Os tiros de revólver que, a 28 de Junho de 1914, assassinaram o Arquiduque Francisco Fernando, abateram uma figura emblemática da antiga soberania e anunciaram a queda da monarquia dos Habsburgos: um acontecimento cujo alcance simbólico se pode considerar análogo ao da Revolução Francesa.
A Grande Guerra, entre cujas causas se contava a rivalidade que opunha as grandes potências, apelou aos sentimentos patrióticos e parecia assim não se diferenciar das guerras do século XIX, travadas em nome das nações. Tratava-se, contudo, de outro género de conflito. Os homens que o desencadearam e os povos que nele participaram não ignoravam a sua natureza, os seus custos e as suas consequências.
As democracias do século XX não trouxeram somente o sufrágio universal a todos os cidadãos, mas também a participação na primeira "guerra de massas" da História. Esta guerra de massas tinha de ser necessariamente ideológica. O sentimento de lealdade e de fidelidade que ainda arrebatava os soldados do Império Austro-Húngaro, encontrava-se esmorecido nas novas democracias que tiveram de recorrer a um propulsor ideológico para conseguir mobilizar as massas e manter os soldados, durante quatro longos anos, dentro das trincheiras que sulcaram o coração da velha Europa. Tanto a ideologia bolchevique, como a que movia os países aliados pretendiam, por diferentes vias, levar a cabo a herança da Revolução Francesa. Para esse fim, propunham-se a eliminar os últimos vestígios do trono e do altar, instaurando na Europa a "democracia universal".
Iniciada como uma guerra comum, a 1ª Guerra Mundial, termina - segundo o historiador húngaro François Fejtő - como uma guerra ideológica de massas que tem como objectivo "republicanizar e descatolicizar a Europa", concluindo, no plano nacional e internacional, a obra que a Revolução Francesa deixou inacabada (...)
Roberto de Mattei em "A Soberania Necessária - Reflexões sobre a crise no Estado moderno"
Publicado por Guilherme Koehler
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