A alternância de poder é essencial para o funcionamento dos mecanismos democráticos.
A democracia se sustenta através da corrosão moral da sociedade, matando nas pessoas o espírito anarquista, que deriva tanto da vocação natural para a liberdade quanto do senso de justiça inato, factores que nos tornam humanos.
A democracia necessita, portanto, da desumanização do homem para se manter.
A elite monopolista que detém a informação a respeito dos agentes políticos controla o processo a partir dos bastidores. Aquilo que está visível para o povo é uma pequena ponta de iceberg distorcida pela névoa mediática.
O povo acredita então que há uma real alternância de poder. De fato, entre os membros dos grupos que disputam os cargos públicos há uma rivalidade, tanto maior quanto menor for o escalão do membro em questão.
São estes conflitos que as entidades supranacionais e supra-partidárias exploram.
As maiores rivalidades e os piores conflitos dar-se-ão entre os indivíduos. Em um sistema de livre mercado eles estariam, via de regra, cooperando entre si para aumentar seus lucros, buscando o comum acordo. Numa democracia as associações voluntárias entre indivíduos são substituídas por agrupamentos com natureza de turba, subsidiados pela perversão institucional promovida pelo establishment, e que atacam as minorias circunstanciais. Ressalte-se a palavra circunstancial, pois todo indivíduo é uma minoria na maior parte do tempo, principalmente quando está pensando e reflectindo moralmente.
Um grupo partidário se elege ao prometer espoliar e agredir minorias circunstanciais dispersas e dar o esbulho aos grupos de interesse que o elegeram. Estas intervenções nas liberdades e na economia, no entanto, gerarão erros e incertezas que prejudicarão a sociedade inteira, inclusive os incautos de má fé que pensaram que iriam se beneficiar.
Os únicos realmente beneficiados são as elites supra-políticas que consolidam sua posição de poder à medida que o estado se expande.
O partido na situação, entretanto, queima seu capital político ao investir na expansão do aparato estatal. Esta expansão, que nada mais é do que um crime brutal de agressão contra a população, esbarra no que resta do espírito de resistência anárquica que nos torna humanos, gerando descontentamento.
Mas enquanto houver legitimação ideológica ao estado e à democracia, a revolta não se traduzirá em uma saudável atitude de rebeldia, desobediência civil, corrupção regulatória e deboche da legislação.
Se converterá, no entanto, em acumulo de capital político dos grupos em oposição.
Os termos oposição e situação são ilusórios. O termo correto seria reserva e front. São peças de xadrez do mesmo lado, o lado da tirania. As forças no front desgastam seus contingentes enquanto as forças na reserva se recuperam.
É esta alternância que impulsiona a longa marcha da opressão, e que numa democracia se transforma em uma carga blindada, sendo que o manto de aparente moderação e a falácia do poder popular fazem as vezes de blindagem (ideológica). Experimente criticar a democracia numa reunião social e você entenderá do que estou falando.
Os grupos na reserva (oposição) valem-se então de falácias económicas para incutir nas pessoas a ideia de que o governo (deles) será a solução para os erros cometidos pelo grupo anterior. Algumas vezes o estado recua um passo para poder avançar dois, em uma inteligente síntese de Maquiavel com Sun Tzu. É por isso que a direita política actual seria considerada um imperialismo totalitário de esquerda há 100 anos atrás.
Ao mesmo tempo, e especialmente durante as fases de desaceleração da expansão estatal, o progresso tecnológico e o acúmulo de capital económico pela sociedade e que ocorrem apesar do estado, aliviam as tensões sociais conferindo uma lua-de-mel política ao grupo agora no front (situação). É assim que o parasita inteligente age: dando um tempo para que o hospedeiro produza mais sangue. Ou como colocaria Molyneux, a liberdade propicia o crescimento do bolo económico que serve de alimento para o cancro estatal.
Não demora para que este grupo se valha do capital político recém-poupado para expandir os tentáculos governamentais em áreas cujos efeitos far-se-ão sentir a prazos maiores.
Paulo Kogos
(texto com ligeira adaptação)
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