Mesmo com um atraso de dois ou três anos, Mario Draghi continua a insistir em replicar as medidas que a Reserva Federal tomou desde que as coisas se complicaram no mapa financeiro mundial.
Baixar taxas de juro até 0%, vender dinheiro a condições ainda mais vantajosas e iniciar a compra de ativos aos privados são as soluções que se apresentam aos líderes mundiais para combater baixo crescimento económico e deflação.
Custa um bocado a acreditar que seja este incremento no estímulo que fará a diferença. Aliás, se fizesse a diferença, já teria ocorrido mais cedo, porque estas medidas são todas parecidas, o que muda é apenas o grau de intensidade.
Com tanto estímulo em cima da mesa, os investidores que já conhecem bem este jogo do gato e do rato nos EUA, avançaram em força para a dívida soberana dos países europeus, Portugal incluído.
Mais uma vez, e tal e qual como entre 1999 e 2010, ficamos numa posição altamente privilegiada de acesso aos mercados de dívida sem que os nossos indicadores económicos o justifiquem, o que é o mesmo que dizer, que se lixe a austeridade e a correção do défice.
Mesmo com um aumento espetacular das receitas fiscais, o acréscimo da despesa abafa esse milagre, fazendo com que o défice dificilmente venha para valores abaixo dos 3% no curto/médio prazo.
Faz lembrar um aluno que estuda apenas para passar mas os professores insistem em dar-lhe boas notas e os pais aprovam sem hesitar.
A diferença em relação há 15 anos é que desta vez o Estado não está endividado em 40 ou 50% do PIB. Está em 130% do PIB e com uma economia que nos últimos 5 anos não cresceu, aliás, regrediu.
Já se ouvem as vozes (só com mais intensidade porque nunca se calaram) que advogam mais estímulos à economia, mais défice e mais dívida. Até o BCE está do lado deles (incrível) porque reconhece o falhanço das políticas de austeridade, tanto no crescimento económico como na redução do défice e obriga-se a avançar para medidas de "estímulo ativo"
Enfim, um molho de brócolos em que já nada se distingue entre o que é privado e o que é público. É tudo a mexer na sopa dos outros a ver se encontra a fórmula mágica.
Tiago Mestre
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