Interpretar a ida de Soares a Évora como “coragem” e “prova de amizade” é errado, assim como é errado e deselegante considerar as suas declarações como as de um homem sem todas as capacidades intelectuais. Nem uma coisa nem outra. Foi um acto político de grande alcance.
Soares era a única pessoa da oligarquia do PS que o poderia visitar sem acorrentar o próprio partido.
As suas declarações à saída têm de ser interpretadas como declarações que servem o detido.
Essas declarações à saída - não à entrada - exprimem não apenas a sua opinião sobre o assunto mas também a opinião de Sócrates. Soares não faria declarações que achasse que prejudicassem o que Sócrates lhe disse no encontro.
As afirmações de Soares apontam para uma estratégia de comunicação visando denegrir os “malandros” da justiça e dos media, não nomeados. Ora, se a detenção e prisão preventiva são obra de “malandros”, são, por consequência, um acto político e não judicial.
Portanto, a meu ver, a estratégia de Sócrates, transmitida por Soares, é a de considerar a detenção como um processo político e não como um processo por branqueamento de capitais, corrupção, etc.
Para quem, em simultâneo foi PM e é suspeito desses crimes, é a única estratégia que resta.
Não se pode esquecer que, para quem vive da imagem pública, a manutenção dessa imagem é essencial para o futuro, nomeadamente para quando se sai da cadeia.
Recordo que, dos acusados de pedofilia, por exemplo, os que não vivem da imagem pública não se preocupam (demasiado) em desmentir o provado em tribunal, enquanto os que vivem da imagem pública precisam em absoluto de negar todo o processo, vitimizando-se.
Eduardo Cintra Torres
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