sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O mito da deflação

Por Paulo Monteiro Rosa,

Uma resposta rápida, em poucos minutos, que acabei de dar a alguém... No Jornal de Negócios. Ainda continua enraizado na cabeça das pessoas o mito da deflação. São os pseudo-economistas desta vida e que "fazem" a mainstream, infelizmente.

Existem bens que são sempre comprados. Existem necessidades a ser satisfeitas. Além disso se os bens estão mais baratos, a propensão ao seu consumo aumenta exponencialmente. IPhones a 200 ou 300 euros vendiam-se 3 vezes mais.

Os salários aumentam. Não é preciso negociar aumentos. Tem que ser a própria empresa a fazer esse papel...

Os jovens poupam menos e consomem mais. A deflação também traz mais poupança e mais dinheiro para investimentos criteriosos e de longo prazo.

O Japão teve deflação mas sempre cresceu. Em média 1% nos últimos 20 anos. O problema do Japão é o envelhecimentos da população (e começa a ser também o da Europa), os EUA não têm esse problema.

Existe, realmente, má deflação. Aquela que é provocada pela desvalorização do imobiliário, de bolhas bolsistas, etc. Mas é uma deflação que é consequência de uma política inflacionista por partes das autoridades, nomeadamente dos bancos centrais. Veja a descida das taxas de juro da FED de 6% para 1% de 2000 para 2003, criando uma duplicação do preço do imobiliário em 5 anos. Depois vêm subprimes, etc. O respectivo ajustamento...

Preços mais baratos é positivo para as empresas. Todos os seus custos descem, rendas, inputs, excepto salários... a negociação agora é do lado da empresa e juros. No entanto a empresa tem mais poupança à sua disposição e investimentos em bens e serviços intensivos em capital. Existe uma reestruturação do tecido empresarial para empresas competitivas extra-preço, em criatividade, em produtos tecnológicos, etc. Medicina, biotecnologia, informática, etc...

Os países que mais cresceram nos últimos 70 anos, Japão e Alemanha tinham baixa inflação. O crescimento da China, com inflação, não é sustentável no longo prazo. Se a China continuar a crescer nas próximas décadas e com base em produtos tecnológicas, competitivos extra-preço, veremos desinflação na China. Caso contrário a China desaparece do mapa...

Em economia todos os bens são escassos. Mas nos países desenvolvidos, com baixa inflação têm bastante produção e a quantidade e qualidade de bens e serviços colocados à disposição da sociedade são muitíssimos (Marx, chamava erradamente superprodução. Esta nunca existe, porque os bens são escassos) no entanto estes países têm inflação baixa e se tivessem deflação ainda estariam melhor. Mas tem que existir inflação, mesmo nos países mais civilizados, para alimentar uma certa elite que nada faz e vive à custa do trabalho dos outros e encostados aos Estados que são cada vez maiores e mais endividados. Na Europa o nível de vida é significativamente superior ao da China. Em média, um português vive muito melhor que um chinês.

A inflação é a ausência de produção. O Zimbabué fechou as quintas todas e depois achava que resolvia o problema emissão de moeda. Pois era preciso um carros de notas para comprar um kilo de milho, porque as quintas não produziam. Quanto mais inflação, menos produção e menos bem estar. Deflação é sinónimo de muita produção e bem estar.

A inflação dá uma benesse aqueles que querem viver da poupança dos outros, do trabalho que os outros realizaram. A deflação protege os trabalhadores, os aforradores que trabalharam...

E as empresas que pediram emprestado para investirem, com deflação vão ser esmagadas pelos custos de fianaciamentos? Não. Se os investimentos forem em bens necessários à sociedade e novas necessidades como um tablet, um smartphone, uma viagem à lua, então os custos de financiamento mais que serão compensados. Mas se investiram em bens de rápido como o imobiliário.

Nunca se esqueçam que os bens vão sempre perdendo valor, excepto os terrenos quando não existe especulação. Uma casa comprada hoje vale menos daqui por 10 anos em termos reais. A moda muda tudo, novos estilos de casas, com novas funcionalidades. O mesmo acontece com os carros e muito mais com um smartphone. Com um kilo de arroz? esse já foi consumido. Novos produtos estão sempre a nascer e para isso acontecer é preciso poupança...

A inflação é o contrário...

http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/os_efeitos_da_queda_de_precos_nas_nossas_vidas.html