No início do século XIX,
os herdeiros do dono de uma casa de câmbio em Frankfurt mostraram a um dos
maiores génios militares da história que sem poderio financeiro não há
artilharia suficiente para vencer guerras.
A melhor altura para
comprar é quando há sangue nas ruas”. O autor da frase, Nathan Rothschild,
devia saber do que falava, já que ajudou a construir um império financeiro
alicerçado no sangue derramado na Europa pelas guerras napoleónicas do final
do século XVIII e início do século XIX. E ainda hoje a máxima do Barão de
Rothschild é aplicada por alguns investidores para fazerem milhões.
No final do século XVIII, grande parte da Europa tremia ao ouvir este nome:
Napoleão. A campanha conquistadora deste génio militar provocou o medo nos
homens mais ricos da altura. Não só temiam ver as suas fortunas transformadas
em despojos de guerra mas também, principalmente para aqueles que adoravam mais
a vida que o dinheiro, o terror de serem esquartejados pelas baionetas dos
soldados de Napoleão.
Um desses homens que queria preservar tanto a sua riqueza como a sua vida era
Guilherme I, Eleitor de Hesse, que governava um território perto de Frankfurt
e, dizia-se, era um dos aristocratas mais ricos da Europa. Numa primeira fase
tentou ocultar os seus bens para que não acabassem nas mãos do Júlio César do
século XVIII, contando com a astúcia e a perspicácia de Mayer Amschel
Rothschild, que tentava transformar a casa de câmbio que herdara numa entidade
financeira poderosa. Mais tarde, Guilherme I exilou-se e deixou os seus bens
nas mãos do fundador da poderosa dinastia Rothschild, que dura até aos dias de
hoje e tem ramificações por todo o mundo, incluindo Portugal.
O xeque-mate a Napoleão
Napoleão até podia ser um dos maiores génios militares da História. Mas não há
exército que resista ao poderio financeiro. E Mayer Rothschild revelou-se um
estratega financeiro capaz de causar estragos nas fileiras de uma das maiores
máquinas de guerra de sempre. Mas, mais importante ainda, conseguiu aumentar a
fortuna à medida que o sangue tingia os campos de batalha pela Europa.
Mayer espalhou quatro dos cinco filhos pelos maiores centros financeiros e de
poder europeus (Londres, Nápoles, Paris, Frankfurt e Viena). E com a experiência
adquirida em ocultar os bens de Guilherme I, criou uma rede logística no Velho
Continente para que se conseguisse fazer circular bens pela Europa, como ouro e
obras de arte, de maneira a que estes não fossem apanhados pelas tropas
francesas. Mas a grande mais-valia deste entreposto logístico residia noutro
factor, o poder da informação. Como dizia um dos aliados dos Rothschild, o
Duque de Wellington, “tudo o que importa na guerra, aliás, tudo o que importa
na vida, é esforçarmo-nos por descobrir o que não sabemos com aquilo que
fazemos”. E aquilo que os Rothschild faziam permitiu-lhes saber o que outros
não sabiam, dando-lhes enorme vantagem e reconhecimento nos mercados financeiros.
Mas antes de se avançar com o golpe que permitiu colocar em prática a máxima de
que é quando o sangue corre pelas ruas que os negócios se fazem, convém
explicar porque se trouxe Arthur Wellesley, o Duque de Wellington, para esta
história. O militar inglês andou anos a brincar ao jogo do gato e do rato com
Napoleão, que com as suas ambições imperialistas havia sido considerado um
alvo a abater por essa Europa fora. Mas já desde os tempos remotos que se sabe
que quando se quer fazer guerra há que ter dinheiro. E foram os Rothschild que
financiaram Inglaterra nas campanhas contra Bonaparte, nomeadamente na defesa
de Portugal durantes as Invasões Napoleónicas. Além disso, utilizaram a sua
rede logística para entregar fundos da Coroa Inglesa aos estados aliados na
guerra contra o temível francês.
A estratégia de financiamento para derrotar Bonaparte iniciara-se, segundo
alguns historiadores, sob as ordens do tal Guilherme I que, preocupado com os
seus bens, queria evitar que o francês reinasse sobre toda a Europa. O
patriarca dos Rothschild deu seguimento a esta táctica, contando com o contributo
decisivo do filho que destacara para Londres, Nathan Rothschild, o tal que
sabia como fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas.
Além do sangue nas ruas,
o dinheiro faz-se com influência e informação
Sangue foi o que não
faltou no Junho chuvoso de 1815. Na última tentativa de se reerguer da
humilhação na Rússia e do exílio em Santa Helena, Napoleão jogou as cartas
todas em Waterloo, perto de Bruxelas. Do lado oposto estavam os aliados
ingleses e prussos liderados por Wellesley. O futuro do continente e da bolsa
londrina jogava-se naquele embate em terreno encharcado, iniciado a 18 de
Junho, um Domingo.
Entretanto, reza a lenda, nos dias seguintes à batalha, o tal que sabia como
fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas, começou a vender dívida
inglesa. Com a ausência de notícias vindas do campo de batalha, o mercado
interpretou a decisão de Nathan como se o Rothschild soubesse qual tinha sido o
desfecho de Waterloo e começou também a desfazer- se dos títulos. Segundo
alguns especialistas, Nathan soube com antecedência qual o resultado da
batalha, graças à sua rede de agentes que palmilhava a Europa para entregar
bens e reunir informações. Após a queda do mercado e já com os preços
deprimidos, Nathan começou a comprar e, seis dias após a batalha de Waterloo,
chegou a Londres o emissário do Duque de Wellington a dar a notícia de que o
temível Napoleão havia sido derrotado.
O resultado da sangrenta batalha, que provocou 51 mil baixas (entre mortos,
feridos e desaparecidos) no exército de Bonaparte e 24 mil nas fileiras dos
aliados, deu um grande impulso ao mercado londrino. E poderá ter sido uma das
maiores jogadas na História dos mercados financeiros, aumentando
exponencialmente a fortuna dos Rothschild. Apesar desta versão, há alguns
investigadores a argumentar que Nathan não lucrou com Waterloo e que, na
verdade, a sua fortuna correu riscos significativos com a possibilidade de
Inglaterra sair derrotada, já que era um dos maiores credores da Coroa e veria
os seus investimentos perder valor com uma derrota do Duque de Wellington.
Com a fortuna e a influência a subirem em flecha, os Rothschild montaram um dos
primeiros bancos de investimento globais. Rapidamente se tornaram nos
principais financiadores dos Estados europeus, espalhando o seu negócio por
todo o Velho Continente. Foi esta família de banqueiros que financiou a Coroa
Inglesa para a compra do estratégico Canal do Suez. Estiveram ainda na fundação
de empresas como a De Beers, que ainda hoje detém o monopólio de diamantes, e
da Rio Tinto, que continua actualmente a ser uma das gigantes do sector
mineiro. Compraram minas na América, onde abriram sucursais, e na Península Ibérica.
Foram uns dos maiores financiadores do fôlego industrial de final do século XIX
e não deixaram escapar a oportunidade do ouro negro, ao investir nos campos
petrolíferos russos.
Usaram o seu dinheiro para incentivar a construção de caminhos-de-ferro, do
metro de Londres e de um túnel que ligasse França a Inglaterra. Toda esta influência
levou mesmo os Rothschild a ter o poder de emitir moeda em Inglaterra e a serem
a entidade responsável por fixar o preço do ouro. E ao mesmo tempo que a sua
influência financeira junto de estados soberanos aumentava, os Rothschild
lançavam também elementos da sua família na política inglesa e francesa. Todo
este poder levou a que surgissem teorias sobre o papel dos Rothschild no
controlo da economia mundial e da influência para coagir os estados a tomar
posições benéficas para os seus interesses, assim como de conseguirem promover
a guerra e a paz.
Entretanto, dos negócios iniciados pelos filhos de Mayer Amschel Rothschild, a
operação em Nápoles acabaria por encerrar. Também em Frankfurt a falta de
herdeiros levaria ao fecho da casa que serviu para o império Rothschild como
Roma para o Império Romano. O poder da família tinha como epicentro Londres e
Paris.
O judaísmo, o
desentendimento e a ligação a Portugal
Apesar da riqueza
existiam questões fracturantes entre a família Rothschild. Uma delas era se o
clã devia ou não usar a fortuna para instituir a Terra Prometida da sua
religião, o judaísmo. Um dos Rothschild mais empenhados nesta demanda foi
Edmond James de Rothschild, filho do fundador do negócio da família em Paris.
No século XIX financiou os primeiros colonatos judeus na Palestina, lançando
bases decisivas para a criação do que viria a ser o Estado de Israel. Os
esforços de Edmond valeram-lhe mesmo o epíteto de Pai de Israel. O incentivo à
criação de um Estado judaico na Palestina continuou a ser incentivado pelos
descendentes de Edmond James. E um dos seus filhos, Maurice, protagonizou
a querela com maiores consequências na história do clã no final da década de 30
do século XX. Discordando do rumo dos negócios da família, saiu do grupo Rothschild
para se estabelecer por conta própria, mas não teve muito tempo para colocar as
suas ideias em prática devido à ascensão de Hitler.
Mesmo tendo conseguido levar a melhor sobre Napoleão, os Rothschild não
resistiram incólumes à cavalgada diabólica de Hitler pela Europa. O regime nazi
confiscou os bens dos Rothschild na Áustria, levando ao encerramento da
operação da família em Viena. E a associação de Maurice de Rothschild à estrela
de David e à resistência francesa, levaram-no a recorrer ao cônsul português de
Bordéus, Aristides Sousa Mendes, para conseguir um visto que o tirasse de
terreno mortífero. Maurice era senador francês e foi um dos poucos a opor-se ao
Regime de Vichy do general Petain, que fez a paz com Hitler, e congeminou a
criação de um foco de resistência francês em Londres caso a Gália sucumbisse
totalmente aos Panzers alemães.
Graças aos vistos concedidos por Aristides, Maurice e outros sete elementos da
família Rothschild conseguiram fugir para Portugal e escapar às perseguições
nazis. Após a II Guerra Mundial, o filho de Maurice, Edmond Jacques,
aproveitou várias heranças para criar uma entidade financeira na Suíça que
ainda hoje é independente do Grupo Rothschild, o Edmond de Rothschild Group,
que tem, desde 2000, escritórios em Portugal.
Além do escritório em Lisboa, as entidades ligadas aos Rothschild estiveram
activas no processo de privatizações portuguesas nas décadas de 80 e 90 e continuam
a ser assessores financeiros em operações no mercado de capitais nacionais. A
entrada em bolsa da REN, por exemplo, teve o grupo Rothschild como um dos
bancos de investimento a montar a operação. E, mais recentemente, a entidade
esteve presente na avaliação dos activos da Cimpor e no cálculo das
necessidades de capital dos bancos portugueses. Outras das grandes áreas de
actividade do clã são a arte e os vinhos. Os Rothschild já foram proprietários
da Quinta do Carmo, de onde sai o vinho Bacalhoa, que foi comprada há poucos
anos por Joe Berardo.
O grupo Rothschild, que vai na sétima geração de banqueiros, continua a manter
a sua influência nos dias de hoje e ainda tenta recuperar de um dos maiores
reveses que sofreu na sua história. Apesar de terem derrotado Napoleão e
sobrevivido a Hitler, o negócio original do clã sofreu os maiores estragos em
1983, quando o Presidente francês, François Mitterrand, nacionalizou o Banco de
Rothschild. Três anos depois, a família tentou reerguer-se das cinzas, fundando
o Rothschild & Cie Banque, que deu origem ao grupo actual.
E apesar de actualmente não terem o poderio e o mediatismo de gigantes
norte-americanos, como o Goldman Sachs e o JP Morgan, ainda são capazes de
fazer jogadas de mestre nos mercados. Em 2008, ano em que a falência do Lehman
Brothers colocou os maiores bancos de investimento do mundo a lutar pela
sobrevivência, a empresa-mãe do grupo Rothschild, a Paris Orléans, conseguiu
lucrar 76 milhões de euros, assentes na sua actividade na banca de
investimento, gestão de activos e banca privada.
(artigo
publicado na revista Fora de Série com a edição de 4 de Outubro do Diário
Económico)
No início do século XIX,
os herdeiros do dono de uma casa de câmbio em Frankfurt mostraram a um dos
maiores génios militares da história que sem poderio financeiro não há
artilharia suficiente para vencer guerras.
A melhor altura para
comprar é quando há sangue nas ruas”. O autor da frase, Nathan Rothschild,
devia saber do que falava, já que ajudou a construir um império financeiro
alicerçado no sangue derramado na Europa pelas guerras napoleónicas do final
do século XVIII e início do século XIX. E ainda hoje a máxima do Barão de
Rothschild é aplicada por alguns investidores para fazerem milhões.
No final do século XVIII, grande parte da Europa tremia ao ouvir este nome: Napoleão. A campanha conquistadora deste génio militar provocou o medo nos homens mais ricos da altura. Não só temiam ver as suas fortunas transformadas em despojos de guerra mas também, principalmente para aqueles que adoravam mais a vida que o dinheiro, o terror de serem esquartejados pelas baionetas dos soldados de Napoleão.
Um desses homens que queria preservar tanto a sua riqueza como a sua vida era Guilherme I, Eleitor de Hesse, que governava um território perto de Frankfurt e, dizia-se, era um dos aristocratas mais ricos da Europa. Numa primeira fase tentou ocultar os seus bens para que não acabassem nas mãos do Júlio César do século XVIII, contando com a astúcia e a perspicácia de Mayer Amschel Rothschild, que tentava transformar a casa de câmbio que herdara numa entidade financeira poderosa. Mais tarde, Guilherme I exilou-se e deixou os seus bens nas mãos do fundador da poderosa dinastia Rothschild, que dura até aos dias de hoje e tem ramificações por todo o mundo, incluindo Portugal.
O xeque-mate a Napoleão
Napoleão até podia ser um dos maiores génios militares da História. Mas não há exército que resista ao poderio financeiro. E Mayer Rothschild revelou-se um estratega financeiro capaz de causar estragos nas fileiras de uma das maiores máquinas de guerra de sempre. Mas, mais importante ainda, conseguiu aumentar a fortuna à medida que o sangue tingia os campos de batalha pela Europa.
Mayer espalhou quatro dos cinco filhos pelos maiores centros financeiros e de poder europeus (Londres, Nápoles, Paris, Frankfurt e Viena). E com a experiência adquirida em ocultar os bens de Guilherme I, criou uma rede logística no Velho Continente para que se conseguisse fazer circular bens pela Europa, como ouro e obras de arte, de maneira a que estes não fossem apanhados pelas tropas francesas. Mas a grande mais-valia deste entreposto logístico residia noutro factor, o poder da informação. Como dizia um dos aliados dos Rothschild, o Duque de Wellington, “tudo o que importa na guerra, aliás, tudo o que importa na vida, é esforçarmo-nos por descobrir o que não sabemos com aquilo que fazemos”. E aquilo que os Rothschild faziam permitiu-lhes saber o que outros não sabiam, dando-lhes enorme vantagem e reconhecimento nos mercados financeiros.
Mas antes de se avançar com o golpe que permitiu colocar em prática a máxima de que é quando o sangue corre pelas ruas que os negócios se fazem, convém explicar porque se trouxe Arthur Wellesley, o Duque de Wellington, para esta história. O militar inglês andou anos a brincar ao jogo do gato e do rato com Napoleão, que com as suas ambições imperialistas havia sido considerado um alvo a abater por essa Europa fora. Mas já desde os tempos remotos que se sabe que quando se quer fazer guerra há que ter dinheiro. E foram os Rothschild que financiaram Inglaterra nas campanhas contra Bonaparte, nomeadamente na defesa de Portugal durantes as Invasões Napoleónicas. Além disso, utilizaram a sua rede logística para entregar fundos da Coroa Inglesa aos estados aliados na guerra contra o temível francês.
A estratégia de financiamento para derrotar Bonaparte iniciara-se, segundo alguns historiadores, sob as ordens do tal Guilherme I que, preocupado com os seus bens, queria evitar que o francês reinasse sobre toda a Europa. O patriarca dos Rothschild deu seguimento a esta táctica, contando com o contributo decisivo do filho que destacara para Londres, Nathan Rothschild, o tal que sabia como fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas.
Além do sangue nas ruas, o dinheiro faz-se com influência e informação
No final do século XVIII, grande parte da Europa tremia ao ouvir este nome: Napoleão. A campanha conquistadora deste génio militar provocou o medo nos homens mais ricos da altura. Não só temiam ver as suas fortunas transformadas em despojos de guerra mas também, principalmente para aqueles que adoravam mais a vida que o dinheiro, o terror de serem esquartejados pelas baionetas dos soldados de Napoleão.
Um desses homens que queria preservar tanto a sua riqueza como a sua vida era Guilherme I, Eleitor de Hesse, que governava um território perto de Frankfurt e, dizia-se, era um dos aristocratas mais ricos da Europa. Numa primeira fase tentou ocultar os seus bens para que não acabassem nas mãos do Júlio César do século XVIII, contando com a astúcia e a perspicácia de Mayer Amschel Rothschild, que tentava transformar a casa de câmbio que herdara numa entidade financeira poderosa. Mais tarde, Guilherme I exilou-se e deixou os seus bens nas mãos do fundador da poderosa dinastia Rothschild, que dura até aos dias de hoje e tem ramificações por todo o mundo, incluindo Portugal.
O xeque-mate a Napoleão
Napoleão até podia ser um dos maiores génios militares da História. Mas não há exército que resista ao poderio financeiro. E Mayer Rothschild revelou-se um estratega financeiro capaz de causar estragos nas fileiras de uma das maiores máquinas de guerra de sempre. Mas, mais importante ainda, conseguiu aumentar a fortuna à medida que o sangue tingia os campos de batalha pela Europa.
Mayer espalhou quatro dos cinco filhos pelos maiores centros financeiros e de poder europeus (Londres, Nápoles, Paris, Frankfurt e Viena). E com a experiência adquirida em ocultar os bens de Guilherme I, criou uma rede logística no Velho Continente para que se conseguisse fazer circular bens pela Europa, como ouro e obras de arte, de maneira a que estes não fossem apanhados pelas tropas francesas. Mas a grande mais-valia deste entreposto logístico residia noutro factor, o poder da informação. Como dizia um dos aliados dos Rothschild, o Duque de Wellington, “tudo o que importa na guerra, aliás, tudo o que importa na vida, é esforçarmo-nos por descobrir o que não sabemos com aquilo que fazemos”. E aquilo que os Rothschild faziam permitiu-lhes saber o que outros não sabiam, dando-lhes enorme vantagem e reconhecimento nos mercados financeiros.
Mas antes de se avançar com o golpe que permitiu colocar em prática a máxima de que é quando o sangue corre pelas ruas que os negócios se fazem, convém explicar porque se trouxe Arthur Wellesley, o Duque de Wellington, para esta história. O militar inglês andou anos a brincar ao jogo do gato e do rato com Napoleão, que com as suas ambições imperialistas havia sido considerado um alvo a abater por essa Europa fora. Mas já desde os tempos remotos que se sabe que quando se quer fazer guerra há que ter dinheiro. E foram os Rothschild que financiaram Inglaterra nas campanhas contra Bonaparte, nomeadamente na defesa de Portugal durantes as Invasões Napoleónicas. Além disso, utilizaram a sua rede logística para entregar fundos da Coroa Inglesa aos estados aliados na guerra contra o temível francês.
A estratégia de financiamento para derrotar Bonaparte iniciara-se, segundo alguns historiadores, sob as ordens do tal Guilherme I que, preocupado com os seus bens, queria evitar que o francês reinasse sobre toda a Europa. O patriarca dos Rothschild deu seguimento a esta táctica, contando com o contributo decisivo do filho que destacara para Londres, Nathan Rothschild, o tal que sabia como fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas.
Além do sangue nas ruas, o dinheiro faz-se com influência e informação
Sangue foi o que não
faltou no Junho chuvoso de 1815. Na última tentativa de se reerguer da
humilhação na Rússia e do exílio em Santa Helena, Napoleão jogou as cartas
todas em Waterloo, perto de Bruxelas. Do lado oposto estavam os aliados
ingleses e prussos liderados por Wellesley. O futuro do continente e da bolsa
londrina jogava-se naquele embate em terreno encharcado, iniciado a 18 de
Junho, um Domingo.
Entretanto, reza a lenda, nos dias seguintes à batalha, o tal que sabia como fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas, começou a vender dívida inglesa. Com a ausência de notícias vindas do campo de batalha, o mercado interpretou a decisão de Nathan como se o Rothschild soubesse qual tinha sido o desfecho de Waterloo e começou também a desfazer- se dos títulos. Segundo alguns especialistas, Nathan soube com antecedência qual o resultado da batalha, graças à sua rede de agentes que palmilhava a Europa para entregar bens e reunir informações. Após a queda do mercado e já com os preços deprimidos, Nathan começou a comprar e, seis dias após a batalha de Waterloo, chegou a Londres o emissário do Duque de Wellington a dar a notícia de que o temível Napoleão havia sido derrotado.
O resultado da sangrenta batalha, que provocou 51 mil baixas (entre mortos, feridos e desaparecidos) no exército de Bonaparte e 24 mil nas fileiras dos aliados, deu um grande impulso ao mercado londrino. E poderá ter sido uma das maiores jogadas na História dos mercados financeiros, aumentando exponencialmente a fortuna dos Rothschild. Apesar desta versão, há alguns investigadores a argumentar que Nathan não lucrou com Waterloo e que, na verdade, a sua fortuna correu riscos significativos com a possibilidade de Inglaterra sair derrotada, já que era um dos maiores credores da Coroa e veria os seus investimentos perder valor com uma derrota do Duque de Wellington.
Com a fortuna e a influência a subirem em flecha, os Rothschild montaram um dos primeiros bancos de investimento globais. Rapidamente se tornaram nos principais financiadores dos Estados europeus, espalhando o seu negócio por todo o Velho Continente. Foi esta família de banqueiros que financiou a Coroa Inglesa para a compra do estratégico Canal do Suez. Estiveram ainda na fundação de empresas como a De Beers, que ainda hoje detém o monopólio de diamantes, e da Rio Tinto, que continua actualmente a ser uma das gigantes do sector mineiro. Compraram minas na América, onde abriram sucursais, e na Península Ibérica. Foram uns dos maiores financiadores do fôlego industrial de final do século XIX e não deixaram escapar a oportunidade do ouro negro, ao investir nos campos petrolíferos russos.
Usaram o seu dinheiro para incentivar a construção de caminhos-de-ferro, do metro de Londres e de um túnel que ligasse França a Inglaterra. Toda esta influência levou mesmo os Rothschild a ter o poder de emitir moeda em Inglaterra e a serem a entidade responsável por fixar o preço do ouro. E ao mesmo tempo que a sua influência financeira junto de estados soberanos aumentava, os Rothschild lançavam também elementos da sua família na política inglesa e francesa. Todo este poder levou a que surgissem teorias sobre o papel dos Rothschild no controlo da economia mundial e da influência para coagir os estados a tomar posições benéficas para os seus interesses, assim como de conseguirem promover a guerra e a paz.
Entretanto, dos negócios iniciados pelos filhos de Mayer Amschel Rothschild, a operação em Nápoles acabaria por encerrar. Também em Frankfurt a falta de herdeiros levaria ao fecho da casa que serviu para o império Rothschild como Roma para o Império Romano. O poder da família tinha como epicentro Londres e Paris.
O judaísmo, o desentendimento e a ligação a Portugal
Entretanto, reza a lenda, nos dias seguintes à batalha, o tal que sabia como fazer dinheiro quando houvesse sangue nas ruas, começou a vender dívida inglesa. Com a ausência de notícias vindas do campo de batalha, o mercado interpretou a decisão de Nathan como se o Rothschild soubesse qual tinha sido o desfecho de Waterloo e começou também a desfazer- se dos títulos. Segundo alguns especialistas, Nathan soube com antecedência qual o resultado da batalha, graças à sua rede de agentes que palmilhava a Europa para entregar bens e reunir informações. Após a queda do mercado e já com os preços deprimidos, Nathan começou a comprar e, seis dias após a batalha de Waterloo, chegou a Londres o emissário do Duque de Wellington a dar a notícia de que o temível Napoleão havia sido derrotado.
O resultado da sangrenta batalha, que provocou 51 mil baixas (entre mortos, feridos e desaparecidos) no exército de Bonaparte e 24 mil nas fileiras dos aliados, deu um grande impulso ao mercado londrino. E poderá ter sido uma das maiores jogadas na História dos mercados financeiros, aumentando exponencialmente a fortuna dos Rothschild. Apesar desta versão, há alguns investigadores a argumentar que Nathan não lucrou com Waterloo e que, na verdade, a sua fortuna correu riscos significativos com a possibilidade de Inglaterra sair derrotada, já que era um dos maiores credores da Coroa e veria os seus investimentos perder valor com uma derrota do Duque de Wellington.
Com a fortuna e a influência a subirem em flecha, os Rothschild montaram um dos primeiros bancos de investimento globais. Rapidamente se tornaram nos principais financiadores dos Estados europeus, espalhando o seu negócio por todo o Velho Continente. Foi esta família de banqueiros que financiou a Coroa Inglesa para a compra do estratégico Canal do Suez. Estiveram ainda na fundação de empresas como a De Beers, que ainda hoje detém o monopólio de diamantes, e da Rio Tinto, que continua actualmente a ser uma das gigantes do sector mineiro. Compraram minas na América, onde abriram sucursais, e na Península Ibérica. Foram uns dos maiores financiadores do fôlego industrial de final do século XIX e não deixaram escapar a oportunidade do ouro negro, ao investir nos campos petrolíferos russos.
Usaram o seu dinheiro para incentivar a construção de caminhos-de-ferro, do metro de Londres e de um túnel que ligasse França a Inglaterra. Toda esta influência levou mesmo os Rothschild a ter o poder de emitir moeda em Inglaterra e a serem a entidade responsável por fixar o preço do ouro. E ao mesmo tempo que a sua influência financeira junto de estados soberanos aumentava, os Rothschild lançavam também elementos da sua família na política inglesa e francesa. Todo este poder levou a que surgissem teorias sobre o papel dos Rothschild no controlo da economia mundial e da influência para coagir os estados a tomar posições benéficas para os seus interesses, assim como de conseguirem promover a guerra e a paz.
Entretanto, dos negócios iniciados pelos filhos de Mayer Amschel Rothschild, a operação em Nápoles acabaria por encerrar. Também em Frankfurt a falta de herdeiros levaria ao fecho da casa que serviu para o império Rothschild como Roma para o Império Romano. O poder da família tinha como epicentro Londres e Paris.
O judaísmo, o desentendimento e a ligação a Portugal
Apesar da riqueza
existiam questões fracturantes entre a família Rothschild. Uma delas era se o
clã devia ou não usar a fortuna para instituir a Terra Prometida da sua
religião, o judaísmo. Um dos Rothschild mais empenhados nesta demanda foi
Edmond James de Rothschild, filho do fundador do negócio da família em Paris.
No século XIX financiou os primeiros colonatos judeus na Palestina, lançando
bases decisivas para a criação do que viria a ser o Estado de Israel. Os
esforços de Edmond valeram-lhe mesmo o epíteto de Pai de Israel. O incentivo à
criação de um Estado judaico na Palestina continuou a ser incentivado pelos
descendentes de Edmond James. E um dos seus filhos, Maurice, protagonizou
a querela com maiores consequências na história do clã no final da década de 30
do século XX. Discordando do rumo dos negócios da família, saiu do grupo Rothschild
para se estabelecer por conta própria, mas não teve muito tempo para colocar as
suas ideias em prática devido à ascensão de Hitler.
Mesmo tendo conseguido levar a melhor sobre Napoleão, os Rothschild não resistiram incólumes à cavalgada diabólica de Hitler pela Europa. O regime nazi confiscou os bens dos Rothschild na Áustria, levando ao encerramento da operação da família em Viena. E a associação de Maurice de Rothschild à estrela de David e à resistência francesa, levaram-no a recorrer ao cônsul português de Bordéus, Aristides Sousa Mendes, para conseguir um visto que o tirasse de terreno mortífero. Maurice era senador francês e foi um dos poucos a opor-se ao Regime de Vichy do general Petain, que fez a paz com Hitler, e congeminou a criação de um foco de resistência francês em Londres caso a Gália sucumbisse totalmente aos Panzers alemães.
Graças aos vistos concedidos por Aristides, Maurice e outros sete elementos da família Rothschild conseguiram fugir para Portugal e escapar às perseguições nazis. Após a II Guerra Mundial, o filho de Maurice, Edmond Jacques, aproveitou várias heranças para criar uma entidade financeira na Suíça que ainda hoje é independente do Grupo Rothschild, o Edmond de Rothschild Group, que tem, desde 2000, escritórios em Portugal.
Além do escritório em Lisboa, as entidades ligadas aos Rothschild estiveram activas no processo de privatizações portuguesas nas décadas de 80 e 90 e continuam a ser assessores financeiros em operações no mercado de capitais nacionais. A entrada em bolsa da REN, por exemplo, teve o grupo Rothschild como um dos bancos de investimento a montar a operação. E, mais recentemente, a entidade esteve presente na avaliação dos activos da Cimpor e no cálculo das necessidades de capital dos bancos portugueses. Outras das grandes áreas de actividade do clã são a arte e os vinhos. Os Rothschild já foram proprietários da Quinta do Carmo, de onde sai o vinho Bacalhoa, que foi comprada há poucos anos por Joe Berardo.
O grupo Rothschild, que vai na sétima geração de banqueiros, continua a manter a sua influência nos dias de hoje e ainda tenta recuperar de um dos maiores reveses que sofreu na sua história. Apesar de terem derrotado Napoleão e sobrevivido a Hitler, o negócio original do clã sofreu os maiores estragos em 1983, quando o Presidente francês, François Mitterrand, nacionalizou o Banco de Rothschild. Três anos depois, a família tentou reerguer-se das cinzas, fundando o Rothschild & Cie Banque, que deu origem ao grupo actual.
E apesar de actualmente não terem o poderio e o mediatismo de gigantes norte-americanos, como o Goldman Sachs e o JP Morgan, ainda são capazes de fazer jogadas de mestre nos mercados. Em 2008, ano em que a falência do Lehman Brothers colocou os maiores bancos de investimento do mundo a lutar pela sobrevivência, a empresa-mãe do grupo Rothschild, a Paris Orléans, conseguiu lucrar 76 milhões de euros, assentes na sua actividade na banca de investimento, gestão de activos e banca privada.
Mesmo tendo conseguido levar a melhor sobre Napoleão, os Rothschild não resistiram incólumes à cavalgada diabólica de Hitler pela Europa. O regime nazi confiscou os bens dos Rothschild na Áustria, levando ao encerramento da operação da família em Viena. E a associação de Maurice de Rothschild à estrela de David e à resistência francesa, levaram-no a recorrer ao cônsul português de Bordéus, Aristides Sousa Mendes, para conseguir um visto que o tirasse de terreno mortífero. Maurice era senador francês e foi um dos poucos a opor-se ao Regime de Vichy do general Petain, que fez a paz com Hitler, e congeminou a criação de um foco de resistência francês em Londres caso a Gália sucumbisse totalmente aos Panzers alemães.
Graças aos vistos concedidos por Aristides, Maurice e outros sete elementos da família Rothschild conseguiram fugir para Portugal e escapar às perseguições nazis. Após a II Guerra Mundial, o filho de Maurice, Edmond Jacques, aproveitou várias heranças para criar uma entidade financeira na Suíça que ainda hoje é independente do Grupo Rothschild, o Edmond de Rothschild Group, que tem, desde 2000, escritórios em Portugal.
Além do escritório em Lisboa, as entidades ligadas aos Rothschild estiveram activas no processo de privatizações portuguesas nas décadas de 80 e 90 e continuam a ser assessores financeiros em operações no mercado de capitais nacionais. A entrada em bolsa da REN, por exemplo, teve o grupo Rothschild como um dos bancos de investimento a montar a operação. E, mais recentemente, a entidade esteve presente na avaliação dos activos da Cimpor e no cálculo das necessidades de capital dos bancos portugueses. Outras das grandes áreas de actividade do clã são a arte e os vinhos. Os Rothschild já foram proprietários da Quinta do Carmo, de onde sai o vinho Bacalhoa, que foi comprada há poucos anos por Joe Berardo.
O grupo Rothschild, que vai na sétima geração de banqueiros, continua a manter a sua influência nos dias de hoje e ainda tenta recuperar de um dos maiores reveses que sofreu na sua história. Apesar de terem derrotado Napoleão e sobrevivido a Hitler, o negócio original do clã sofreu os maiores estragos em 1983, quando o Presidente francês, François Mitterrand, nacionalizou o Banco de Rothschild. Três anos depois, a família tentou reerguer-se das cinzas, fundando o Rothschild & Cie Banque, que deu origem ao grupo actual.
E apesar de actualmente não terem o poderio e o mediatismo de gigantes norte-americanos, como o Goldman Sachs e o JP Morgan, ainda são capazes de fazer jogadas de mestre nos mercados. Em 2008, ano em que a falência do Lehman Brothers colocou os maiores bancos de investimento do mundo a lutar pela sobrevivência, a empresa-mãe do grupo Rothschild, a Paris Orléans, conseguiu lucrar 76 milhões de euros, assentes na sua actividade na banca de investimento, gestão de activos e banca privada.
(artigo
publicado na revista Fora de Série com a edição de 4 de Outubro do Diário
Económico)
1 comentário:
É um belo branqueamento da história dos Rothschild.
Entre muitas omissões, destaco uma: Ao mesmo tempo que Nathan financiava Wellesley, o seu irmão James fincanciava Napoleão!
De resto, devo dizer-lhe que visito o seu blog regularmente e quero dar-lhe os parabéns!
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