sábado, 21 de novembro de 2015

Sérias dúvidas sobre se os seres humanos serão, afinal, assim tão diferentes das couves.



Imagino que sobretudo os meus amigos economistas vão gostar de saber que existe (e acompanhar):

 o Center for Economic Policy Research reuniu uma série de luminárias europeias para construírem uma espécie de manifesto que leva por título Rebooting the Eurozone, e que tem como primeiro capítulo, que aqui deixo linkado, até mesmo como sugestão de leitura de fim de semana, Agreeing a crisis narrative. 

Dele faz parte este gráfico que reproduzo, com o comentário ao topo, onde se lê: «Os rácios de dívida melhoraram [até ao deflagrar da crise, reparem que o último ano da série é 2007] na maior parte das nações da Zona Euro (especialmente na Irlanda e Espanha), mas em Portugal o rácio da dívida disparou». 

Não me vou alongar. Tentei desde há anos quanto pude inculcar a ideia de que nós fomos um caso muito, muito particular de desastre na Zona Euro, um caso muito, muito particular de persistência em políticas públicas erradas, que nos enterraram na pior crise de que qualquer português hoje vivo tem memória. 

A evolução absolutamente singular da nossa dívida pública por comparação com os demais «países da crise» bem evidencia essa particularidade. Reparem: entre 1999 e 2007 o nosso rádio de dívida pública aumenta 40%. O único «país da crise» que não reduz a dívida é a Grécia, mas empalidece perante a nossa proeza: ficou-se por metade, 20%. Naturalmente que o pior estava por vir, entre 2008 e o resgate.

Ouvir hoje socialistas de todos os matizes preconizarem e-xa-ta-men-te as mesmas políticas que nos levaram ao colapso de 2011, exatamente, sem tirar nem pôr, é de esmagar qualquer filantropo com sérias dúvidas sobre se os seres humanos serão, afinal, assim tão diferentes das couves.

 Não consola reservar essa qualidade hortícola para os indígenas, com exclusão do resto. 

Deprimente, é o que é.

http://www.voxeu.org/sites/default/files/file/Policy%20Insight%2085.pdf

Jorge Costa


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