domingo, 13 de setembro de 2015

É uma espécie de lei de ferro da vida:



É uma espécie de lei de ferro da vida: ninguém - uma pessoa, uma família, uma sociedade - pode viver acima das suas possibilidades (por muito tempo). E tentá-lo é chamar a desgraça. Isso quer dizer muitas coisas. Um Estado não pode dar mais às pessoas do que o que as pessoas lhe dão a ele (em impostos); uma sociedade não pode aumentar mais os salários do que aumenta a produtividade; um país não pode viver (sempre) das poupanças de outros países. Podemos dar as voltas que quisermos dar, que quando os salários (reais, descontado o efeito da inflação, ou seja, os salários medidos em poder de compra) crescem mais do que a produtividade, isso paga-se, à frente, com um ajustamento, e quanto mais tempo tardar mais doloroso é esse ajustamento. Quando não se tem moeda própria esse ajustamento é particularmente doloroso porque o driver do reajustamento é o desemprego (como foi entre nós recentemente).

Este quadro, mostrando como é a evolução da produtividade que torna possível, sustenta, o crescimento dos salários, mostra também, se olharmos para ele com atenção, o que acontece quando há a ilusão de que isso não é assim, isto é, de que a economia foi de férias.

Primeiro episódio de deboche total: 74, 75. Enquanto a produtividade mergulhava a pique (uma queda de brutal de 12% em dois anos) os salários reais (salários nominais menos inflação) trepavam 21%. Foi bonita a festa, pá! Mas acabou em lágrimas. Verdadeiramente, o ajustamento só vai terminar em 1985, depois de duas visitas do FMI. Note-se a curiosidade histórica de só em 1984, era Soares PM, os salários reais terem caído 9,2%. Isso nunca antes acontecera, nem voltou a acontecer, nem nada que se pareça (num só ano). Desta vez o que não pagámos em ajustamento de salários pagámos com desemprego em níveis recorde.

Entre 1986 e 1994 conseguimos manter o equilíbrio; os salários cresceram como nunca, mas a produtividade também. Nos anos loucos que se seguiram, do engenheiro Guterres de má memória, entre 1995 e 2000, alguma coisa a produtividade aumentou (8%); os salários aumentaram 20%. Foram os anos em que se semeou o desastre de que saímos apenas há pouco. Aquele salto dos salários reais em 2009 foi o último episódio de deboche socialista em grande, um espasmo, uma espécie de La Grande Bouffe antes do que sabemos: muito cuidado pois com quem ides escolher para vos governar nos próximos anos; sabeis como a coisa começa. E sabeis também como a coisa acaba: muito, muito mal.


Jorge Costa

Sem comentários: