sexta-feira, 27 de abril de 2018

Quem ficará na história desta democracia?

Outro case study para "anti-fascistas":  António Sérgio


Espero não causar apoplexias nos meios da esquerda socialista e anti-fascista com esta abordagem, que aliás não é nova, mas que certamente permanece obscurecida. Falo de António Sérgio.
Monárquico, embora de esquerda, descendente dos Viscondes Sérgio de Sousa, quebrou a espada de oficial da marinha quando foi proclamada a república. Facto preferencialmente obliterado. Outro facto, que talvez preferissem não lembrar - e o mesmo tudo fez para esquecer! - foi o elogio ao fascismo proferido num texto publicado antes de 1925 no diário "A Pátria", hoje difícil de desenterrar. Tal não parecerá estranho, já o professor António José de Brito o havia constatado, o culto do Uno, da Razão, do Universal e da Vontade Geral, assim como a influência recebida de Croce, aproximavam António Sérgio mais dessa ideologia do que da própria democracia que tão sentimentalmente apreciava.
A verdade é que as hossanas a António Sérgio escondem o essencial e não permitem encontrar um pensador muito mais original e muito mais controverso. O mesmo que em 1925 apelava à necessidade da ditadura , uma "ditadura de reforma, lealíssima, que saiba o que quer e diga o que quer", escrevia.
Contemporâneo das crises e testemunho da falência dos sistema liberais, Sérgio acompanhou o pessimismo de Fernando Pessoa, autor do opúsculo "O Interregno - Defesa e Justificação da Ditadura Militar", ou a ansiedade de Cunha Leal, mais tarde um opositor ao salazarismo, que proferia na Sociedade de Geografia de Lisboa que "a ditadura salvadora de Portugal há-de vir trazida pelas circunstâncias". Mais obscurecido permaneceu Leonardo Coimbra, inclassificável, cuja conversão ao Catolicismo e, tardiamente, uma hesitante e tímida aproximação ao Estado Novo (conquanto um crítico e homem de valor independente) vincaram rancores. Por fim, nem vale a pena lembrar o tal General Delgado, militar do 28 de Maio e depois autor de um livro exaltador da obra do Estado Novo, intitulado "Da Pulhice do Homo Sapiens", cultivando a prosa no mais ardoroso nacionalismo sem esconder a exaltação germanófila, acompanhando elogios a Salazar. A família tudo fez para esconder o livro, mas ele existe.
Creio que não haverá panos vermelhos suficientes para que a esquerda possa cobrir tanto pedestal de vergonha, pois se renegarem estes homens, quem ficará na história desta democracia?

DS


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