quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Manifesto contra a Crise - Compromisso com a Ciência, a Cultura e as Artes em Portugal

Até parece que a Crise é uma entidade, uma coisa em forma de não sei o quê a quem nós podemos atirar umas pedras.
Quando as coisas nos correm mal, nada mais fácil do que encontrar um bode expiatório, e pimba, carrega-lhe em cima.
A Crise foi encomendada por alguém, porque nós, nós não fizemos mal nenhum. Estava tudo bem connosco e não poderia ser de outra forma.

Por muito que nos custe, o único poder que temos é de adiar ou antecipar aquilo que a realidade, mais cedo ou mais tarde, nos irá trazer. E pelos vistos, pouca gente tem a percepção de que quando consumimos mais do que produzimos, de que quando o nosso balanço energético é deficitário, mais cedo ou mais tarde a realidade chata vem bater-nos à porta.
Não adianta muito, a não ser para comprar tempo e purgarmos como coletivo, em acusar fulano ou sicrano ou em barafustar com isto ou com aquilo.
Ai a culpa é da Crise? Então venha um manifesto contra ela

Também tenho lido por aí uma certa analogia entre este manifesto, que será brindado com conferências no Casino Estoril!? com as Conferências do Casino de 1871.
Espero bem que o Manifesto esteja muito bem escrito e fundamentado, porque irá rivalizar com as "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares" de Antero de Quental, esse sim, um documento que, apesar de ter uma visão totalmente errada da nossa sociedade, tenta ser um exercício de fundamentação técnica e científica.

Se os subscritores deste Manifesto forem ler o livrinho do Antero e compararem as maravilhas que ele dizia das sociedades ditas modernas ocidentais da altura com o horror que estas produziram para a humanidade escassas décadas depois, talvez pensem duas vezes antes de subscreverem este Manifesto; que pelos vistos, mais uma vez, nos exige, por um passe de mágica, que sejamos europeus de gema porque eles é que são os ricos e os cultos, e nós os atrasados, sem ciência, sem artes e sem cultura se não fizermos exatamente como eles.

Até custa a crer que haja tanta gente "culta" a engolir estas merdas que alguns iluminados regurgitam cá para fora.

Tiago Mestre

1 comentário:

vazelios disse...

Boa Tiago.

Em termos culturais a culpa reside nos progenitores Portugueses.

O que ensinam e não devem ensinar:
- Que todos nós temos direitos, independentemente de haver ou não condições suficientes para alimentar os direitos de todos
- Depois de os estudos acabarem, acabaram-se os deveres e obrigações (alguns nem têm obrigação de estudar)
- Que se algo mau vos acontecer, a culpa é de outro. Proteger sempre os nossos filhos, mesmo que a culpa resida neles em exclusivo.
- Nunca pensem como podem melhorar a vossa própria vida, há de aparecer qualquer coisa do céu (Há 30 anos até aparecia..)
- Que o dinheiro serve para se gastar



O que não ensinam e devem ensinar:
- A nossa liberdade vai até onde a liberdade do próximo é ameaçada ou posta em causa
- Aprender a gerir o dinheiro - Viver dentro das nossas possibilidades
- Poupança não é mais do que garantir sustentabilidade no presente (dentro dos possíveis) e permitir, se der, condições de consumo futuro muito melhores do que as actuais
- Partilha e viver em sociedade



Destes erros de educação resultam em choques de sociedade: FP's Vs privado, jovens Vs velhos, etc.

Todos são egoistas, todos pensam no presente imediato, todos pensam em si, e esquecem-se de que se todos remarmos para o mesmo lado e abdicarmos um pouco do presente, teremos todos um futuro melhor.

Origina corrupção, por um lado, e por outro origina mimo, preguiça, inércia, infelicidade.

Por isso não me espanta que algumas pessoas se insurjam contra a classe politica. Eles não dão o exemplo.

É preciso uma bela dose de paciência para no inicio da minha vida familiar e profissional, pagar impostos como um CEO num país capitalista e continuar feliz.

Mas sou, este país é fantástico, falta é um "Mourinho" da politica/economia que nos junte a todos