Há uns anos largos, era eu puto, uma jovem vinda de Lisboa perguntou-me se havia pastilhas elásticas em Castelo Branco. Não me recordo do que lhe disse, mas imagino-me a replicar que não, que por lá só havia chupas.
Era assim, no início dos anos oitenta, final de setenta. Os parolos migravam para Lisboa, chegados lá sentiam que tinham visto o mundo e o regresso à província era-lhes doloroso mas, ao mesmo tempo, um momento único em que exibiam a sua nova condição de civilizados.
O país evoluiu (risos), a paisagem transformou-se, a televisão a cores chegou, depois veio o cabo e houve alegria. Mas os nativos continuaram iguais.
Os parolos deslumbravam-se agora com as auto-estradas, com a integração europeia, com os programas made in Bruxelas, com aquilo que consideravam ser o progresso.
Começaram a viajar pela Europa, alguns aventuraram-se pelo exótico Oriente, tornaram-se cidadãos do mundo.
Espiritualmente também evoluiram (risos outra vez). Deixaram de lado as crenças de antanho, a própria palavra antanho era-lhes repugnante (sobretudo por não saberem o que significava, mas sabiam que lhes recordava o campo e os idosos reaccionários).
Importaram crenças progressistas, adoptaram causas, sentiram-se bem e viram-se como Deus- a sua obra era boa. Fizeram uma tatuagem, adoptaram novos ídolos, disseram que não tinham ídolos, eram eles, verdadeiros monumentos a Píndaro e Nietzsche. Se alguém lhes falasse no primeiro esboçariam um sorriso, mas ao saberem que era grego respiravam fundo e mostravam-se saudosos. Grécia, a Grécia, era o primeiro paraíso lgbt.
O país foi para a frente e assim continuou. Mas era ainda pouco. O progresso exigia mais. O tofu correu, os animais libertaram-se. Era agora ofensivo chamar-lhes animais, eram mais que irmãos, eram nossos pais, nossos filhos, nossos amantes, enchendo a solidão do t1 da Buraca preenchido com lembranças de viagens pelo mundo.
Foi assim no espaço de trinta anos. Não sei quando começou o mal, quando entrou em nós. Sei que se agravou depois da entrada na CEE. Aos pretos, nos Descobrimentos, levava-mos espelhos e contas e eles encantavam-se. A nós, cafres da Europa, deram-nos crédito, artefactos electrónicos e viagens. Sorrimos e sentimos-nos grandes. Lamentámos os velhos que lá pelo Interior ainda acreditavam em Deus e nunca fizeram reiki nem andaram em marchas pelo clima.
JV
segunda-feira, 27 de maio de 2019
sábado, 25 de maio de 2019
Dedicado à geração mais bem preparada de sempre
"Quando o seu filho ou filha quiser fazer greves pelo clima, tire-lhe o telemóvel, o pc, as baterias não são ecológicas, nem construir processadores, temos de salvar o planeta com medidas concretas, não se salva o planeta a fumar charros.
Para cultivar a horta nada de máquinas, é farpão na mão e enxada seus hipócritas /ignorantes.
Vamos a andar a pé, nada de viagens ao quintos dos infernos de avião, comboio, vão de burro montado em vocês.
Vão mas é trabalhar e deixem de ser marionetas de políticos."
GC
Para cultivar a horta nada de máquinas, é farpão na mão e enxada seus hipócritas /ignorantes.
Vamos a andar a pé, nada de viagens ao quintos dos infernos de avião, comboio, vão de burro montado em vocês.
Vão mas é trabalhar e deixem de ser marionetas de políticos."
GC
quinta-feira, 23 de maio de 2019
quinta-feira, 2 de maio de 2019
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