terça-feira, 21 de abril de 2015

A capacidade de transcendência

«Nós constituímos um regime popular, mas não um Governo de massas, influenciado ou dirigido por elas. Essa boa gente que nos aclama hoje, levada por paixões momentâneas, não poderá ser aquela que tende a revoltar-se amanhã, levada por outras paixões? Quantas vezes não me tenho deixado impressionar, comover, pela sinceridade clara, indiscutível de certas manifestações! Quantas vezes não me tenho sentido interiormente abalado, sacudido com o desejo quase irresistível, de falar ao povo, de lhe dizer a minha gratidão, a minha ternura. Mas quando o vou fazer, qualquer coisa me detém, qualquer coisa me diz: "Não fales! Arrastado pela emoção, pelo efémero, vais sair de ti próprio, vais prometer hoje o que não poderás fazer amanhã!" E conseguindo impor o seu perfil à própria treva cada vez mais espessa: -"Não posso mentir! Só poderei mandar, só me julgarei com autoridade para mandar, enquanto me sentir eu. A defesa do eu corresponde em mim à própria defesa da verdade. Se fosse arrastado por influências passageiras, se as minhas atitudes ou palavras fossem escravas do entusiasmo das multidões ou somente dos meus amigos, já não seria eu. E então não era honesto sequer que continuasse a governar.»
         - A.O.Salazar (In Entrevistas a António Ferro, pp.191)




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