sexta-feira, 21 de março de 2014

Como devemos julgar o passado

A Igreja Católica na Idade Média condenou muitos hereges à fogueira. Tem gente que fala em bilhões, milhões, milhares e centenas. E tem gente que diz não interessar pela quantidade das "vítimas", basta ter tirado a vida de uma única pessoa para ser desprezada como instituição obscurantista e opressora. 

No entanto, deve-se levar em consideração que essas condenações faziam parte do sistema penal -- e de uma visão moral -- da época. Em vista disso, julgar a Igreja católica de assassina, obscurantista e opressora além de anacrônico exige do juiz da história um princípio moral absoluto. 

Ok. Explico: para julgar a Igreja Católica como criminosa na Idade Média é preciso fundamentar este juízo num sistema de direito natural, isto é, num sistema em que alguns princípios de ordenamento jurídico – derivados de uma complexa visão de natureza humana e moralidade – estejam fundamentos em um ordenamento atemporal e permanente. 

Caso contrário o fundamento desse julgamento recairia numa espécie positivista-formalista de direito cujo pressuposto é o relativismo. Ora, acontece que a maior defensora da tradição do direito natural na história do Ocidente foi a Igreja. Julgar o Tribunal da Inquisição à luz da nossa concepção de direito e moralidade é anacrônico e estúpido ou é preciso apresentar um fundamento atemporal a fim de fundamentar a comparação e, consequentemente, o juízo. Outra saída é parar de tentar reduzir a complexidade da história às nossas fantasias.

Francisco Razzo 

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