"A figura do ano é sem dúvida a que Marcelo Rebelo de Sousa andou a fazer desde que tomou posse. Durante anos, o talento do prof. Marcelo consistiu em convencer os portugueses de que era extremamente inteligente. Hoje, percebe-se que a inteligência é só a bastante para sobreviver de acordo com os próprios termos.
É sabido que a natureza tem horror ao vazio. O prof. Marcelo tem horror à impopularidade, por isso a natureza dele é o próprio vazio. Com apreciável rapidez, pulverizou o discutível prestígio do cargo e transformou-o num meio de promoção pessoal que intimidaria o sr. Trump. O homem posa para selfies. O homem distribui beijinhos. O homem visita escolas, estádios, hospitais, jornais, feiras, ditadores, rainhas e ginjinhas. O homem finge resgatar teatros. O homem pronuncia-se acerca do falecimento de cada habitante da Pátria. O homem condecora com fervor cada habitante ainda vivo. O homem está em toda a parte, e parte nenhuma está a salvo do homem.
Removido o frenesim, sobra nada, ou, para quem não tiver enlouquecido, a vontade de escorregar no sofá. O prof. Marcelo é o almirante Américo Thomaz com anfetaminas. Tem graça? Como o remoto antecessor, pouca – e sempre inadvertida. Mas convém não esquecer que, como o remoto antecessor, o prof. Marcelo legitima um poder no mínimo daninho. Os sucessivos elogios ao Governo são particularmente aterradores se tivermos em conta que, em apenas um ano, o governo limitou-se a sustentar clientelas, a obedecer (com curioso entusiasmo) aos delírios da extrema-esquerda, a aumentar a dívida, a reduzir o crescimento e a empurrar o que restava do País para a sombra do Estado. "
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