Por José Manuel Moreira,
O BPN tornou-se marca de um capitalismo de Estado assente na promiscuidade entre o poder político e as empresas do regime.
Na última semana - por via de mais uma acusação a João Rendeiro, do livro de Jardim Gonçalves e da entrevista a Ricardo Salgado - a ligação da Banca ao mundo da política e dos negócios ganhou de novo palco mediático. Uma perversidade que com o BPN se tornou marca de um capitalismo de Estado assente na promiscuidade entre o poder político e as empresas do regime.
Curioso é que há sempre quem estranhe a boa imagem das pessoas e empresas envolvidas na trama. No caso do BES com muito verde. O segredo está em evitar a palavra ética, tida como fora de moda. Substituindo-a por expressões mais simpáticas: "responsabilidade social da empresa" (RSE) e afins, como "sustentabilidade" e "desenvolvimento sustentável". Uma tendência acreditada pelos media e seguida em escolas de negócios: hoje parques infantis para adultos. Foi assim que ‘business ethics' deu lugar a conceitos cientificamente mais manipuláveis e politicamente mais correctos. Como acontece na UE: terra de catástrofe demográfica onde pululam peritos e organizações que vivem da nova indústria de fabricação de relatórios sobre RSE e/ou sustentabilidade.
Curioso é que há sempre quem estranhe a boa imagem das pessoas e empresas envolvidas na trama. No caso do BES com muito verde. O segredo está em evitar a palavra ética, tida como fora de moda. Substituindo-a por expressões mais simpáticas: "responsabilidade social da empresa" (RSE) e afins, como "sustentabilidade" e "desenvolvimento sustentável". Uma tendência acreditada pelos media e seguida em escolas de negócios: hoje parques infantis para adultos. Foi assim que ‘business ethics' deu lugar a conceitos cientificamente mais manipuláveis e politicamente mais correctos. Como acontece na UE: terra de catástrofe demográfica onde pululam peritos e organizações que vivem da nova indústria de fabricação de relatórios sobre RSE e/ou sustentabilidade.
Entretanto, a mesma imprensa lamenta a insustentabilidade em muitas áreas da sociedade: da saúde à segurança social, sem esquecer as dimensões mais políticas, económicas e financeiras. E berra contra a falta de ética: das fraudes, multas e provisões por más condutas à manipulação de informação e escândalos de corrupção. Mas sem querer ver que os malditos são os seus validos. Os instalados - os homens do sistema - que de forma activa ou cúmplice arruinaram os seus países. Alguns com currículo invejável, e todos insuspeitos: graças ao bom uso da "porta giratória" entre cargos políticos e empresariais e ao carinho com que os media seguem o seu papel em organizações dadas a boas práticas e a nobres causas sociais, com cultura sempre à mistura.
Gente bem que só quando apanhada - coisa que, entre nós, não implica condenação - põe a nu o efeito de modas sem referência à ética. Com a RSE a poder justificar-se por imagem e reputação, por posicionamento no mercado ou até por interesses económicos e restrições legais. E a sustentabilidade a correr o risco de ser sinónima de permanência no tempo: esvaziando-se de conteúdo e força, de modo a abarcar todo o tipo de actividades, incluindo as mafiosas, desde que apadrinhadas e bem acolitadas nos templos do regime.
Jim Stovall costumava lembrar que o essencial do comportamento ético, a que chama integridade, é fazer o "certo", mesmo que ninguém esteja a ver. Já no mundo novo o "certo" é para aparecer e dar nas vistas. Por sorte, o cidadão comum, depois de tantos passos perdidos, sente agora mais a perda dos filhos e da sua fecundidade, voltando a acreditar na reabilitação de um outro mundo: com pessoas mais sérias, sisudas, de palavra. E com menos circo: menos artistas, menos palhaços e menos invertebrados."
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