sexta-feira, 15 de março de 2013

Um buraco não é uma vaga

Tal como eu, muitos de vós já se depararam com amigos e colegas de trabalho que decidiram arrumar a trouxa e ir embora de Portugal.

Soube recentemente de um amigo meu, e que faz trabalhos para a minha empresa, de que já andava há meses à procura de emprego. Tanto insistiu que lá conseguiu. Vai para a Noruega em Abril.

À primeira vista poderíamos pensar que esta saída poderá significar uma oportunidade para a imensa população desempregada, jovem ou não, que vai ficando por Portugal.

Infelizmente não vejo as coisas dessa forma. Aqueles que deixam o seu posto de trabalho à procura de algo melhor representam uma franja da população que está disponível para crescer profissionalmente, assumir riscos, melhorar todos os dias, aprender mais e mais, e pessoal assim não aparece aí aos pontapés.
É gente que gosta de ter um espaço onde pode desenvolver as suas faculdades e contribuir assim para uma sociedade mais rica e mais produtiva.
É gente que gosta de liderar mas que também gosta de ser bem liderada.
É gente que exige muito de si e dos outros.
É gente que não aprecia meias tintas, meias palavras e hipocrisias veladas.

É por isso que quando pessoas destas se vão embora, não se cria uma oportunidade, abre-se um buraco que teimosamente não quer ser preenchido.
Os que mais gostam de fazer e contribuir abalam, os que preferem fazer menos e manter-se debaixo do chapéu-de-chuva Estado vão ficando. O nível médio vai baixando.

Admitir gente nova exige sempre investimento e risco para que essa pessoa melhore, cumpra os objetivos, e mesmo assim poderá dar tudo errado. Há custos, e se der errado é só prejuízo.

O desequilíbrio entre produtivos e não produtivos há muito que passou a linha da irreversibilidade. Se houver 3 milhões de contribuintes é muito. Se houver 3 ou 4 milhões de gente que depende destes não é exagero nenhum, já sem contar com as crianças e jovens que estão em idade de estudar.

Para qualquer político que deseja vencer as eleições, um rácio destes não é de desvalorizar. Ele tem que prometer meio mundo a uns e meio mundo a outros, sabendo que tais propostas são mutuamente exclusivas. Não se pode prometer sol na eira e chuva no nabal ao mesmo tempo.
O dilema continuará até que se esgotem os rendimentos dos que contribuem, colapsando assim a estrutura social tal como um edifício a quem lhe foram roendo as fundações ao longo de anos.

Quanto mais se adiar a verdade, recorrendo a estas mentirinhas de algibeira para cativar votantes e vencer eleições, pior será lá à frente, porque há décadas que temos vindo a assistir a uma redução dos que contribuem e um aumento dos que beneficiam.
A corda começou a ser esticada há muitos anos e como em tudo na vida e na natureza, mesmo na morta, há um breaking point.
Ninguém o quer assumir porque a esperança positivista de muitos economistas e políticos por todo o mundo baseia-se no facto de que o crescimento económico, se aparecer, corrigirá todos estes desequilíbrios sociais. Basta crescer economicamente. A pergunta que faço é:
Como é que isso se faz?
Aparentemente está tudo a apostar que será o Estado a resolver este problema. São os estímulos que ele manda cá para fora que trarão eventualmente uma solução para tudo isto.

É difícil acreditar como é que esta ideologia penetrou na maioria da sociedade e há tão poucos a querer desmistificá-la.

O crescimento económico, apesar de ter sido quase constante desde há séculos, não tem que continuar infinitamente. Quanto mais crescemos mais temos que recorrer ao que a Natureza nos dá, e essa apesar de ser "infinitamente grande", não deixa de ser finita.
Pode haver crescimento como pode não haver. Dependerá se estamos a esgotar demasiado depressa ou não. Resposta para isso não tenho, e mais uma vez ficamos no domínio da crença. Uns acreditam, outros não, e outros não sabem bem no que acreditar.

Tiago Mestre

1 comentário:

André disse...

É exatamente por esse tipo de razões que sou cada vez mais a favor da falência do Estado. O problema é que se isto acontecer só haverá dois caminhos possíveis:

- A colaboração.

- A ditadura.

Ora conhecendo a nossa História, o nosso carácter e o que se pode ouvir dos portugueses actualmente, teimo que a segunda hipótese é a mais provável. Há que se preparar em consequência.