quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Esta história dos SWAP já cheira mal

Convencionou-se de que os SWAP são uma merda. São tóxicos, e ponto final.
Ninguém se preocupou em explicar ou desmentir esta ideologia moralista que se estava a implantar no circuito mediático.
Quando os SWAP já eram a incarnação do demónio, todos quiseram fugir, ficando no silêncio à espera que nada acontecesse. Mas aconteceu.

O governo cometeu a primeira gaffe, ao deixar-se pressionar pelo nevoeiro moralista, exonerando gestores e ex-secretários de Estado. Não explicou nada. Despediu e pronto.

Depois foi o ex-secretário de Estado que trabalhou no Citigroup, e na berlinda temos a Maria Luis, a recente Ministra das Finanças.

Os SWAP são um instrumento que ganhou projeção na finança das empresas públicas porque vieram como complemento/obrigação à renegociação de empréstimos que venciam por novos empréstimos. Os montantes envolvidos eram de tal ordem, as necessidades de financiamento eram tão emergentes que o espaço de manobra dos diretores e administradores destas empresas era quase nula. Se rejeitassem a proposta do banco X e não houvesse outro a chegar-se à frente com condições mais favoráveis, a consequência era não haver dinheiro para pagar a parte final do empréstimo e no dia seguinte não haver dinheiro para pagar despesas correntes como salários, energia elétrica ou o gasóleo. Era a bancarrota e o colapso da atividade da empresa a rebentar nas mãos dos administradores, todos eles nomeados politicamente...
Seriam chacinados em praça pública. Seriam acusados de má gestão e de deixar a empresa chegar àquele ponto.
Era isto que os portugueses e portuguesas deveriam perceber antes de fazerem julgamentos moralistas sobre as asneiras que estes gestores cometeram no passado. Perceber o contexto da altura e analisar à luz dos factos daquele tempo.

E porque é que as necessidades de financiamento destas empresas são tão grandes ao ponto de terem que gramar com os SWAPS?
OE2013 página 75


OE2013 página 77


As empresas da página 75 julgo serem as empresas públicas que não pertencem ao perímetro orçamental.
As da página 77 já pertencem.

Não sei se estão a ver os valores astronómicos de dívida, por exemplo da CP e da REFER. Tudo somado dá mais de 10 mil milhões. Durante décadas o pessoal passou-se completamente. Deixou rolar o marfim sem tocar campaínhas de qualquer espécie.

O Metro do Porto em 2013 tem que refinanciar-se em quase 1000 milhões. Uma empresa que fatura 300 ou 400 milhões. É ridículo.

A CP tem uma dívida de 3,3 mil milhões de euros, fatura anualmente 250 milhões de euros e tem 400 milhões de euros de despesa. Então pode alguma empresa sobreviver com rácios destes?

Se a CP não fosse pública, há muito que ninguém lhes emprestava um cêntimo.
Mas desde 2008 que o medo se instalou nos bancos, e até as empresas públicas sacro-santas começaram a ser olhadas com receio. Os bancos começaram a fechar a torneira, pedindo cada vez mais garantias bancárias, os juros subiam para cobrir risco, e os SWAP vieram em atalho de foice nas propostas. Muitos SWAP eram altamente prejudiciais para a empresa caso os juros descessem. Mas quem é que pensava nos tempos bons quando os tempos eram de aperto e sobrevivência diária? Era o medo que reinava, porque caso o banco não refinanciasse o empréstimo no dia x, o dinheiro pura e simplesmente acabava-se.

É triste mas foi a este ponto que os balanços das empresas públicas chegaram. As de maior dimensão estão quase todas falidas, sendo a CP o case study de como não deve ser gerida uma empresa em termos económicos e financeiros. Já em termos operacionais as coisas corriam muito bem até ao acidente em Alfarelos. Esperemos que seja mesmo um caso isolado.

Como os SWAPs não foram devidamente explicados e contextualizados, assiste-se agora ao pelourinho moral em plena praça pública, quando a verdadeira causa da desgraça são os sucessivos resultados negativos destas empresas, que por não poderem aumentar preços ou despedir pessoal foram recorrendo à porta do lado: a dívida, para cobrir o défice. Os balanços deterioram-se de tal maneira que era só esperar que chegasse o dia D.

Parece-me que os SWAP são só o rastilho, porque quando a praça pública perceber a condição financeira destas empresas, a dívida que têm, os juros que precisam de pagar anualmente à banca e a incapacidade do governo em manter a farsa porque a troika não deixa, arredem-se porque alguém irá gatilhar sem critério algum.

Tiago Mestre

4 comentários:

Vivendi disse...

Detroit à vista...

Anónimo disse...

e pq aceitaram ser administradores de empresas falidas????que eu saiba se te dessem uma empresa para a mão faluda nao ficavas com ele, penso eu de que. alem do mais se ela ja estava falida nao ia contarir mais emprestimos tentava cortar nas despesas, agora estar a defender essas pessoas a mim nao me parece logico

Tiago Mestre disse...

Essas pessoas são pessoas como tu e eu, ou por outro lado, são pessoas talvez com menos consciência da gravidade do que tu e eu.

Para elas, era difícil vislumbrar onde tudo isto ia desembocar. Não percebiam a tendência e apenas se focavam na sobrevivência diária.

Em noites mal dormidas talvez a consciência lhes batesse à porta, mas caramba, se chumbassem o empréstimo, não havia dinheiro no dia seguinte e a exoneração seria certa. O dilema era complicado para esta gente que é toda nomeada politicamente. (pessoal fraco em termos éticos)

E se nenhum de nós por lá passou, não pode afirmar que faria de forma diferente. Cheira sempre a falso moralismo.
É preciso estar lá, ter consciência da força das circunstâncias, e contra tudo e contra todos, dizer NÃO, sabendo que poderá muito bem perder o seu emprego e a carreira.

Atitudes destas só estão reservadas para alguns seres humanos, para aqueles que já aprenderam a perder tudo em nome dos seus princípios ou em nome de outra coisa qualquer.

Penso que com esta análise compreendes que a minha exposição sobre os SWAPs vai muito para além de "defender essas pessoas"

Abr

Eduardo Freitas disse...

Quando é o próprio Governo a reconhecer como um "risco" para as metas de execução orçamental a alteração do perímetro orçamental (e fá-lo por escrito no Documento de "Estratégia" (?) Orçamental) não há muito que enganar.

Bom post.