quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O sabor agridoce do regresso aos mercados

Não me deixa particularmente satisfeito esta euforia que credores estão a ter para com as dívidas soberanas da periferia europeia.

Sendo eu um apologista da lógica de mercado com o mínimo de interferência estatal, para mim a taxa de juro das OT's deverá refletir tão só o preço do dinheiro a que o credor quer vender conjugado com a vontade do devedor em querer comprar.

E para que a formação do preço do lado do credor seja realista, este deve ter em consideração a "saúde" financeira do devedor. Mas olhando para os indicadores macroeconómicos de Portugal e do seu Estado, encontram-se facilmente demasiados buracos nas contas públicas, sendo uns recentes e que ainda pouco contribuíram para o crescimento da dívida, e outros bem antigos que estão quase na génese deste endividamento louco a que chegámos. Por esta análise, emprestar a 10 anos com juro de 5% parece-me uma atitude relaxada por parte dos investidores.

Se até final da década de 90 os défices públicos eram financiados com o crescimento económico do ano seguinte, pouca dívida nova se emitia. A partir de 2000 o crescimento saiu da equação e entrou a dívida. Com a entrada do € as taxas de juro de Portugal desceram tanto que os políticos não hesitaram em manter a loucura dos défices de 4 e 5% do PIB, prometendo este mundo e o outro nas eleições. A coisa foi ainda mais longe em 2009 e 2010, em que por decisão política, os défices na Europa galoparam em alguns países, como Portugal, para 9 e 10% do PIB. Com a recessão instalada, o contributo do crescimento económico na minimização destes défices foi NULA. Financiou-se tudo à conta de mais dívida.

E o sabor agridoce é exatamente este:
Temos um histórico recente de que quando nos facilitam a vida, agente desleixa-se. Preocupamo-nos com outras coisas mais importantes e descuramos a saúde financeira das nossas famílias, das nossas empresas e do nosso Estado. Desde o século XV que há evidências históricas desta nossa forma de olhar para o dinheiro e para as dívidas.

Se não se lembram, antes do €, com contas públicas mais saudáveis do que hoje e o país a crescer 3 a 4% ao ano, o juro das OT's a 10 anos rondava os 8 a 10%.
Hoje, com crescimento 0, dívida pública em 120% do PIB e buracos espalhados por todo o lado, consideramos um HORROR estes valores, e tudo o que seja acima de 4,5% a 10 anos a culpa é dos mercados e das agências de rating que são uns sacanas. Não são os mercados que são sacanas, somos nós que somos sacanas connosco próprios porque temos memória curta.

É pelo facto de estarmos integrados numa União Europeia com países muito mais fortes do que nós e com moeda única que se torna possível aos credores darem-nos tanta folga e "acreditarem" tanto em nós. Enquanto a Europa não claudicar, a coisa vai andando.

Por tudo isto, tenho a leve sensação de que a partir do momento em que a troika aliviar as medidas de austeridade, o pessoal quer logo voltar a endividar-se no exterior para comprar coisas ao exterior, usando € criados no computador do BCE em montante ilimitado a juros de 0,25%.

E já agora, há muita discussão entre € e escudo, mas no fundo, no fundo, vai dar tudo ao mesmo.

Se se voltasse ao escudo, este seria logo manipulado pelos políticos, e por sê-lo os credores iriam torcer o nariz e fariam pressão no juro das OT's, impedindo os políticos de endividarem. A inflação anularia as políticas expansionistas e assistencialistas dos governos e no fundo ficava tudo igual.

Se ficarmos no €, há menos manipulação na moeda nacional e menos inflação, mas o mais provável é continuarmos a endividar à maluca até os credores se voltarem a fartar. A troika, neste triângulo, é uma espécie de padrão ouro, que não deixa grandes desvarios mesmo com os credores a relaxarem, mas toda a gente a quer ver daqui para fora.

Com escudo: mais inflação menos endividamento.
Com €: mais endividamento e menos inflação.

Muda o cheiro mas a merda é a mesma.

O que me deixaria satisfeito era ver os líderes partidários a pedirem sacrifícios aos portugueses para chegarmos ao défice 0 tão cedo quanto possível.
Querer ver a troika daqui pra fora para anular a austeridade só porque os mercados já acreditam, quando em 2013 ainda andamos com défices ordinários de 10 mil milhões é, para mim, pôr a carroça à frente dos bois.
Para levar este défice a 0, reduzir a dívida para 50 ou 60% do PIB, e com a desequilíbrio nas contas da SS e da CGA, ainda falta retirar MUITO dinheiro da economia. Para já folgam-se as costas, que também faz falta.

Tiago Mestre

5 comentários:

Anónimo disse...

http://rehabilitatingportugal.com

Tiago Mestre disse...

Caro anónimo, muito obrigado pela partilha. O documento tem muita informação, e da útil. Obrigado.

Anónimo disse...

NAO PERCEBO SE A DIVIDA DESCEU EM RELAÇÃO A 1 ANO FORA O DINHEIRO QUE TEMOS EM NUMERARIO DAS PRIVATIZAÇÕES, SE TODOS OS INDICADORES DIZEM QUE A RETOMA ESTA A ACONTECER, O DESEMPREGO A DESCER, AGORA OS MERCADOS IAM DEIXAR DE ACREDITAR EM NÓS?????

Anónimo disse...

ANONIMO ESSE RELATORIO PARECE ESCRITO POR ALFGUEM QUE NOS QUER MAL AINDA POR CIMA SÃO DADOS BASEADOS EM SUPOSIÇÕES POIS ELE NEM SABE SE O DEFICE VAI SER ESSE, E O MAIS CURIOSO NESSE ESTUDO E TUDO COMPARADO COM ESTIMATIVAS FEITAS ANTES DA ENTRADA DO MEMORANDO O QUAL JA FOI REVISTO, PARECE TER SIDO ENCOMENDADO PELO GALAMBAS...OU PELO TIO SOCAS POIS OUTRA DAS MENTIRAS E QUE O DEFICE E DE 128% MAS NAO E CONTABILIZADO O QUE ESTA NO BANCO, ORA SE FOR CONTABILIZADO ESSE VALOR ATE E IGUAL A PREVISÃO INICIAL DA TRIKA 115%....POR ISSO CADA UM ACREDITA NO QUE QUISER ATE NO PAI NATAL...EU SOU SUSPEITO PORQUE SÃO SEMPRE POSITIVO EM RELAÇÃO AO FUTURO

Anónimo disse...

o relatório até podia ser escrito pelo menino jesus que era indiferente. a ideia passava por "ouvir" os bulls e os bears e, nesse sentido, achei interessante partilhar.

ja agora Tiago, a fonte do artigo é o ZeroHedge.

perdoe postar como Anonimo mas não tenho paciencia para andar com registos. talvez um dia quando o blog tiver um forum associado...