaurar moeda própria. O problema é que nós nunca conseguimos refrear o desejo da desvalorização, daí a que pense que a manutenção do euro seja a melhor opção e, melhor ainda, desde que a Alemanha permaneça, pois (e ponho as mãos no fogo) os alemães não permitirão a desvalorização do euro. A não ser que a Alemanha saísse e aí, considero eu, todos os portugueses estariam tramados.

Portugal deve renegociar o memorando da troika?

Caso essa renegociação impere nos juros e nos prazos de pagamento, não aponto qualquer objeção. Caso essa renegociação seja feita pelo lado das metas de défice e dívida, aponto todas as objeções. Aliás, o ajustamento que atravessamos neste momento, a nível de metas de défice e de dívida está a deixar muito a desejar. Não digo que a culpa seja inteiramente do governo, há fatores exógenos, como o Tribunal Constitucional que contribuíram para esta situação. Temos de uma vez por todas começar a ter superávits para pagar a dívida, para não deixarmos aos nossos filhos tamanha injustiça inter-geracional. 


Portugal deve reestruturar a sua dívida?

A princípio, diria que deveríamos evitar ao máximo esta opção de modo a credibilizar tanto quanto possível a nossa economia aos investidores externos. No momento atual, em que a dívida pública "roça" os 130% do PIB, será quase inevitável esta opção, ainda que todos saibamos o que custa em termos de credibilidade. Poderíamos e acho que seria a melhor opção, que seria indexar por exemplo 30% da nossa dívida pública ao aumento das exportações como fez a Alemanha no pós-guerra. 


Como avalia a ação governativa?

Face a todos os constrangimentos, afirmo que este foi o nosso melhor governo desde o 25 de Abril. Não estou como isto a dizer que é um ótimo governo... Estou a dizer que os outros foram absolutamente péssimos e este roça o nível de "Bom". Há certos ministros que deixaram, contudo, a desejar: Assunção Cristas, que deveria abolir de forma progressiva muito da burocracia do seu Ministério e, está ainda por resolver. Álvaro Santos Pereira, idem, ainda que considere que seja dos melhores ministros, ao contrário do que se dizia há 1 ano, que era o mais remodelável de todos. Já se deveria proceder há total eliminação do IRC, e aumentar ligeiramente o IRS ao nível dos dividendos, para compensar em parte essa perda de receita. Era burocracia que se acabava para as empresas, para o Estado e os acionistas continuariam a pagar imposto em sede de IRS. 


Como avalia a ação da oposição?

Nem comento.


Qual a melhor forma de combater o desemprego?

Acabem lá com essa teoria das obras públicas produzirem emprego. O desemprego reduz-se com investimento privado, e neste momento, com investimento estrangeiro acima de tudo. Diminuição de impostos e de burocracia pode ser um começo.


Qual acha que deveria ser o peso ideal no estado na economia?

É relativo. Que o Estado tem em seu poder segurança e justiça, tudo bem. Educação em parte para garantir que os que menos têm, tenham possibilidade de ascender socialmente. Saúde e segurança social nem pensar. As pessoas que poupem e apliquem os rendimentos onde quiserem e bem entenderem para a sua velhice. Já se demonstrou que ter as pensões no Estado não é menos seguro nem comporta um risco menor, muito pelo contrário, está até à mercê dos efeitos da demografia e da alteração dos termos do contrato unilateralmente por uma das partes (Estado). Digamos que 20% a 25% era o limite máximo que eu suportaria...


Acredita na via da austeridade?

A via da austeridade é a única verdadeira via para uma economia mais próspera. A via da austeridade e da poupança. Esqueçam lá esse caminho do crescimento. Se esse caminho resultasse, em 39 anos de défices deveríamos ser o país mais rico do mundo e não somos...


Acredita numa Europa Federal?

Acredito numa Europa unida economicamente unida mas não culturalmente. Não esquecer que o que a Europa é hoje é devido à existência de uma grande diversidade de povos num espaço tão pequeno. Foi isso que nos fez grandes, foi a concorrência entre os diferentes povos que nos fez sermos o grande continente que ainda somos. Pensar que um dia seremos um grande país federal como os EUA ou o Brasil é ridículo, ainda por cima tendo em conta a desconfiança que existe entre os vários países... os franceses desconfiam dos alemães, os alemães desconfiam dos franceses e dos ingleses, os ingleses desconfiam de todos, nós e os gregos desconfiamos dos alemães e dos holandeses, os italianos desconfiam dos franceses, os polacos temem os alemães, os austríacos desconfiam de todos os do sul... acham mesmo que isto vai dar bom resultado? Acham que os americanos do Texas têm esta aversão aos californianos ou que os do Arizona desfiam desta maneira dos da Virgínia? Nem por sombras. A Europa Federal é um sonho inventado por socialistas para aumentar impostos a todos de forma generalizada. Esta é, porventura, a melhor definição que posso dar da Europa Federal. Já me fartei de ver socialistas a apelar por uma harmonização das cargas fiscais na Europa. Há partida, nada contra, se fosse para baixar as cargas fiscais elevadas e aproximá-las das mais baixas. Mas o que eles realmente querem é equalizar as baixas cargas fiscais com as mais elevadas. É isto que está por detrás do sonho da Europa Federal.


Portugal tem futuro?

Se eu achasse que isto não tem futuro, já tinha emigrado. Claro que temos futuro. Falo por experiência própria: somos dos povos mais inteligentes do mundo, não os mais trabalhadores ou organizados, ainda que se o quisermos possamos ser, mas acreditem que somos bastante mais inteligentes que qualquer povo nórdico ou germânico. Temos uma localização geográfica espetacular, ainda que todos os dias nos digam o oposto... nós somos a entrada da Europa para países como o Brasil, Colômbia, Panamá (que está a crescer a uns incríveis 10%), México (muita atenção ao México, é a próxima potência emergente da América; o Brasil é passado (respeito os brasileiros, tenho amigos brasileiros, mas o que se passa no Brasil é o início do declínio depois da festarola socialista), Chile, Perú, ... Basta querer e poder! Temos possibilidade de ser dos países mais ricos da Europa se quisermos, basta diminuir o peso do Estado. 


2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post,ideias claras e bem explicitadas.Concordo com quase tudo mas há dois pontos que a minha visão empírica e observadora da economia real me dá força para o contestar :1º -temos de ter uma moratória longa ,talvez 30 anos, de toda a amortização da dívida e ,mesmo assim ,não sei se temos economia para os juros.
2ª Infelizmente ,temos de pôr o estado a investir ,claro que não é a fazer rotundas e estádios,pois quanto ao emprendorismo privado, enfim ,não quero fazer comentários sarcásticos como fez o Ministro Ferreira Dias ,em 1959.

vazelios disse...

Bernardo excelente resumo.

Destacaria a resposta à Europa Federal, muito bem.

Como Churchill disse: "Para prevermos melhor o futuro, há que ver e perceber cada vez melhor o passado" (Palavras minhas, não é exactamente assim mas não me apetece procurar a frase na net)