José Manuel Moreira,
Corre por aí que "tudo o que temíamos acerca do comunismo
- que perderíamos as nossas casas e as nossas poupanças e nos
obrigariam a trabalhar eternamente por escassos salários e sem ter voz
no sistema - se converteu em realidade com o capitalismo."
Esta mensagem-purgatório, atribuída a um activista - uma nova
profissão -, expressa um equívoco sobre o sistema em que vivemos.
Resultante de um intervencionismo que levou ao crescimento desmedido do
Estado - fruto da ilusão em recursos públicos ilimitados - e terminou em
défice fiscal e em défice de consenso político: "não contem com o PS
para mais austeridade." Armadilha donde não sairemos sem perceber que o
"sistema" não cabe em dicotomias como socialismo-capitalismo e
política-economia, que aparecem em recente e cuidado texto de Francisco
Assis sobre o livro de Vítor Gaspar.
Mises costumava dizer que é necessário distinguir entre capitalismo
puro e capitalismo intervencionado. Em ambos existe propriedade privada,
mas enquanto no primeiro há lugar para a concorrência privada entre
empresários, no segundo a concorrência concentra-se no âmbito político,
ou na ideia de obter uma série de privilégios da parte do Estado para
evitar justamente a concorrência económica. No primeiro, reina a
soberania do consumidor.
No segundo predomina o clientelismo, as regulações e os subsídios. É
este "maldito" capitalismo de Estado de desperdício, conhecido também
como "terceira via" ou neomercantilismo, que está em apuros. O que ajuda
a perceber por que tantos "instalados" acham a protecção melhor que a
concorrência e por que, apesar das boas intenções, os governos acabam
quase sempre por atingir resultados opostos aos que se propõem. E dá
para entender por que os nossos problemas, mais que de falta de
liderança, são de excesso de incentivos para se olear a máquina dos
interesses organizados em vez de se servir o bem comum. Interesses que
vivem do Estado e dependem dele para o sucesso de "negócios" reveladores
de que nem os governos, nem os partidos, são compostos por anjos. Daí o
perigo acrescido de se tentar corrigir "falhas do mercado" sem atender
às "falhas do Estado". E sem se dar conta de que o "arco dos poderes" é
mais largo e perverso do que o da governação. Nele embandeiram todos os
que, a coberto do "buraco negro" do Estado social, se louvam nos media e
nas redes de dependência do OE e dos fundos europeus.
Um modelo parasita-hospedeiro que, embora continue a minar a
vitalidade do hospedeiro e, assim, a enfraquecer o parasita, ainda nos
impede de ver a verdadeira razão do nosso purgatório e de acertar nas
reformas necessárias para a mudança. Até lá, continuaremos propensos à
discussão entre saída limpa e programa cautelar e a ouvir Seguro
perguntar: por que precisa o País de mais cortes, como diz a ‘troika',
se está melhor, como diz o PSD?
aqui
2 comentários:
"de ver a verdadeira razão do nosso purgatório e de acertar nas reformas necessárias para a mudança" QUE SÃO?...
Acrescento uma premissa : separação da gestão profissional e os dirigentes politicos que como os exemplos abundam ter geito para demagogo não se fica habilitado a bom gestor =madeira, gaia, portimao....)
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