sábado, 19 de outubro de 2013

No dia em que se gritou muito pela palavra fassista

Perguntamos a quem de direito...


Onde situa ideologicamente o Salazarismo ou o Estado Novo?
"Eu ainda vivi no tempo de Salazar, portanto sou testemunha ocular, por assim dizer.
Ao contrário do que se diz por aí, o Estado Novo não era totalitário. Basta ler Hannah Arendt para se ficar a saber a diferença entre o totalitarismo, por um lado, e o autoritarismo, por outro lado. O Estado Novo foi um regime autoritarista, e não um totalitarismo como aconteceu na Alemanha nazi e/ou na URSS.
O regime de Salazar começou por ser uma ditadura corporativista, e por isso conseguiu o apoio de muitos monárquicos absolutistas da linha de D. Miguel I, e que se posicionavam contra o liberalismo monárquico de D. Pedro IV (D. Pedro I do Brasil) e contra a monarquia constitucional liberal do século XIX. Mesmo alguns membros do integralismo monárquico lusitano foram enganados por Salazar que os convenceu de que era monárquico.
O corporativismo foi defendido por gente insuspeita de ser totalitária, como por exemplo Durkheim (o fundador da sociologia) ou Tocqueville — e mesmo a filosofia distributivista de G. K. Chesterton foi, em grande parte, corporativista. O corporativismo pode ter duas fontes ideológicas diferentes: ou Rousseau (através do conceito de “vontade geral”) ou Locke. Tanto Durkheim como Tocqueville e G. K. Chesterton defendiam um corporativismo fundamentado em Locke.
Infelizmente, o corporativismo de Salazar era fundamentado em Rousseau (através do conceito abstracto e politicamente arbitrário de “vontade geral”), e por isso trazia consigo já as sementes do absolutismo político republicano que, de certa forma, substituiu a monarquia absolutista portuguesa desde o tempo de D. João V até à revolução liberal e maçónica de 1820.
Nós devemos analisar um regime político através dos factos que produz, e só depois devemos tentar enquadrá-lo em uma determinada ideologia política. Ora, o que se faz hoje é exactamente o contrário: primeiro cola-se um rótulo ideológico a um determinado regime político, e depois cria-se uma narrativa que tenta justificar a atribuição prévia desse rótulo ideológico: é o que se passa quando se diz que “o Estado Novo foi um fascismo”.
O nazismo foi um regime totalitário que se distingue de um autoritarismo Salazarista — ler Hannah Arendt e o seu livro “Entre o Passado e O Futuro”."
Orlando Braga

Sem comentários: