quarta-feira, 30 de abril de 2014

Redução de défice em 2013, 2014 e 2015 = Impostos subirem mais depressa do que a Despesa

Et voilá, quando já se julgava que mais um aumento de impostos era coisa do passado, percebe-se que o buraco nas contas públicas, neste caso na Segurança Social, será "tendencialmente" compensado com... Aumento de Impostos.

Já não há pachorra para o aumento dos impostos.
É verdade que a subida do IVA e da TSU é pouca, mas quando urge iniciar uma descida acentuada dos impostos, ainda estamos longe desse cenário.

A Despesa do Estado em 2013 deixa-me espantado: 
Em 2012 foi de 73,9 mil milhões
Em 2013 foi de 75,9 mil milhões
Aumentou dois mil milhões!!! E a malta ainda fala de austeridade..
E em 2014, de Janeiro a Março, a despesa está igual a 2013: 16,5 mil milhões

Se o défice desceu em 2013 de forma significativa, imaginem lá como foi possível... com o aumento da receita, claro!
E 2014 e 2015 vão pelo mesmo caminho.
Percebe-se hoje claramente que o Estado, para reduzir a Despesa efetiva, é tarefa ciclópica.

É preferível esticar a corda até rebentar, tipo bancarrota, e depois, olhem, logo se vê, logo se há-de dizer alguma coisa.

Tiago Mestre

O sonho do 25 de Abril não está cumprido

Enquanto a taxa não passar dos 25%.


23,25

Colocaram este número em circulação...

Será alguma piada racista de mau gosto?

Capitalismo 3D


Casa feita em impressora 3D custa a metade de uma comum


Doutrinação fascista?

Alunos da Escola Ruiz Costa ajudam contribuintes de Matosinhos a preencher o IRS.

O fascismo fiscal é o catalizador principal para uma sociedade conhecer as mais variadas formas de fascismo propostas pelos sociopatas eleitos.



Os partidos políticos

" É habitual ouvirmos reclamar a constituição de partidos políticos em nome da liberdade política e com esta identificar a actividade dos partidos. ( ... ) Mas o confronto dos partidos não tem por fim essa liberdade. Como em todas as lutas, o objectivo de cada contendor é vencer e subjugar os outros contendores. Quando um grande partido consegue a maioria passa a governar a seu talante, sem peias de nenhuma ordem. ( ... ) Por este caminho se forjaram os mais notórios totalitarismos de partido. O comunismo, o nazismo, o fascismo, fizeram-se por esse processo... "


Mário Saraiva


NatoManiacs

(via António Maria)

F-16 portugueses na resposta NATO à crise ucraniana

Quatro F-16 portugueses integrados na força de contenção NATO

Já alguém informou os portugueses, ou será só depois das eleições?


Quatro F16 da FAP integrarão força NATO de “contenção” anti-russa no próximo mês de setembro, e até ao fim do ano. Os portugueses sabiam?

Presumivelmente este lote de quatro aviões de combate sairá da esquadrilha de seis F-16 mobilizados, desde 2011-2012, para a base NATO da Islândia. O governo indígena talvez nos pudesse esclarecer.

Em nossa opinião a crise ucraniana é uma provocação americana, e é uma provocação muito perigosa. A União Soviética ruíu, e desde então os Estados Unidos procuraram, quer através de ofensivas financeiras, quer através das chamadas revoluções coloridas em vários dos países da antiga “cortina de ferro”, cercar a Rússia e reduzi-la a uma espécie de vegetal.

Como seria de esperar a Rússia acabaria por reagir, usando a sua maior arma tática: o petróleo (maior exportador mundial, à frente da Arábia Saudita) e o gás natural.

A Alemanha, demasiado ocupada em gerir a pocilga europeia, descurou a questão russa até ao dia em que esta interrompeu pela primeira vez, e por razões políticas, o fornecimento de gás ao centro da Europa.

A União Europeia, em vez de apoiar economicamente a Ucrânia, nomeadamente na questão energética, deixou que esta continuasse dependente dos favores de Moscovo.

A crise estalou e, enquanto os Estados Unidos prosseguiram o seu plano de desestabilização da zona, a Alemanha e o resto da União Europeia exibiram uma vez mais a sua fragilidade política e militar.

A Europa só pode ter a Rússia como aliada, não como inimiga. Ter a Rússia como inimiga é empurrar a Rússia para os braços da China, cumprindo-se assim a grande manobra americana cujo objetivo é encontrar o pretexto adequado para um confronto nuclear contra a China antes de esta se tornar imbatível militarmente.

Os EUA querem desesperadamente recuperar a supremacia ameaçada do dólar. Para isso precisam de fazer rapidamente uma demonstração de força global, e depois reforçar o seu controlo militar e diplomático sobre as principais regiões ricas em petróleo e gás natural: Irão, Iraque, Cáspio e o grosso do continente africano (este também por outras motivações esttratégicas...)

Bruxelas e Moscovo devem negociar diretamente esta crise, em vez de serem o eterno pau de cabeleira da NATO!

Chegou o momento de a Europa perceber que ou ganha juízo ou desaparece do mapa!


REFERÊNCIAS


terça-feira, 29 de abril de 2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O ponto alto do 25 de Abril





Erros e fracassos da era política

Salazar em 1963
António Oliveira Salazar em 1963

Discurso proferido na posse da Comissão Executiva da União Nacional, em 18 de Fevereiro de 1965

https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEj_zNtk-BSiMVW8PdNMGDArykwDRH2a07psiPlM4twVkOvRacjcZXIxRBKoYC2-LjwSSdTGw82upEs5Tj2TaQ6MCAfVXAmTCWFG1b22z2SsA25KJebVDfh87oq3McCLwPnPitV4CkT5XYo7Vbxcqs2Zcw
«A luz que intensamente se projecta na vida material, no desenvolvimento económico, nos aumentos indefinidos dos níveis de vida vai deixar na obscuridade toda a parte espiritual do homem, do que me parece dever esperar-se o tempo materialista por excelência, a época dos povos ricos sem alma.»

ERROS E FRACASSOS DA ERA POLÍTICA

Meus Senhores:
Tomou posse nova Comissão Executiva da União Nacional1 e eu dispenso‑me de louvar os que saem e de apresentar os que entram. Embora coisa devida e justa sabe-se que é sempre assim, o que tira às palavras parte do seu valor. Peço‑lhes por isso desculpa que me será concedida, havendo coisas de alguma importância a dizer.

I
A reorganização faz-se num ano crucial da vida política, não porque terminem as guerras do Ultramar, pois que os inimigos que as fazem e os que as sustentam, declaram, quererem continuar a perturbar a vida e o trabalho alheios2; não porque tenha de haver eleições de deputados3; ainda que relevantes como são sempre; mas especialmente porque novo corpo eleitoral tem de reunir-se para escolha do chefe do Estado4 e de toda a Nação portuguesa. Seja qual for a evolução dos acontecimentos, não pode haver dúvida de que é nos sete anos a seguir que por imperativos naturais ou políticos se não pode fugir a opções delicadas, e, embora não forçosamente a revisões, à reflexão ponderada do regime em vigor. E é nas mãos do chefe do Estado que virão a pesar as maiores dificuldades e da sua consciência que dependerão as mais graves decisões.

O que é um regime político? Um regime político é a definição dos órgãos da soberania, do modo como se constituem, participam do poder e colaboram para o bem comum da sociedade civil. É também a enumeração daqueles direitos que as leis hão-de respeitar no homem e, no nosso caso, ainda a enunciação de princípios morais, sociais e económicos que se julgam úteis para dar estabilidade à vida do conjunto humano e imprimir à vida nacional uma finalidade. O que quer dizer que um regime pode ser também uma política e não apenas uma constituição. O nosso é uma coisa e outra.

Ora nós quisemos dar ao país, assolado pelas devastações da sua anarquia, um regime novo; mas muitos dos nossos homens públicos, educados na filosofia política do século XIX, têm-nos considerado sempre um governo à espera de eleições «livres» para uma «assembleia constituinte» que vote «nova Constituição» e com ela garanta ao povo «todas as felicidades». De modo que se verifica o seguinte: abolidas neste País as instituições tradicionais, não se encontra de 1820 a 1926, através das Constituições, Carta Constitucional e Actos Adicionais à Carta, entre revoluções, golpes de Estado, ditaduras ou vida constitucional, não se encontra regime, dizia, de que possa afirmar-se ter vivido ao menos os quarenta anos que para o ano perfaremos. Ao mesmo tempo, nenhum foi tão estável, tão pacífico e eficiente como o actual. E daí provir o absurdo de o provisório ser mais duradouro que o definitivo e o temporário mais estável que o consagrado para a eternidade.

A mim o que mais me admira é não se haver estudado a razão desta sorte de contra-senso. A vida das sociedades humanas está sujeita a evolução, embora mais lenta do que geralmente se cuida, quando atentamos nas suas estruturas fundamentais. Acontece, sim, que à superfície de vez em quando se levantam ondas que mais chamaríamos modas ou efervescências de opinião, destinadas a cair e a acalmar-se, se não se lhes dá a razão de ser da própria vida política, como tem sido muitas vezes o caso. De modo que o essencial é descobrir as linhas mestras da vida nacional que possam adaptar-se, sem se quebrarem, às contingências dos tempos, e definir a orientação que se lhes há-de imprimir, e muitas vezes não é mais que a linha de continuidade de um sentimento colectivo. Assim os regimes se firmam e perduram na medida em que reflectem os homens e as Nações - tão diversas umas das outras! - perfilham as aspirações comuns e suprem mesmo deficiências da colectividade.

Se a experiência vale alguma coisa, devíamos tirar daqui uma ilação. A força pode fazer revoluções mas não pode só por si mantê-las sem o apoio da consciência nacional. A ideia de que a Nação está hoje cloroformizada pelo medo ou por uma espécie de avitaminose política é incompatível com o entusiasmo e a confiança com que se bate em três territórios ultramarinos. Mais correcto é pensar que, independentemente dos governantes, sujeitos a deslizes e deficiências na orientação dos negócios públicos, se encontrou uma fórmula conforme ao modo de ser da colectividade e que a todos permite viver em paz e progredir. É de aconselhar que não se substitua enquanto se revelar eficaz e esteja confiada a quem na mais alta magistratura a possa defender e fazer cumprir.

Estas considerações deviam bastar para serenar os ânimos inquietos, exageradamente preocupados com as eleições de deputados que este ano se hão de também realizar.

A União Nacional apresentará, como de costume, as suas listas e é de crer que elementos políticos de oposição ao regime, depois de alguns terem aproveitado o período eleitoral na criação de um clima subversivo, também apelem para o sufrágio popular. Mas terão aqui dificuldades, porque representam o passado, e este, se infeliz, não dá garantias suficientes de aliciar o crédito público. Alguns poderão apresentar-se conto a radiosa esperança do futuro, mas também estes têm «passado», ainda que fora de Portugal, e o comunismo é neste País tão antinacional e anticristão que uma Nação que se bate a defender a sua integridade territorial e moral não o apoia, não o suporta, não pode reconhecê-lo dos seus.

Não há mesmo possibilidade de as oposições gizarem programas para o futuro imediato, salvo o que nós próprios temos definido já. Há poucos dias tive a oportunidade de ler o documento em que numerosos democratas solicitavam autorização para a celebração, de prever ruidosa, - do 31 de Janeiro na cidade do Porto. Na exposição faz-se acerada crítica da Administração e do Governo, apontando os vários problemas em que a actuação ou se verificava errada, ou claramente deficiente. E os autores não tiveram trabalho a documentar os seus assertos, pois se limitaram, para cada assunto, a citar as passagens correspondentes de discursos proferidos na Assembleia Nacional. Nós conhecemos os riscos das transcrições fora do contexto, mas posso glosar o facto em meu proveito. Há anos já o Doutor Marcelo Caetano, então ministro da Presidência, fazia notar encontrarem-se mais diferenças ideológicas entre os membros do Governo do que algumas vezes entre representantes de partidos diferentes. Foi exacta a observação e o facto apontado que a confirma quer dizer duas coisas: a primeira é que, salvaguardada a unidade no essencial, não nos afrontam as correntes de pensamento que se manifestem acerca dos problemas nacionais e das suas possíveis soluções; a segunda é que entre nós o deputado é livre a discutir e a votar, o que não acontece nos regimes partidários, em que a disciplina não pode deixar de ser considerada factor essencial à coesão das forças políticas. Por isso, do outro lado do regime, os que pretendem combater-nos não dispõem de grandes possibilidades.

II
Apesar de confiante na experiência e conhecimentos das pessoas mais directamente encarregadas da acção política, não quero deixar de referir-me à atmosfera mundial e doméstica em que a mesma se desenvolverá.

Vivemos uma época que, apesar de uma verdadeira explosão científica e correspondente progresso em numerosos sectores da vida, se apresenta excessivamente perturbada na consciência dos homens e dos povos. Esta perturbação resulta de se terem rompido, com a Segunda Grande Guerra, numerosos equilíbrios sobre que assentavam a vida social e as relações dos Estados, e também das ideias admitidas para a criação da sociedade futura. O mal vem portanto dos factos e das situações criadas e também dos erros de julgamento e de pensar que nos invadiram e constituem veneno corrosivo da acção.

Hitler prometia com a sua vitória a paz para mil anos5; perdida a guerra, veio prometê-la a ONU, tanto no seu ideário como no jogo das suas engrenagens, para prazo indefinido. Pois está sendo difícil encontrar lugar na terra onde não alastrem guerras e conflitos de toda a ordem. Ou não soubemos estabelecer e garantir a paz ou estamos equivocados quando a pensamos para sempre possível entre os homens e as Nações.

Aumentam extraordinariamente no mundo, com o trabalho e os recursos da técnica, os produtos para as necessidades do homem; talvez pudéssemos dizer que para todos bastariam, em nível modesto de vida. Pois a pobreza parece apertar cada vez mais aflitivamente os homens e há miséria por toda a parte, mesmo no seio dos países mais desenvolvidos e ricos. E assim parece que ou nos extraviamos no supérfluo em detrimento do necessário ou o nosso coração se perde nos seus anseios de generosidade e não descobre a fórmula de distribuição de bens que acabe coara os pobres na terra - se é possível acabarem na terra os pobres.

Nos povos estabilizados de velha civilização, nos povos que diríamos a caminho de um equilíbrio sadio ou nos que iniciam a vida como Estados independentes, repetem-se sem descanso as invocações democráticas, os apelos à liberdade e à igualdade dos homens, à soberania do povo, à omnipotência justiceira e criadora do voto, à outorga deste até ao limite extremo de «um a cada cabeça». Pois no funcionamento das instituições políticas, assistimos ao mesmo tempo ao envelhecimento dos princípios que foram dogmas para nossos avós, e depois de século e meio de domínio nos legam uma sociedade moral e politicamente degradada. Ao aconselhar, quase diríamos, ao impor a todos os povos essas instituições e princípios, ou nos enganamos sobre o absoluto do seu valor ou nos iludimos sobre a precariedade das soluções que se encontraram para os realizar. Isto é, depois de milénios o homem conclui não saber governar-se nem poder governar-se sem respeitar o primado da autoridade e da justiça. Ora estas limitam, só porque existem, a liberdade e a igualdade; e da trilogia revolucionária de 89 a única invocação que parecia realizável na sua plenitude - a fraternidade será sacrificada ao egoísmo dos homens e ao materialismo da vida.

Todos terão notado entrar-se numa época em, que a política está a ser dirigida pela economia. E, ainda que estejamos no começo da sua influência, já deslizes se notam de profunda repercussão na vida das Nações. Está generalizada a ideia, que supomos errada, de que todas as sociedades humanas podem, começar o seu desenvolvimento económico pela industrialização e que o grau de industrialização atingível é igual em todos os povos. Errou-se na avaliação dos capitais disponíveis para o desenvolvimento do mundo e nalgumas partes se houve de voltar atrás em programas ambiciosos de créditos e subsídios, para não se alterar a estabilidade económica e financeira dos países doadores. Errou-se ao considerar que a economia se pode basear não no trabalho próprio, não na técnica própria ou importada, mas na generosidade alheia e em outros valores morais para que incessantemente se apela. A luz que intensamente se projecta na vida material, no desenvolvimento económico, nos aumentos indefinidos dos níveis de vida vai deixar na obscuridade toda a parte espiritual do homem, do que me parece dever esperar-se o tempo materialista por excelência, a época dos povos ricos sem alma.

Disse que a economia tende a dirigir a política; mas a técnica, essa, quer substituí-la. Ora, sendo a política indispensável ao governo dos povos, o facto só pode verificar-se se a técnica for em si mesma uma política. Pergunto se é. O avanço das ciências aplicadas aos processos de trabalho abriu à produção e ao funcionamento dos serviços larguíssimas perspectivas. Isso é bem, pelas facilidades que cria e a maior produtividade que dá ao trabalho, e representa um benefício inestimável, dados os aumentos da população e a crescente complexidade da vida. É duvidoso que possa ir além disto; é sobretudo pernicioso que se tenda a converter o homem em engrenagem da própria técnica, que é para onde se caminha. Até aqui a política definia o que devia fazer-se; a técnica ensinava como se devia fazer. Mas se à técnica, conduzida pela ambição do desenvolvimento económico, mediante o aumento da produção, cabe pronunciar-se sobre a ordem das realizações e sobre a orientação da vida social, é ela também competente para traçar uma política, e nós sabemos bem que ideologia em tais termos a inspira. Tem de salvar-se o homem, da tentação do abismo. Ele continuará a apresentar-se-nos como ser moral por excelência, embora com necessidades materiais, o que significa haver outro mundo, dever haver outro mundo para além daquele que a técnica e a economia podem criar.

Um dos fenómenos mais embaraçantes do mundo de hoje é a crise do direito internacional que uns observam como herança da sua civilização e outros desprezam para se instalarem, a seu gosto na terra. O alargamento da comunidade internacional não devia ter-se processado à margem da preparação dos Estados para aceitarem e cumprirem as normas que regulam por consenso geral ou por convenção expressa a vida de relação entre as nações; mas seguiu-se orientação oposta com o princípio da universalidade de todas as organizações internacionais, como se o registo de admissão equivalesse à garantia de observância das normas que as regulam, o que está demonstrado não ser exacto. A Organização das Nações Unidas tem feito - pecaminosamente - o máximo por condescender com práticas aberrantes e até com a defesa de supostos interesses de muitos países irrequietos e ambiciosos contra os legítimos direitos de outros. Apesar disso, o desequilíbrio das situações apontadas é de tal ordem que nós o podemos ver na base dos numerosos conflitos que se espraiam pelo mundo. O princípio de que nas épocas de crise a lei internacional é para cada Estado a que serve o seu interesse, sem respeito pelo direito alheio, lançou-nos no caminho das grandes confusões e dos máximos perigos.

Nesta ligeira referência a factos e erros da nossa era que a tornam desassossegada e infeliz, não podemos esquecer o maior de todos - a África em fogo.

O nosso ministro dos Negócios Estrangeiros6 tem feito numerosas exposições sobre a política externa nas quais os problemas de África e do Ultramar português têm tido o merecido relevo. Eu próprio me recordo de haver exposto com alguma largueza o enquadramento da nossa política ultramarina tanto na evolução contemporânea de África como no nosso direito constitucional e na política interna. Não me repetirei; actualizarei apenas as situações, referindo-me aos factos mais recentes.

Mau grado os esforços da Organização da Unidade Africana, são cada vez mais vincadas as divisões e incompatibilidades que uns aos outros opõem os países daquele Continente. Vários ao sul do Equador dão mostras de não confiar no desinteresse dos árabes que se propõem conduzi-los. Por outro lado, estes e alguns outros pretendem chefiar a revolução africana, não já e apenas no sentido da independência dos territórios coloniais mas no da adopção de uma política, ideológica e economicamente sustentada pelo bloco comunista. A revolução de Zanzibar e a formação da União com o Tanganica7 cavaram urna brecha difícil de colmatar. Particularmente por ali, mas também pela costa ocidental, entram as ideias, os homens, as armas que se propõem atingir o coração de África, para o domínio comunista desta.

Como nenhum país africano tem ao presente desenvolvimento económico e social que permita a realização do comunismo, o apoio do referido bloco representará sobretudo a substituição das posições ocidentais, no que respeita à Europa, e um perigo para a independência da África no que respeita àquele Continente. O chamado socialismo africano não pode ser mais no nosso tempo que a expropriação e em muitos casos a espoliação dos bens, meios de trabalho e empreendimentos que os europeus ali fizeram surgir. O racismo negro, no que tem de irredutível cora a presença do branco, pode ser visto como a explosão duma incompatibilidade étnica, um desagravo ou um desforço, mas, aos olhos de muitos agitadores, é também uma operação económica, aliás fracamente reprodutiva pela dificuldade de organizar o trabalho e manter o nível da produção com, elementos locais.

Assim as nações europeias que cederam as posições políticas mas entendiam que, apesar de tudo, lhes seria possível continuar a guiar os povos africanos independentes, pela superioridade da técnica, pela força do capital emprestado ou gratuitamente cedido, pelo brilho da cultura, têm de haver-se agora com concorrentes difíceis e estranhos ao Continente africano que, além de implicações económicas e políticas, comprometem a obra ali empreendida.

Há semanas a esta parte elementos subversivos vindos do Tanganica, directamente ou através do Malawi, romperam em Moçambique com as acções anunciadas de sabotagens e morticínios dos portugueses negros. Tentam que os casos da Guiné e de Angola se repitam ali com o auxílio e colaboração do Tanganica, embora até ao presente sem intensidade comparável aos primeiros, porque nos encontraram preparados e atentos. Constituindo aquele território um Estado membro da Comunidade britânica, somos levados a crer que a Inglaterra, sem falar em obrigações de alianças, entende não estar em condições de dizer uma palavra de moderação a um membro da Comunidade que se comporta tão ao arrepio da correcção jurídica e política devida a Estados vizinhos. Em compensação a defesa contra ataques, protegidos nos países de onde partem, começa a ser aceite pelas potências, como comportamento normal e inteiramente justificado.

Este o teor em que vai o mundo e é dentro deste quadro que havemos de defender os territórios nacionais. É uma pena que os três milhões e meio de contos gastos anualmente nesta defesa, além dos muitos centos de milhares que as grandes Províncias despendem com o mesmo fim, não possam ser aplicados aqui e lá em estradas, portos, escolas, hospitais, aproveitamento de terras, instalação de indústrias ou exploração de minas. Com tais somas se podia fazer a relativa felicidade de muita gente em vez de lhe perturbar e sacrificar a vida, alimentando a - vaidade de ideólogos ou de aventureiros que um dia sonharam com impérios afinal inacessíveis às suas ambições.

Estas importâncias assim gastas nas províncias ultramarinas não serão mal empregadas? O problema não pode pôr-se-nos assim, mas só em face da imperiosidade do dever político e das possibilidades nacionais. O cumprimento do dever não tem de ser contabilizado; as possibilidades são as do nosso trabalho que, se tiver de ser mais penoso e longo, o será sem hesitações.

Sei que em espíritos fracos o inimigo instila um veneno subtil com afirmar que estes problemas não têm solução militar e só política e que todo o prolongamento da luta é ruinoso para a Fazenda e inútil para a Nação. Eu responderei que o terrorismo que somos obrigados a combater não é a explosão do sentimento de povos que, não, fazendo parte de uma nação, conscientemente aspirem à independência, mas tão-só de elementos subversivos, estranhos na sua generalidade aos territórios, pagos por potências estrangeiras, para fins da sua própria política. Como elementos alheios à colectividade nacional estiolar-se-ão no momento de lhes ser recusado o território em que se organizam, e treinam, o apoio político recebido e os subsídios cru armas e dinheiro. De modo que a tal solução política, se não prevê a desintegração nacional (que todos fingem repelir), não se encontra em nós próprios mas nos países vizinhos, aos quais, pelos meios ao nosso alcance, possamos ir fazendo compreender melhor os seus deveres de Estados responsáveis para connosco e para com uma pobre gente que estupidamente se faz sacrificar a interesses alheios. Mas neste entendimento a defesa militar é o único meio de chegar à solução política que no fundo é a ordem nos territórios e o progresso pacífico das populações, como o vínhamos prosseguindo.

Vamos em quatro anos de lutas e ganhou-se alguma coisa com o dinheiro do povo, o sangue dos soldados, as lágrimas das mães? Pois atrevo-me a responder que sim. No plano internacional, começou por condenar-se sem remissão a posição portuguesa; passou depois a duvidar-se da validade das teses que se lhe opunham e acabaram muitos dos homens mais responsáveis por vir a reconhecer que Portugal se bate afinal não só para firmar um direito seu mas para defender princípios e interesses comuns a todo o Ocidente. No plano africano, quatro anos de sacrifícios deram, tempo a que se esclarecesse melhor o problema das províncias ultramarinas portuguesas, a diversidade das instituições criadas em séculos naquele Continente e os ganhos ou perdas, em todo o caso as dificuldades que a independência, tão ambicionada por poucos, trouxe a todos os mais e os dirigentes não sabem ainda como resolver. Assim, bastantes povos africanos nos parecem mais compreensivos das realidades e mais moderados de atitudes. Eis o ganho positivo desta batalha em que - os portugueses europeus e africanos combatemos sem, espectáculo e sem alianças, orgulhosamente sós.

III
Agora umas palavras sobre o ambiente político interno que adivinho denso e carregado de dúvidas e preocupações. Eu compreendo isso e, ao aflorar certas causas da perturbação mundial, de algum modo e em parte o explico também. Devido a jogo inextricável de interdependências, uma parte da vida da Nação sofre as pressões externas - doutrinárias, económicas ou políticas - a que não tens possibilidade de esquivar-se. E assim, correndo mal os tempos no mundo, difícil seria que pudessem correr aqui inteiramente bem. Mas, além disso, temos causas privativas de mal-estar.

Enfrentamos guerras no Ultramar que não se sustentam nem hão-de vencer sem sacrifícios de sangue e de dinheiro. Por isso os impostos tiveram de ser agravados e é ainda possível que, nas vastas reformas publicadas, algumas incidências não realizem a justiça e por isso mesmo não correspondam à vontade do legislador.

Uma série de maus anos agrícolas havia de saldar-se por perdas vultosas tanto para o proprietário da terra como para o agricultor. Atravessamos um ano excepcionalmente seco que prenuncia, a continuar assim, urra estio sem águas de rega e graves dificuldades no abastecimento para o próprio consumo corrente. A indústria, que trabalha ao abrigo das irregularidades climatéricas, tem-se multiplicado e progredido satisfatoriamente, mas, devido ao excesso de população que trabalha nos campos, o progresso daquela não beneficia proporcionalmente os homens da terra que se refugiara na emigração, aliás em desordem muitas vezes e em excesso injustificado, originando crises de mão-de-obra em vastos sectores rurais. O abastecimento público tem podido manter-se em termos quase normais mas muitos preços têm subido, com os correspondentes gravames para as economias mais débeis.

Quando estes fenómenos se verificam e nestas proporções, a população tem a tendência para intensificar e acelerar pressões no sentido de ver aumentadas as remunerações do trabalho, pensando esquivar-se às dificuldades comuns. A experiência largamente vivida pelos povos é a da inutilidade ou nocividade desses remédios, porque as altas salariais se reflectem nos preços e estes no valor da moeda, tudo voltando ao começo. A obra de maior vulto realizada pelos Ministros das Finanças dos últimos quarenta anos foi exactamente conseguir manter o equilíbrio financeiro e a estabilidade monetária, que estão na base do nosso progresso e é necessário conservar para podermos subsistir; e por esse motivo, salvo nos casos de ajustamentos impostos por imperiosa justiça, não devemos aceder à onda de aparentes facilidades que aliviam o dia de hoje, comprometendo o futuro. A mim se me afigura especialmente absurdo que, tendo como Nação, de fazer face a maiores despesas, queiramos sempre, na imitação desequilibrada de modas alheias, ganhar mais e desejemos ao mesmo tempo trabalhar menos.

Durante a última grande guerra me aconteceu algumas vezes receber altas personalidades britânicas para negócios graves, e notar-lhes o fato velho, coçado, fimbriado nas mangas. Chegava a comover-me observar esses sinais de pobreza que não havia pejo em mostrar, porque representavam afinal o sacrifício conscientemente feito ao fim supremo da luta em que a sua nação se empenhara. Sei que não estamos em termos comparáveis e talvez por essa razão não vemos isso aqui, antes em certos casos o espectáculo da riqueza que se alardeia e quase afronta pelo exagero com que se manifesta. Por mim desejaria que fôssemos mais modestos e, sobretudo nestes momentos de crise, mais discretos também.
O facto de ter-se anunciado e começado a executar um plano que se chamou de reconversão agrária, alertou a muitos, porque não foram inteiramente compreendidos os fins, os métodos, as cautelas a ter na longa transição: nada, a não ser a incompreensão, devia causar receios ao nosso meio agrícola. Eu sou um rural e, embora em situação diferente, vivi duas guerras, uma em que interviemos activamente nos quadros de uma aliança, outra em que não batalhámos mas houvemos que organizar a defesa nos quatro cantos do mundo. Daí vem compreender o campo e conhecer as necessidades vitais que o campo tem de satisfazer. Independentemente do que se possa chamar a poesia campestre, que atrai os sorrisos um tanto desdenhosos da economia industrial, por mim, e se tivesse de haver competição, continuaria a preferir a agricultura à indústria; mas se quereis ser ricos não chegareis lá pela agricultura, ainda que progressiva, e industrializada, neste País de solos pobres e climas vários. A terra é humilde, tanto que se deixa a cada momento pisar; o trabalho da terra é humilde, porque o homem a cultiva, humildemente debruçado sobre as leivas; o fruto do trabalho ria terra é pobre porque está rio início de um ciclo de operações comerciais ou industriais destinadas a valorizá-lo ou a enriquecê-lo. Assim a faina agrícola, sujeita à torreira do sol ou à impertinência das chuvas, é acima de tudo uma vocação de pobreza; mas o seu orgulho vem de que só ela alimenta o homem e lhe permite viver. Quando se governa um país, e se nos deparam os mercados difíceis, os mares impraticáveis, as bocas famintas sem saber de onde há-de vir um bocado de pão, a terra pobre, a terra humilde sobe então à culminância dos heroísmos desconhecidos e dos valores inestimáveis.

Ao afirmar-se a necessidade de corrigir o fácies agrícola do País, alargando a floresta às serras nuas e aos campos que cobrimos de searas pobres, não se pensou em desertar da cerealicultura, mas na possibilidade de ter searas mais rendosas ou culturas mais ricas noutros terrenos e deixar ao mesmo tempo que as árvores cresçam onde o trigo não grada. 

Deste modo mais intensa florestação do País não significa a diminuição das culturas, o êxodo dos trabalhadores, o abandono do pão que cultivamos, aliás, sem grandes condições para isso, e teremos de pagar, mesmo se caro, como quem paga um seguro de guerra.

Tem-se falado muito nos defeitos da nossa estrutura agrária, que são evidentes e mais evidentes se tornarão a todos os interessados na medida em que pudermos corrigi-los. Mas, talvez por não termos bem definido os termos da questão fundamental que é a relação da cultura com a propriedade, houve sobressaltos injustificados, pois logo se enxergaram repercussões na pequena horta familiar ou na herdade extensa de bem equilibrada cultura. Isso nasceu do amor à terra que gira no sangue das nossas veias mas não se justificava nem em face das intenções nem de quaisquer providências tomadas.

Grandes e pequenas coisas se têm, acumulado a empecer-nos o caminho, umas apenas na imaginação sobressaltada, outras nos factos reais da vida. Mas o que houver, que rever-se há-de sê-lo, não na precipitação mas na calma do nosso melhor entendimento.

IV
Compreende-se bem que, neste emaranhado de problemas e de soluções possíveis, de adversidades que nos chovem como castigo do céu e de dificuldades nascidas da política mundial, seja fácil criar aqui dentro ambientes de dúvida e de perturbação. Disse que uma parte da vida nacional flui das interdependências externas; mas outra parte, a mais importante e grave, somos nós a determiná-la, a tomar dela a responsabilidade plena. E um povo que toma, diante de, si mesmo e à face dos imperativos da sua história, a decisão viril de resistir, porque sabe que precisa de resistir para sobreviver, há-de tirar desta mesma decisão as forças necessárias para enfrentar as dificuldades. Penso assim que o Ultramar não pode ser para nós fonte de desânimos mas, ao contrário, do mais sadio optimismo.
Além dos portugueses de África que combatem nas fileiras ou defendem portuguesmente naquelas terras as suas aldeias e lavras, teremos já entre nós dezenas de milhares de homens e, não sei quando, centenas de milhares que viveram nos matos, se arriscaram nos mares e nas selvas, jogaram a vida pela Pátria e viram no Ultramar projectada a Nação na sua verdadeira grandeza. Que podem significar para estes homens umas oposições que conspiram com o comunismo em, Paris ou em Argel para lhe entregar Portugal, ou aquelas, mais moderadas embora, que se limitam a ver se podem conquistar o poder, sabendo todos, pela imprecisão da sua linguagem, que perder a batalha aqui ou lá é tudo a mesma coisa? E não estaremos nós à altura dos que se batem, não só por eles e por nós mas pela justiça que nos assiste e pelo bem dos povos a que nos devotámos?

Quando a União Indiana se apossou de Goa, o que internacionalmente se concluiu foi que obteve minas ricas de ferro e manganês e ficara com um porto como não havia outro em, todas as suas costas; e parece não ter acudido à mente de ninguém que havia ali também, uma alma e uma cultura indo-portuguesa, amorosa criação de quatro séculos e meio de trabalhos e sacrifícios. Pois por este motivo já quase não trabalham as minas, nem se desenvolve o porto de Mormugão; e a União Indiana, para aumentar de uma polegada o seu imenso território, forjou, cravando-o no seu seio, mais um factor de divisão na profunda divisão que a agita. Nunca houve tantos portugueses nem tão elevado sentimento português em Goa a enfrentar autoridades tirânicas, no mesmo território que a hipocrisia de muitos diz «libertado da opressão» portuguesa.

Esta lição que o mundo agora colhe do nosso sofrimento, não queremos que levianamente a tire dos outros territórios que constituem a Nação portuguesa. Mas este não querer tem um segredo que é sabermos bem, porque nos batemos, isto é, as razões da nossa luta nacional.
Humildemente confesso não ter conseguido em tantos anos duas coisas que aliás se me afiguravam essenciais: convencer os governos de que precisavam de um apoio político para a sua acção e de que esse apoio só podia advir-lhes da União Nacional; convencer a União Nacional de que a formação política não pode ser abandonada a acasos de leituras ou de influências familiares mas a uma doutrinação sistemática e persistente.

Em face de nós só dois agrupamentos levam na devida conta a formação dos seus adeptos - a Igreja e o comunismo. Embora, conforme a frase de Tertuliano, a alma humana seja naturalmente cristã, desde sempre entendeu a Igreja não poder existir sem uma doutrinação activa que ilustrasse os entendimentos no dogma, e afeiçoasse as consciências às práticas da sua moral. Assim a Igreja pode cristianizar a nação e pode até cristianizar o Estado; e parece-me dever ficar por aí, pois não pode substituir este nem conduzir os negócios daquela na ordem material ou profana. E se, esquecendo amargas experiências históricas, se sentisse tentada a intervir na acção política, não devia fazê-lo, porque, à medida que vemos materializar-se a vida, se torna mais e mais absorvente a missão espiritual da Igreja.

O comunismo que também quer ser à sua moda religião, trabalha como uma igreja, doutrinando e formando os seus adeptos, com largueza de meios e base científica dignos da melhor escola, mas tão eficientes que, sendo a doutrina comunista antinatural, mesmo contra a natureza consegue fiéis que se lhe entregam inteiramente e por ela morrem, se necessário.

Na carência a que me referi e no que é essencial, o que nos tem valido é o fundo ainda consistente da lusitanidade, as lições da história e o exemplo dos seus valores, a sã tradição de nossos maiores que os acontecimentos políticos dos últimos séculos não conseguiram obliterar. Mas para conquistar uma adesão firme, formar um soldado de uma causa desinteressada, granjear-lhe a dedicação incondicional, é precisa a acção constante de uma doutrinação esclarecida. Quando o inimigo sentiu que organizações nossas podiam ser o fermento duma nova sociedade ou forças de estabilização necessária na época agitada em que se tem vívido, logo iniciou a campanha necessária ao seu descrédito. E muito bem, diante da nossa indecisão, porque ele sabia o que lhe convinha e nós dávamos provas de ignorar o de que tínhamos necessidade.

Pois bem, se o Centro de Estudos Políticos que existe aqui fizer irradiar de si a luz que ilumine, o calor que aqueça sobretudo as almas jovens, naturalmente generosas e sedentas, nós podemos estar certos de que não serão abalados os alicerces nem com eles o futuro desta Nação.



1. Formado por António Júlio Castro Fernandes (presidente), Armando Cândido de Medeiros, Arnaldo Pinheiro Torres, Francisco Casal Ribeiro e Francisco Soares da Cunha.
2. A guerra em Angola tinha começado em 1961, na Guiné em 1963 e em Moçambique em 1964. Entretanto tinha sido perdido Goa, invadida e ocupada em Dezembro de 1961 pela União Indiana.
3. As eleições para os 120 deputados à Assembleia Nacional realizaram-se em 7 de Novembro de 1965.
4. A eleição realizou-se em 25 de Julho de 1965, tendo sido reeleito o almirante Américo Tomás.
5. De facto, Hitler prometeu um novo Reich alemão (o 3.º) para mil anos, que seria equivalente ao 1.º - medieval (o Sacro Império) - que tinha durado de facto 1.000 anos: do ano 800, data da coroação de Carlos Magno, a 1806.
6. Franco Nogueira (1918-1993) tinha sido nomeado ministro em 4 de Maio de 1961, após a tentativa de golpe de Estado do general Botelho Moniz, substituindo Marcelo Matias.
7. União que deu origem à actual Tanzânia em 26 de Abril de 1964.


domingo, 27 de abril de 2014

sábado, 26 de abril de 2014

Uma "rica" liberdade


Um limite objetivo aos devaneios oportunistas da 'esquerda',

(via António Maria)

Há em Portugal um limite objetivo aos devaneios oportunistas da 'esquerda', que esta nunca entendeu, por ser em regra dirigida por cabeçudos anestesiados com ideologias requentadas, quando não completamente obsoletas.

Em Portugal há, sensivelmente:

  • 10,6 milhões de portugueses
  • 11,7 milhões de prédio rústicos 
  • 305 mil explorações agrícolas (36.681,45 Km2; 40% da superfície agrícola útil)
  • 7,9 milhões de prédios urbanos
  • 4,4 milhões de alojamentos (num total de mais de 5,8 milhões) ocupados pelos seus proprietários

Não é preciso saber mais nada sobre a sociologia do país. 


sexta-feira, 25 de abril de 2014

A gratidão pertence à história





A gratidão pertence à História, não à política. 
António Oliveira Salazar


Contextualização:
Com a 2ª Guerra Mundial a decorrer, os países que costumavam fornecer Portugal não puderam corresponder aos pedidos, pois a sua industria estava dirigida para o armamento.
Assim, Portugal teve que começar a produzir os seus próprios bens e para isso foi criada a Lei de Fomento e Reorganização Industrial - cujo objectivo era substituir as importações (mais uma vez aqui implicito, o principio de autarcia).
Com a entrada na OECE, a necessidade de planeamento económico foi reforçada e para isso foram criados três Planos de Fomento.

Os Planos:

I Plano
a) Reconhece a importância da industrialização;
b) Não esquece a vocação agricola do país;
c) Investimento de 7.5 milhões de contos;
d) Criação de infra-estruturas.

II Plano
a)Indústria transformadora de base foi privilegiada;
b)Visava a substituição das importações;
c)Lei do condicionamento industrial

III Plano - marca a inversão da política de autarcia do estado novo
a)Funcionamento do mercado;
b)Consolidação empresarial;
c)Política de exportações;
d)Captação de investimentos estrangeiros;
e)Apelo ao dinamismo empresarial.

Outros tempos, outras troikas


As verdades que não nos contam II

"Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suiça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa."
"Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República."

Marcelo Caetano sobre o 25 de Abril


As verdades que não nos contam

«Este livro [Minhas Memórias de Salazar] nasceu da revolta que me causou a revoada de infâmias disparada em Portugal e no estrangeiro acerca de Salazar após a revolução de 25 de Abril de 1974.

Não houve jornalista da esquerda (e os que o não eram calaram-se...) que não aproveitasse para denegrir Salazar falando sem conhecimento de causa mas repetindo invariavelmente os lugares-comuns postos a correr sobre ele na base da falsidade e da calúnia. O homem barrara durante quarenta anos o avanço do comunismo, não se conformara com abandonar as províncias do Ultramar português ao primeiro empurrão dos que as queriam transformar (como depois sucedeu) em trampolins de assalto ao chamado "Mundo ocidental", persistitu em sobrepor os interesses reais do povo que governava ao culto das abstracções ideológicas que vão infelicitando a Humanidade... Daí as iras, os ódios, os histerismos, as perfídias, os insultos que a sua figura e a sua acção provocaram em certos meios cada vez mais preponderantes na opinião que se publica.



Na crise de carácter em que soçobrou a sociedade portuguesa após o 25 de Abril de 1974 viu-se um espectáculo que, embora falho de ineditismo na História, não deixou de ser espantoso. Amigos da véspera apressaram-se a negar relações com os vencidos explicando a gaguejar que os contactos havidos tinham ocorrido mau grado deles, sem simpatia pelos chefes nem adesão às suas ideias. Discípulos fidelíssimos de outrora recusaram com vigor quaisquer vinculações aos que diziam antes serem seus mestres. Pessoas favorecidas por Salazar (que as houve e em grande número) clamaram contra a memória do benfeitor, declarando que tinha menosprezado méritos e serviços concedendo-lhes menos do que pretendiam, vítimas assim de tratamento injusto... Ninguém se atreveu - no ambiente das "mais amplas liberdades" em que toda a tolerância pelas ideias contrárias desapareceu - a arriscar uma palavra de tímida justiça no meio da torrente de odiosas mentiras jorrada sobre a memória do grande homem. Até para criticar os desmandos do presente era preciso começar por injuriar o passado. E ao verem o leão, não já moribundo, mas morto e bem morto, acorreram de toda a parte asnos, alguns que dantes orneavam de gozo ao receberem um complacente olhar dele, para despedirem seu par de coices bem puxado no inerte cadáver abandonado.

Fui amigo de Salazar e seu colaborador durante muitos anos. Num convívio tão demorado, com períodos de estreita colaboração, tivemos por vezes naturalíssimas divergências que não oculto, mas que por ele foram sempre aceites com tolerância e que mesmo quando o meu feitio assomadiço dos tempos da juventude lhe davam feição conflituosa nunca o levaram a atitudes radicais. O exemplo das nossas relações parece-me bem demonstrativo da personalidade de Salazar e por isso julgo útil dá-lo a conhecer sem ocultar aspectos que numa apologia talvez devessem ser silenciados. Porque o meu intento é revelar o homem tal como foi ou eu o vi e que, como todas as fraquezas inerentes à condição humana, é muito melhor do que surge na imagem deformada pelo ódio vesgo dos inimigos ou que a falta de informação das novas gerações e dos estrangeiros construiu sobre os lugares-comuns de uma campanha adversa.

Procuro também mostrar o estadista no seu tempo, inserido nas circunstâncias históricas a que teve de fazer face e rodeado pelos homens que com ele colaboraram e que seguiram, melhor ou pior, o seu pensamento e a sua acção ou para qualquer destas contribuíram.

Oliveira Salazar e Óscar Carmona
Nesse pensamento e nessa acção houve traços essenciais de doutrina e posições condicionadas pelas conjunturas em que tinham de se definir. Estas têm de ser avaliadas historicamente em função dos acontecimentos e oportunidades em que foram adoptadas. Mas aquilo a que chamei "pensamento essencial" constitui matéria de Filosofia Política e a sua validade não depende do tempo nem dos lugares. Os homens de hoje fariam bem em meditá-lo.

Porque começa a ser tempo de conhecer e de tentar compreender Salazar e a sua época antes de julgá-los. Por esse mundo criou-se a lenda do "ditador Salazar". E ao acoimar-se o governante português de ditador, logo aos olhos de muita gente com o cérebro lavado por uma propaganda insistente surge a imagem do tirano, indiferente às leis, absorvente de todos os poderes, espezinhador de todos os direitos, dispondo com arbítrio e arrogância de tudo e de todos numa constante afirmação de posso, quero e mando.

Assim se criou ao seu governo a reputação de um regime sinistro, sufocando o País onde as pessoas viviam oprimidas nos seus anseios, vigiadas nos seus passos, ameaçadas nos seus actos, amordaçadas na expressão dos seus sentimentos e opiniões, sujeitas a prisão por dá cá aquela palha com o risco de serem torturadas por uma polícia cruel.

Como era diferente a realidade! Poucos períodos da histórica política portuguesa decorreram sob tão grande preocupação da legalidade por parte dos governantes como os da vigência da Constituição de 1933. A experiência anterior demonstrara a tendência dos portugueses para confundirem liberdade com anarquia e a facilidade com que a vontade da maioria era manipulada por pequenos grupos e facções partidárias. Em 1926 existia um profundo e vigoroso anseio nacional de modificação das instituições e dos costumes governativos. E aceitava-se como verdade apodíctica que seria necessário limitar o exercício de algumas liberdades públicas interessando directamente a poucos para garantir a plenitude do gozo das outras que a generalidade das pessoas queria possuir e até aí não tinha. Porque destas dependia a segurança individual, a possibilidade do trabalho fecundo, o progresso real do País, a efectiva convivência cívica, a almejada paz social. E tudo isto Salazar garantiu durante quase meio século, com serenidade e com prudência, à sombra das leis e com o regular funcionamento das instituições, usando embora da autoridade.

Guerra Civil de Espanha (1936-1939)


Teria havido abusos da parte dos agentes da autoridade? Decerto que sim. Não conheço, porém, país ou regime que, no decorrer dos quarenta anos cobertos pelo governo de Salazar, anos de guerras quentes e frias, de revoluções, revoltas, conspirações e subversões, possa gabar-se de não ter conhecido abusos, e grandes, da autoridade ou da liberdade. Sim, também desmandos de liberdade, com avultada conta de vítimas e sequelas trágicas, como os da República espanhola - para não falar nas violências cometidas após a libertação de França ou com a queda do fascismo na Itália. O que se instaurou foi uma jurisprudência que perdoa e aplaude tudo quanto se passa desde que favoreça o que se julga ser a marcha progressista da História e condena em altos gritos, rasgando as vestes imaculadas da humanidade ofendida, aquilo que seja considerado ao arrepio do que convém.

Se não fosse o largo consenso em que se fundava o regime da Constituição de 1933, acaso teria sido possível mantê-lo durante quase meio século num pequeno País do extremo ocidente europeu, constantemente aberto à devassa indiscreta de todo o mundo e sujeito à influência das crises exteriores?

Quando após o 25 de Abril o atrevimento comunista quis impor-se ao País, o povo português soube repelir energicamente o totalitarismo marxista, mostrando com clareza que sabia o que queria. E era o mesmo povo que por diversas formas, incluindo o sufrágio livremente exercido, apoiara antes o regime cujo governo concebia a política como instrumento ao serviço do bem-estar da colectividade e não como jogo de egoísmos malabaristas em que, à sombra de bandeiras ideológicas alistadas em conluios internacionais, os partidos joguem aos dados as ambições de poderio.

Trata-se de um passado próximo. Mas que importa recordar, explicar, revivendo factos, ressuscitando personalidades, rectificando versões falsas ou tendenciosas. Porque esse passado está esquecido por muitos, é ignorado pela gente nova e está desfigurado, deturpado e vilipendiado pelo ódio de alguns».

Marcello Caetano («Minhas Memórias de Salazar»).



«Continuamos a gramar com uma das maiores falsificações jamais empreendidas em toda a história portuguesa, no âmbito da qual se procuram omitir os mais variados e hediondos crimes, traições e depredações perpetradas em nome da liberdade e dosocialismo revolucionário. Referimo-nos, obviamente, ao 25 de Abril de 1974, na sequência do qual o povo português ficou definitivamente amordaçado por poderes e organizações internacionais apostadas na instauração da Nova Ordem Mundial. A campanha, já um tanto desesperada, recebe o apoio incondicional de escolas, fundações, universidades e de quase todos os meios de comunicação de massas em que se perpetua a enormidade vil e falaciosa de que devemos aos "capitães de Abril" a suposta liberdade e a nominal democracia que não vemos em lado nenhum.

Querem-nos, pois, fazer crer que a revolução comunista de 74 nem sequer chegou ao ponto de derramar sangue, salvo um ou outro episódio esporádico. E perante esta manobra de desinformação sustentada por praticamente toda a classe jornalística, política e universitária, fazem vista grossa das centenas de milhares de mortos em Angola, Moçambique e na Guiné Portuguesa, de que - verdade se diga - os tais capitães são tão criminosamente responsáveis que só um Tribunal de Guerra poderia ter feito justiça perante a barbárie e a selvajaria para as quais tão zelosamente contribuíram. Aliás, não há nada como ler a seguinte passagem sobre o primeiro êxodo na Província Ultramarina de Angola:

«Desde 4 de Fevereiro de 1961, a guerra em Angola causara 3 423 mortos - menos de metade dos quais em combate e, entre estes, a maioria por rebentamento de minas. Mas entre Maio e Agosto de 1974, morreram mais soldados portugueses do que durante todo o ano de 1973» (in Alexandra Marques, Segredos da Descolonização de Angola, D. Quixote, p. 49).

Ou pior ainda:

«(...) À Rádio Voz do Zaire [o] conselheiro da Revolução [Vítor Alves] referiu que "o número de vítimas provocado desde Março pela violência em Angola já era superior ao causado pela guerra colonial naquela ex-colónia". Ferreira de Macedo falara em 2.000 a 3.000 mortos, mas ter morrido durante três meses mais gente do que em 14 anos de guerra colonial era um termo de comparação pouco lisonjeiro para os nacionalistas» (ibidem, p. 320).

Segue-se ainda outro passo referente a Luanda:

«(...) Depois dos seus domínios serem invadidos por indivíduos armados à procura de armas, de serem despejados à força das suas casas, de serem ameaçados, agredidos ou mortos, no dia seguinte (1 de Maio de 1975) centenas de brancos protestaram junto ao Palácio, exigindo meios para deixar Angola. A multidão insultou a tropa por não os proteger: "Derrubaram o gradeamento e os portões mas foram travados na porta pelo PM. [...] Queriam ir embora de Angola e gritavam: 'Estamos a ser mortos. Estão a violar as nossas mulheres'"» (ibidem, p. 303).


Por fim, fiquemos com mais este passo de contornos dantescos e apocalípticos entre os demais:

«(...) Malange tornara-se um imenso cemitério a céu aberto: "Milhares de pessoas mortas, na sua maioria africanos, que estavam ainda insepultas quando se abandonou a cidade. O Batalhão apenas conseguiu enterrar numa vala comum com cerca de 100 metros, cobrir de cal viva ou queimar no local onde se encontravam, umas escassas centenas de mortos"» (ibidem, p. 388).

De resto, e a par da impunidade relativa a todos os agentes criminosos implicados no 25 de Abril de 1974, o subterfúgio ardiloso mas rotundamente perverso e idiota tem passado pelo seguinte: a culpa é toda do ditador que não soube negociar, entregar ou vender a tempo o Ultramar Português. Pois claro: se Salazar, perante uma ofensiva mundial com vista a expulsar os Portugueses de África, enveredasse por um tal caminho, seria então fácil - e com razão - dizer que todo e qualquer descalabro tinha sido responsabilidade sua. Mas como o não fez, ou como, no seu zelo pelas populações de Além-Mar, quis salvaguardar a segurança, a prosperidade e a vida dessas mesmas populações - e com elas Portugal -, passa a serretroactivamente culpado pelo acto de quem realmente se comprometeu numa escalada de violência - mais que prevista e antecipada -, conducente à total destruição do que fora património nacional adquirido com muito sacrifício ao longo de inúmeras gerações. 

Entretanto, a verdade continua a não ter pressa. Mas, como tudo na vida, virá sempre ao de cima. É apenas uma questão de tempo».

Miguel Bruno Duarte