No capítulo da "Histoire des Idées Politiques" dedicado a Portugal, referem os autores a "referência Salazar" e acrescentam: "o elogio de Salazar é tradicional em certos meios da direita francesa e os livros à glória de Salazar não têm conta". Certamente nenhum outro país dedicou tanta atenção e admiração pelo Chefe português como a França. Para todos os efeitos, as claques políticas da direita francesa não diferenciavam da portuguesa, desde os monárquicos tradicionalistas, aos conservadores desencantados e aos nacionalistas autoritários.
Os maurrasianos jamais esmoreceram no entusiasmo ao regime que parecia concretizar as premissas do velho mestre da Action Française. Nem deixou o próprio Maurras de encontrar virtudes, tal como encontrara em Pétain. Mas Salazar era diferente, era a alternativa eficaz e coerente ao demo-liberalismo, no fundo uma articulação possível do constitucionalismo e do sistema representativo com as tendências autoritárias, encontrando ali justificação filosófica a um conservadorismo de base católica e anti-liberal. Regime que Jacques Bainville descreveu como uma "ditadura de professores", formulação lapidar dada a especificidade social do escol do regime composto sobretudo por professores universitários.
Serão maurrasianos os mais fascinados, desde Massis, que entrevista várias vezes Salazar, dizendo: "Aux noms de ces bienfaiteurs, je tiens à ajouter celui du Dr. Salazar car c'est au Portugal, c'est à la très noble nation à laquelle M. Salazar a donné sa personne (...)", a Ploncard d'Assac que escreverá uma biografia sobre o Chefe do regime português. No pós-guerra, a direita gaulista tecia rasgados elogios ao Professor de Coimbra. O próprio de Gaulle não escondia tão pouco a admiração. Paradoxo que levava a extrema-esquerda francesa a estabelecer um paralelo entre os dois. Para a oposição, o gaulismo mais não era do que um salazarismo adaptada a estruturas liberais, aliás muitas vezes salientando a "deriva salazarista" do general De Gaulle. Comparação implícita também feita por Helmut Schmidt.
A admiração da direita francesa encontrou talvez a mais elevada representação com Christine Garnier. O livro "Vacances avec Salazar" revela-se mais do que um testemunho, mas uma imagem de compaixão, de humanização, de revelação do homem por detrás do poder.
Nem seria inusitado referir, como Miguel Ayuso, relativamente aos regimes ibéricos, que estes realizavam uma formulação da "democracia-cristã autoritária". Era a aplicação da doutrina dos Papas sociais enquanto alternativa quer ao socialismo quer ao capitalismo: sistema constitucional autoritário, congregador, hierárquico, corporativo, católico, harmonizador e patriótico. Aliás, na senda do que referira também o insuspeito Oliveira Marques, quando caracterizava o Estado Novo como uma terceira via entre os regimes socialista do leste e os regimes demo-liberais do ocidente.
Especificamente, no pós-Concílio Vaticano II, também um baluarte da resistência contra a mudança perpetrada no seio da própria Igreja (como João Medina não deixou de referir), homens como Léon de Poncins não escondem o amor pelo Chefe português, o espírito da resiliência num mundo em acelerada mudança e da resistência católica tradicional e dos críticos do demo-liberalismo.
O salazarismo não encontrava fronteiras e, talvez, entre os maiores admiradores, tenham estado exactamente os intelectuais da direita francesa.