quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

"O "caso Dieudonné

(via combustões)


Manuel Valls, o actual Fouché, afirmou anteontem que o humorista Dieudonné é "financiado pelo Irão". Estranha afirmação, posto que pelo casamento, Valls ser também suspeito de seguir instruções de uma potência do Médio Oriente hostil ao Irão. A questão Dieudonné, que se deve situar no plano das liberdades ameaçadas - e que nada tem a ver com imigração, nem tão pouco com questões religiosas - é de natureza complexa e merece ser seguida e ponderada com os maiores cuidados. Porém, se a quisermos reduzir ao esquemático, esta crise de histeria e caça às bruxas decorre da necessidade urgente da desastrosa governação de Hollande em encontrar diversões, exacerbando-as ao paroxismo. A situação económica e financeira da França é catastrófica, pelo que Hollande precisa de cruzadas e de um inimigo imaginário - um humorista - para desviar a crescente insatisfação do povo francês. O caso Dieudonné segue-se ao "caso Gérard Depardieu" - outro actor - pelo que é demonstrativo da relação instável e pouco tolerante da República em relação aos artistas. Errática, volátil, incompetente e vindicativa, a acção governativa de Hollande - que ainda há dias tentou culpabilizar os "ricos" pelo colapso francês, pecha velha da demagogia socialista - parece estar a montar a mise-en-scène que permita ao Estado, em ano de decisivas eleições europeias, lançar mão de todos os recursos repressivos - anticonstitucionais até - para estancar a quase irreversível bancarrota da 5ª República, mal nascida de um golpe de Estado de Gaulle e que, desde então, pelos tiques bonapartistas, se especializou nestes expedientes liberticidas.

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