terça-feira, 5 de agosto de 2014

Liberalismo Social Democrata

(Via O Insurgente)

Nuno Garoupa no facebook:

‘Conclusão: entre os 30 mil pequenos accionistas que assumiram um risco tendo em conta a informação que lhes foi prestada de forma continuada e insistente pelos reguladores (e auditores) durante meses e os reguladores (BdP e CMVM) que mais uma vez falharam o dever de supervisão e transparência de informação no mercado, a direita dita neoliberal e com profunda admiração pelo mundo anglo-saxónico, a direita dita do capitalismo popular (pelo menos aquela que se publica) decidiu glorificar os reguladores (“foram enganados”) e culpabilizar os pequenos accionistas. Porreiro pá!’
Até nestas coisas somos pequenos e provincianos. Há por aí gente muito contente porque, finalmente, deixámos falir um banco e os acionistas perderam tudo. Já somos um país capitalista à séria, olé! O pormenor do banco não ter falido – mas, sim, o estado ter saqueado os tais ativos bons (pelos quais os acionistas eram tão responsáveis como os ativos maus) -, do regulador e até a ministra das finanças terem andado nas últimas semanas a mentir aos credores, depositantes e acionistas sobre a situação do BES, e de ter sido o regulador a permitir que os autores do que sabia ser um ‘esquema fraudulento’ continuassem a gerir o BES mesmo depois de estarem avisados de que seriam afastados, levando a que esses autores pudessem praticar os atos que irremediavelmente ditaram a nacionalização – tudo isto não conta nada. Estamos tão contentes por já sermos um país a sério que deixa acionistas perderem o valor das suas ações (como se isto fosse algo inédito, mesmo por cá) que até temos quem anda a elogiar e a desculpar o BdP e a CMVM.
E estas maravilhosa reações não vêm da extrema esquerda, vêm da suposta direita. Já sabemos que para a ‘direita’ portuguesa, oh tão amiga do mercado, os acionistas devem investir aceitando o risco de terem o estado a mentir-lhes e, depois, a expropriá-los. Se não gostam, azarucho, é por o dinheiro debaixo do colchão. Ou bem que aceitam todo e qualquer risco, mesmo o de serem saqueados, ou bem que não brincam aos investidores. E vão esperar, certamente, que comportamentos destes sejam benéficos para os investidores. Por cá já sabemos que a regulação/supervisão é uma nódoa e que o estado, para coroar a nódoa, expropria. Vão vir charters de investidores para os bancos portugueses, oh se não vão.
Eu até posso perceber que se defenda o que foi feito como um mal necessário, como uma contenção de danos. Mas quem louva a medida que aceite o que defende: uma total arbitrariedade do estado e um total desrespeito pelos direitos de propriedade. Não finjam, por favor, que são diferentes de Louçã quando defendia a sua reestruturação da dívida que implicava também uma enorme expropriação da propriedade. O conceito é o mesmo: toda a riqueza produzida e todos os ativos são do estado, que decide depois a quem benevolentemente deixa que continue a detê-los (por mais um bocadinho).
E, vá lá, tenham algum pudor: parem de aconselhar aumentos de poupança das famílias, porque quando o estado trata assim os investimentos, que resultam das aplicações de poupanças, pode estar a fazer muita coisa mas não está a incentivar a poupança. Ou então devem fazer como certamente esta direita amiga do mercado faz: investe, nos seus momentos mais aventurosos, em depósitos a prazo. Que é àquilo que querem reduzir os produtos financeiros, porque que quando há quebra de confiança e má-fé no nível em que houve (do regulador e do estado), produtos mais sofisticados não florescem. Enfim, não é do mesmo material desta direita amiga do mercado que são feitos os empresários schumpeterianos. Ou, como diz o Helder no twitter: ‘Fazem questão de parecer burros ou é mesmo feitio?’ (E, já agora, mais este: ‘Esta solução p o BES é institucionalizar o roubo. Há sempre qm roube (ver Salgado) mas ser o estado a roubar descaradamente é outro assunto’).
sarongMas, por mim, tenho algo a agradecer ao governo. Eu poderia ser tentada a engolir um sapo de um tamanho de um elefante e ir votar num dos partidos do governo ou numa eventual coligação, mesmo que isso me deixasse um sabor amargo a cicuta ou arsénico durante dias. Depois disto, será tão provável votar nesta gente como votar na reencarnação de Vasco Gonçalves. Decidam lá quando vão ser as eleições sff, para eu ir programando as minhas férias para o ano. No cenário ideal, estarei, sei lá, na Ásia do Sueste a reabastecer-me de sarongs enquanto por cá se vota.

1 comentário:

Anónimo disse...

ENTÃO O SALGADO FAZ TRAFULHICES E A MINISTRA MENTIU...JURO QUE NAO ENTENDO