quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Catolicismo e Comunismo

"Ao contrário do catolicismo, o comunismo não tem uma doutrina. Enganam-se os que supõem que ele a tem. O catolicismo é um sistema dogmático perfeitamente definido e compreensível, quer teologicamente, quer sociologicamente.

O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós.

O comunismo não é uma doutrina porque é uma anti-doutrina, ou uma contra-doutrina. Tudo quanto o homem tem conquistado, até hoje, de espiritualidade moral e mental — isto é de civilização e de cultura —, tudo isso ele inverte para formar a doutrina que não tem." 

Fernando Pessoa, in 'Ideias Filosóficas'




3 comentários:

Anónimo disse...

"Comparado com a maioria do comentário económico nacional, o que ainda anda entretido com uma discussão moralista sobre uma variável endógena, o défice orçamental, como se este fosse puro produto da força ou fraqueza políticas, o comentário económico do Financial Times, em especial o semanal de Martin Wolf, é perigosamente esquerdista. É notável, mas não surpreendente, que junto de um economista liberal britânico, o melhor defensor da globalização que eu conheço, encontremos hoje mais recursos para defender os interesses da maioria dos que por aqui vivem. No seu artigo de ontem, Wolf volta a insistir num ponto relevante para Portugal: a potência hegemónica da Zona Euro, a Alemanha, também exporta desemprego e bancarrota para as suas periferias e o seu suposto plano de transformar a Europa numa espécie de grande Alemanha é inviável, já que a Zona é demasiado grande para ver o seu crescimento guiado pelas exportações para fora e, de qualquer forma, os eventuais excedentes com o resto do mundo reforçam a tendência do euro para a apreciação, esmagando ainda mais periferias deprimidas por uma austeridade sem fim. Um plano inviável e que só pode ser recusado a partir das periferias, digo eu. O resto são mesmo moralismos orçamentais de quem usa a austeridade permanente inscrita no euro para destruir o Estado social."

BC disse...

O catolicismo (ou as várias religiões) e o comunismo, bem como o fascismo ou o (actualmente em voga) ecologismo são diferentes formas de totalitarismo.

As religiões têm sido particularmente bem sucedidas pois o seu domínio dura milénios e não dezenas de anos como as outras.

Várias particularidades concorrem para essa longevidade das religiões. Uma das mais fortes terá que ver com o carácter sobrenatural da ameaça que a religião prega.

O comunismo propõe-se combater o capitalismo, o nazismo os judeus e o ecologismo as catástrofes ambientais. Ora, em poucas décadas é perfeitamente possível desmontar estas argumentações e a realidade acaba por matar estas convicções totalitárias.

Mas e Deus? Quem prova a sua inexistência? Quem sossega as pessoas que só o seguindo se alcança o céu? A ciência já o fez mas a ciência é incompreendida pela maiaoria. Ao invés qualquer pessoa é capaz de sentir a pobreza ou o estado do clima. São coisas terrenas, palpáveis e observáveis. Enquanto a Igreja conseguir manter a dúvida na cabeça das pessoas a religião terá o seu espaço.

Anónimo disse...

Fernando Pessoa - António de Oliveira Salazar





Antonio de Oliveira Salazar.
Trez nomes em sequencia regular...
Antonio é Antonio.
Oliveira é uma arvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

29-03-1935

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Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A agua dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.

Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

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Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.

Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.