Há nisto tudo da Grécia, da reestruturação da sua dívida, algo a que só posso chamar estúpido.
A exigência de uma eliminação de 50% do montante em dívida, ou 160 mil milhões de euros, é absurda. A começar porque a mesmíssima coisa poderia ser teoricamente conseguida sem alterar um cêntimo do montante em dívida. Não é preciso ser economista para o compreender. Você deve-me 100 euros e tem a obrigação de mos pagar dentro de uma semana, acrescidos de 10 euros de juros. Se em face das suas dificuldades eu decidir que você não paga os juros, reduzo a coisa ao capital, e se em vez de mo devolver dentro de uma semana, eu lhe permitir que mo devolva dentro de um ano, é óbvio que não me vai pagar o mesmo, embora no contrato de dívida continuem lá os 100 euros: o capital em dívida foi reduzido sem alarde, mas foi. Pode até acontecer que dentro de um ano eu prorrogue o prazo para 10, e dentro de 10 anos eu lhe prorrogue o prazo de pagamento para... ponha aí o tempo que quiser.
Quanto maior for o tempo, menor é o valor que você me devolve, e toda a gente sabe disso sem ter de conhecer exactamente o conceito de «valor temporal do dinheiro», cuja fórmula de cálculo pode ser complicada, mas não a ideia. A Grécia foi já beneficiada com uma extensão enorme da sua dívida aos Estados da Zona Euro, que, nos termos actuais, só é completamente liquidada em 2054. A maturidade média da dívida grega é actualmente de 16,5 anos. Sempre que foram alargadas as maturidades e/ou diminuída a taxa de juro, a dívida grega foi reduzida, sem forçar os governos dos países credores a ter de reconhecer perante os seus eleitorados a realidade.
E a realidade é que eles, os eleitores dos países credores, estão, em cada alargamento dos prazos e em cada diminuição das taxas de juro - a Portugal, à Irlanda ou à Grécia - a perder dinheiro, a transferir dinheiro dos seus bolsos para os nossos bolsos. Discretamente, como tem sido feito, é possível conseguir-se muita coisa, envolvendo quantidades astronómicas de valor. Não é preciso agredir para o conseguir. Só em termos de remuneração da dívida em juros a Grécia foi já de tal modo beneficiada que, apesar de ter quase mais de 100 mil milhões de euros em dívida comparativamente com Portugal, pagou em 2014 muito menos juros.
O valor, de facto, ainda é menor do que o que aparece nas estatística europeias, porque o BCE devolve-lhe os juros pagos, de modo que o think-tank Bruegel recalculou a factura grega e estima que a despesa em juros tenha sido equivalente a 2,6% do PIB em 2014, devendo este ano cair para 2% do PIB. Tomara qualquer país em ajustamento. A média dos juros nos 19 países da zona euro foi de 2,7% do PIB. A Grécia está com um encargo abaixo da média! Esse encargo poderia ser ainda mais reduzido, em negociação e sem arrombar portas. Tal como as coisas foram postas - pura e simples anulação da dívida - a única coisa que me ocorre é pensar: a estupidez pode ser assassina. Está a ser assassina.
Fica aí o artigo do Bruegel, onde a realidade dos juros gregos é abordada.
Jorge Costa
In the days ahead of the Greek snap elections on 25 January 2015 a huge range of opinions has appeared on what Greece and its lenders should...
BRUEGEL.ORG
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