quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Me, Myself and I

Foram anos e anos a dizerem-nos que éramos importantes, únicos na sociedade, e que só por pisarmos o nosso retângulo e ilhas teríamos direito a todo o tipo de apoios sociais. Não havia mal nenhum que nos acontecesse que não fosse prontamente amenizado pelo dinheiro fácil do Estado.

 Nunca nos disseram que todo esse dinheiro redistribuído estava a ser coercivamente retirado aos contribuintes e que um dia, se as coisas arrefecessem, não iria chegar para todos.

Todos nós preferimos acreditar que o que é bom se perpetuaria para sempre. Felizmente veio 2008, e para alguns de nós, certas campainhas começaram a tocar, obrigando-nos a estudar os números, a perceber as contas públicas e a analisar a realidade de outra maneira. Veio 2011 e a entrada da troika já não era um mal em si mesmo, mas apenas uma consequência dos erros do passado.

Muita gente continua a não querer olhar para a realidade dos números, preferindo apoiar-se na virtualidade das palavras da Constituição e no paleio estragado dos políticos que tudo prometem sem terem dinheiro para mandar pintar um macaco:

“Ao meio-dia, nesta quarta feira, 4 de Dezembro, Nelson Arraiolos irá deslocar-se ao Pingo Doce do Rossio, Rua 1.º Dezembro, 67-83, 1200-358 Lisboa, entrará no supermercado, pegará num quilo de arroz e sairá sem pagar.” É assim que começa o email enviado às redacções por Nelson Arraiolos, o desempregado que em Setembro foi ao Palácio de Belém entregar uma carta ao Presidente da República para lhe comunicar que não pagava mais impostos [...] "


Amigo Nelson, aí perto do Bombarral, onde vives, no Pó, os agricultores andam à rasca para arranjar pessoal. Vem gente da Ásia para trabalhar nas estufas, vê lá. Fica a dica. Mas tens que lá ir. Mandar currículos por e-mail não serve.

Quando tu, por não arranjares emprego e dinheiro, decides andar de autocarro à pala, compras arroz sem pagar e deixas de pagar impostos, o que estás a fazer é a pôr nos outros a responsabilidade de pagarem essa despesa por ti. Exorbitas dos teus direitos como cidadão e afrontas a minha liberdade. É a filosofia do "que sa'foda": Não me dás o emprego que eu quero e eu aponto-te uma arma à cabeça. Sim, ok, mas por alminha de quem?

Ó Nelson, vale mesmo a pena termos duas pernas, duas mãos e um cérebro com quilo e meio e 11 mil milhões de células, que a evolução genética, por necessidade e a muito custo, tão graciosamente nos concedeu??

Apesar de andares a passar por um mau bocado, que eu respeito, continuas a não caber em ti mesmo por te considerares tão importante neste mundo, logo, achas que todos os outros, em especial o Estado, têm uma dívida social para contigo. Não temos, Nelson, a sério, não me leves a mal.


Tiago Mestre

1 comentário:

Anónimo disse...

Este senhor está realmente a passar um mau bocado ou em busca de estrelato? Tem tantas necessidades e vai passear do Bombarral a Lisboa com grande aparato jornalístico atrás? Tem tanta fome e avisa os meios de comunicação com 2 semanas de antecedência que vai ao Pingo Doce do Rossio para tirar 1 kg de arroz? A mim parece-me mais que este senhor está irritadissimo por não ter entrado na Casa dos Segredos e procura a fama a qualquer custo.