segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O CES, os adjetivos e as contas

Ouço e leio palavras vindas do Conselho Económico e Social na imprensa que cheiram mais a adjetivos do que a factos. Já nem falo em apresentarem soluções porque isso é exercício a que todos se escapam.

Parece que para o CES, baixar salários na função pública a partir dos 600€ é inaceitável.

Será tão inaceitável como termos mantido sempre as despesas superiores às receitas ?
Será tão inaceitável como termos elevado o endividamento de forma constante desde os anos 80 ?

O que é que é então inaceitável?

É que baixar salários e pensões é tão só uma consequência das verdadeiras causas, essas sim, inaceitáveis, como as que referi acima, que foi terem subido estes rendimentos sem suporte económico real.

Querem mudar para o escudo e desvalorizar a moeda em vez de desvalorizar os salários? Vamos a isso. Mas como?

Li também este fim de semana do pessoal que é contra a austeridade que o valor total das medidas, aumento de receita e corte da despesa, roça os 20 mil milhões de euros desde 2011, e a redução do défice apenas se cifra em 4 ou 5 mil milhões de euros.
Ou seja, a austeridade não presta porque os resultados são bem magros.

Os resultados são magros mas não é porque a austeridade não presta. O ponto de partida é que é miserável. E o PSD-CDS tem culpas no cartório, porque essa malta vendeu a ideia de que isto era um passeio pelo parque. Não é nem nunca será.

Ao ponto ridículo a que chegámos, em que a economia privada está totalmente dependente da economia pública, vulgo terciarização do mercado de trabalho, se esta espirra a outra apanha logo uma pneumonia. Nem é sequer uma constipação, tem que ser logo antibiótico para cima.

Foi isto que a sociedade não quis ver e foi isto que a classe política não quis nem acreditar nem explicar ao pessoal.
Ficámo-nos pelas mentirinhas e omissões da treta. Umas gordurinhas aqui e acolá e pronto, prova superada.


O que era preciso era fazer umas contas, nada de muito complicado, e rapidamente se chegava à conclusão de que por cada € de despesa pública retirado à economia era bem provável que 1€ ou mais desaparecesse do PIB.
Conhecendo a fórmula do PIB = cons público + privado + Investimento + exportações - importações
E conhecendo o peso de cada parcela nos últimos anos, dava para perceber que a coisa não seria fácil.

Por outro lado, a fórmula do défice, muito usada no mundo, também é sacana porque está denominada em PIB, ou seja, se o PIB baixa mais depressa do que o défice, o rácio continua a subir, mesmo com o valor real do défice a descer:
Défice = (receitas - despesas) / PIB

Se o défice em 2013 ficar pelos 5,9% do PIB, ou seja, a roçar os 9,5 mil milhões de euros, tal significa que mesmo descontando todos os juros que iremos pagar, aproximadamente 8 mil milhões, ainda ficamos em défice, o que só demonstra a dificuldade que é fazer austeridade sem desvalorização monetária e querer continuar a pagar tudo.

A Despesa caiu do pico de 90 mil milhões em 2010 para 80 mil milhões em 2012. Obra do Gaspar.
E a receita, apesar dos sucessivos aumentos de impostos, não ultrapassa os 72, 73 mil milhões de euros. É o máximo que as empresas e as pessoas conseguem entregar ao Estado.

Pelo andar da carruagem, o que escrevi há 2 e 3 anos de forma exaustiva continua, INFELIZMENTE, bem real:

Para que o défice venha para zero, o encontro entre as despesas e as receitas será já num valor em que a economia pública e privada estarão numa condição que no dia de hoje ainda é inimaginável para nós.

Cheguei a dar o palpite de 50 mil milhões (posso muito bem estar enganado porque o valor é ao calhas), mas estão a ver o que é a despesa do Estado ter que cair ainda mais 30 mil milhões? Eu não estou a ver.

Tiago Mestre

1 comentário:

Anónimo disse...

ENTAO O 1 MINISTRO NAO DISSE QUE PRIMEIRO TINHAMOS DE EMPOBRECER, ENTÃO PQ DIZ QUE ELE ENGANOU