Não tenham medo da Rússia: a saúde, a força e o orgulho nunca fizeram mal a ninguém; a inveja e a mesquinhez, sim.
Na sequência da intervenção de Putin e das medidas tomadas pelo Banco Central da Rússia, o rublo valorizou 22% em relação ao dólar e 17% face ao Euro. No dia em que Jacques Sapir, talvez a maior autoridade em mercado russo, se mostra estupefacto pela capacidade de resistência e reacção russa à guerra cambial, os nossos jornais persistem na versão catastrofista. De 72 rublos por um 1 dólar, o câmbio desta manhã já se fazia a 62 rublos por dólar, sendo que o objectivo desejável seria o de regressar aos 55 rublos por dólar, ou seja, o preço do barril de petróleo. A actual crise não é, pois, económica, como nota Sapir, pois a evolução estrutural verificada desde 1998 foi importante em sectores relacionados com a alta tecnologia, nomeadamente a indústria aeronáutica, a produção automóvel e sistemas de armamentos. A Rússia não é mais um país com bolsas caracterizadoras de subdesenvolvimento.
Afinal, a guerra cambial mostra mais a impotência do rico gordo, idoso e cobarde (o Ocidente) que um suposto vigor face ao inexistente "perigo" russo. Tratou-se, bem entendido, de uma mesquinhez de cambista, resultante da contracção da procura de petróleo, da humilhante cedência dos vassalos sauditas face a Washington e de uma retaliação escusa a respeito da situação na Ucrânia. O Ocidente terá agora de desencantar 300 mil milhões para retirar a Ucrânia do patíbulo - é esse o valor da dívida ucraniana - e obrigar a Rússia a dedicar prioridade às questões internas. Ora, em 1998, a Rússia possuía reservas de 30 biliões de dólares; hoje possui 500 biliões. Putin não é Yeltsin, o regime de Putin não está à mercê das redes associadas à plutocracia internacional, a economia russa não está exposta a sabotagem que noutros azimutes levou ao colapso por inteiro de sociedades. A Rússia concentra-se, como diria Gorchakov. O Heartland só perde quando invadido. Que eu saiba, nunca os cambistas e agiotas tiveram coragem para fazer uma guerra. O ethos de um estadista, contrastando com o do vendedor de bazar, assenta na defesa do interesse do Estado. Em bom português vernacular - que viva o português chão - a civilização do bazar não percebeu que Putin é "areia demais para a camioneta" dos pobres colarinhos brancos que nos governam.”
Miguel Castelo Branco
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