Já em 1824 Frei Fortunato de São Boaventura descrevia com precisão o que era a democracia:
A falsa soberania popular;
“A questão que mais vezes me tem feito dar voltas ao juízo é a da soberania do povo. Havia sete séculos que se dizia que a soberania estava no Rei. (…) Todavia depois de 24 de Agosto começou a dizer-se que a soberania residia essencialmente na nação, isto é, a nação não é nação sem ser soberana!
(…) Assentemos de uma vez que nunca o Povo se diz soberano para outro fim mais do que cair toda a soberania nas mãos de um punhado de aventureiros que desta arte lhe fazem a boca doce, enquanto mui a salvo e a despeito da moral cristã e dos princípios mais vulgares de decência, vão enchendo a bolsa.
Desta soberania armada no ar entrei a desconfiar ainda mais quando vi seus efeitos práticos. Dizia-se que o povo havia de nomear quem lhe fizesse as leis e que El-Rei devia executá-las à risca. Mas na nomeação de deputados vi que tudo era ambição e maranha. O povo não sabia ler e nomeava por escrito quem os mais poderosos e os mais manhosos queriam para seus representantes. (…)
Mas quando eu vi o Salão das Cortes cheio de bandalhos e petimetres, tão fofos como um sapo inchado, vomitando sandices e minando os alicerces da Religião e da Monarquia, desenganei-me de que a tal soberania era uma farsa armada para certos fins.
Que diabo de soberania é esta (dizia eu) que traz inquieta a nação, espalha a impiedade, persegue os bons, desmancha a máquina da Monarquia, excita a guerra civil, provoca as tropas ultramontanas e prepara a anarquia? É para isto que foi proclamada a soberania do povo.”
Frei Fortunato de São Boaventura, retirado de "O Punhal dos Corcundas" (1824).
Guilherme Koehler