terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O que Mises realmente pensava sobre Guerras, Coerção Estatal e Anarquia



Vejamos o que Mises deixa claro sobre seu pensamento a respeito de vários assuntos na sua obra: Liberalismo Segundo a Tradição Clássica. Aliás livro que recomendo a todos, principalmente aos que agora experimentam seus primeiros contatos com o liberalismo. 

Protecionismo

"O fato é que a ideologia que torna possível a tarifa protecionista não é criada nem pelas “partes interessadas” nem por aqueles que são subornados por elas, mas por ideólogos que propiciam ao mundo as ideias que dirigem o curso de todos os assuntos humanos."
pg. 43

Mises não é totalmente adepto da ideia de que quem cria o protecionismo são representantes de negócios locais interessados em se proteger da concorrência. Ele é fruto quase sempre, da pura ideologia política dominante.

Isto Mises defende também em outras obras onde explica que é impossível que o protecionismo se instale atendendo somente aos interesses dos empresários, simplesmente porque estes, possuem interesses diferentes e por vezes conflitantes. Para um fabricante de pregos, talvez seja mais interessante se proteger da concorrência dos pregos importados, mas para o fabricante de cadeiras, que utiliza pregos na fabricação do seu produto, é mais interessante conseguir tal insumo ao menor preço possível.

Guerras

"O humanista, amante da paz, se aproxima de um todo-poderoso e lhe diz: “Não faça a guerra, ainda que uma vitória lhe dê a perspectiva de aumentar seu próprio bem-estar. Seja nobre e magnânimo. Renuncie à tentação da vitória, ainda que isto signifique para você um sacrifício e a perda de uma vantagem”. O liberal pensa de modo diferente. Está convencido de que a guerra vitoriosa é um mal, até mesmo para o vencedor, e que a paz é sempre melhor do que a guerra."
pg. 54

Aqui Mises utiliza um argumento liberal utilitarista contra a guerra. Diferente dos humanistas, que tentam convencer os poderosos a não promoverem guerras simplesmente porque é errado, os liberais são contra as guerras por motivos diferentes: Simplesmente elas não são interessantes para a maioria nem mesmo do lado vencedor.

"Quando é atacada por um inimigo belicoso, uma nação, amante da paz, precisa oferecer resistência, e tudo fazer para evitar a carnificina. Ações heróicas dos que lutam nessa guerra, para manter a liberdade e suas vidas são totalmente louváveis e, com razão, se exaltam a bravura e a coragem de tais guerreiros."
pg. 54

Aqui Mises deixa claro que são absolutamente legítimas as guerras travadas a favor de se proteger de uma agressão externa.

Coerção Estatal

"A vida em sociedade seria, praticamente, impossível, se as pessoas que desejam sua continuada existência e que pautam sua conduta de modo apropriado tivessem de renunciar ao uso da força e da obrigatoriedade contra aqueles que estão prontos a minar a sociedade com seu comportamento. (…) Sem aplicação de obrigações e coerção contra os inimigos da sociedade, seria impossível a vida em sociedade."
pg. 63

Essa vai para os que se dizem liberais misesianos mas criticam a coerção estatal sobre condutas anti-sociais ou que criticam a ação da polícia na repressão ao crime, mesmo quando ela acontece dentro da legitimidade.

Mises mostra que é absolutamente necessário que o estado reprima tais condutas mesmo que utilizando-se do seu monopólio da força.

Outras afirmações semelhantes podem ser vistas na página 81:

"Suprimir a conduta perigosa à subsistência da ordem social constitui a soma e a substância da atividade estatal."
pg. 81 - 82

"O liberalismo nem mesmo deseja ou pode negar que o poder coercitivo do estado e a punição legal de criminosos são instituições que a sociedade não poderia, em quaisquer circunstâncias, delas prescindir."
pg. 82

E ATENÇÃO AGORA - VEJA O QUE MISES PENSA SOBRE ANARQUISMO

"Há, sem dúvida, uma facção que acredita que se poderia dispensar, com segurança, todo e qualquer tipo de coerção e basear a sociedade, totalmente, na observância voluntária do código moral. Os anarquistas consideram o estado, a lei e o governo instituições supérfluas"
pg. 64

Mais adiante na mesma página:

"O anarquista, porém, se engana ao supor que todo mundo, sem exceção, desejará observar tais regras voluntariamente."

"O anarquista compreende mal a verdadeira natureza do homem. O anarquismo somente seria praticável, num mundo de anjos e santos.
O Liberalismo não é anarquismo, nem tem, absolutamente, nada a ver com anarquismo."

E ainda mais adiante na página 66:

"O liberalismo, portanto, está muito longe de questionar a necessidade da máquina do estado, do sistema jurídico e do governo. Trata-se de grave incompreensão associá-lo, de algum modo, à ideia de anarquismo, porque, para o liberal, o estado constitui uma necessidade absoluta"
pg. 66

Bibliografia:
von Mises, Ludwig.
Liberalismo - Segundo a Tradição Clássica. -- São Paulo: Instituo Ludwig von Mises
Brasil, 2010

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