segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A regressão





António Costa e os os novos e velhos socialistas que por aí andam gostam muito de utilizar a palavra regressão. Que vivemos uma regressão social, etc. e tal. Vamos então lá falar um pouco de regressão. 

Durante noventa anos, terminados em 1960, mantivemos um atraso atávico e secular relativamente a um grupo de países europeus (Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Centro-Norte de Itália, Países Baixos, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido) que gostamos de tomar por modelo do que gostaríamos de ser. De facto regredimos nesse quase século. Tínhamos em 1870 (Angus Maddison) um PIB per capita que equivalia a 45% do europeu e 90 anos depois a percentagem tinha caído abaixo dos 40%. Crescemos (1,2% em média), mas crescemos menos que a Europa rica (1,4%): divergimos. A seguir arrancámos, e arrancámos todos. 

Só que nós arrancámos muito mais que os países da comparação. Durante 13 anos, até 1973, quando se dá o primeiro choque petrolífero, crescemos asiaticamente a 6,9% ao ano. Foi o que de mais parecido tivemos com um milagre económico. De um PIB per capita de pouco menos de 40% passámos a quase 60% da média europeia. Entre 1974 e 1985 entrámos numa década que, em matéria de convergência, é para esquecer. Em 1985 tínhamos regredido para 55% da média europeia. 

Pelo meio, quase que falimos duas vezes, mas ajustámos, e entrámos no segundo grande período de crescimento, prosperidade e boa onda. Até 1992. Começamos então a gripar. Com avanços e recuos, aos solavancos lá conseguimos, mesmo assim, subir um bocadinho mais, ou seja, diminuir mais um bocadinho, mas já só um bocadinho, a distância que nos separa dos ricos. A partir de 2001 é a regressão que se vê. Em 2010, último ano desta série longa, estávamos abaixo de 1991. Quer dizer: entre 2001 e 2010 regredimos para um nível abaixo daquele em que estávamos há mais de 20 anos. 

E sim, quem governou Portugal ao longo de toda a regressão foram os socialistas, com excepção de um interregno de dois aninhos e 1/2. Não conheço nada, mas absolutamente nada no discurso dos socialistas que me garanta que os erros, as ilusões e mentiras que nos meteram neste enorme sarilho não se repetem. Pelo contrário. Têm muito orgulho: em Guterres, no governo do 44, etc. Não creio que tenham aprendido coisa nenhuma. Não julgo que repitam as mesmas receitas falhadas por defeito. Julgo que é mesmo feitio. Mas que nos enterraram numa terrível regressão de que estamos a ver se nos afastamos, enterraram. Vão ter de prestar contas. Assim lhas peçam, agora que as coisas começam a aquecer para o round de 2015.

Apenas uma nota adicional: se tivéssemos mantido a pedalada da década de 60 até 73, em 1984 teríamos ultrapassado a Europa rica. Se, falhado esse primeiro embalo, tivéssemos crescido ao ritmo do segundo (1985-1992), em 2008 teríamos superado a Europa rica. Não é impossível, como mostrámos. Mas exige um pouco mais de constância da que temos exibido. Para já, já não seria mau se deixássemos de nos afastar e interrompêssemos a regressão em que os socialistas nos meteram. 

É que manter o Estado social que temos num país que envelhece à velocidade a que estamos a envelhecer não vai ser nada fácil. Ou mudamos, ou vamos ter um inverno demográfico conturbado.

Jorge Costa 


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