sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sustentabilidade


Quer Cavaco Silva acusar-nos de sermos masoquistas por julgarmos que a dívida pública portuguesa é insustentável. E realmente tem razão. Se refletirmos apenas sobre a questão da dívida, pouco se poderá fazer já que esta é uma consequência das consequências, e portanto o exercício pode roçar algum masoquismo. É como falar do desemprego e querer à força que ele baixe só porque é mau ele estar alto.

O Correio da manhã de 17 de Julho trouxe-nos este boneco que não hesitei em fotografar quando o vi.
Não é a dívida que é insustentável, mas sim os comportamentos de quem exerce e manipula o poder. Somos nós todos um bocadinho, mas quem tem responsabilidades diretas e indiretas nesta gestão está noutro campeonato.

A dívida torna-se insustentável porque a tendência da mesma leva-nos para um colapso, mais cedo ou mais tarde. Até Cavaco Silva concordaria com esta afirmação.
Mas se os comportamentos dos políticos e colegas até mudarem, consubstanciando-se numa redução do défice, ao ponto de o levar para superávit, a dívida começar então a descer, e talvez aí possamos dizer que a tendência é inversa, logo SUSTENTÁVEL.

Até lá, lamento, mas nada feito.

Com este boneco fica claro como água que aqueles que pedem mais défice para aliviar austeridade não passam de charlatões de meia-tijela, porque logo a seguir o monstro dos juros aparece para nos ensombrar, condicionando as execuções orçamentais dos anos seguintes.

Querer baixar os juros reduzindo a taxa média, recorrendo ao BCE e afins, como muitos pedem, é bonito mas na prática mexe pouco. E são afirmações tecnicamente pouco sustentadas porque até 2011 ninguém se preocupava com essa questão. Só agora, que já estamos quase a dobrar o custo dos juros pagos em 2005 é que as virgens ofendidas vêm dizer que há soluções desse género. É conversa mole, de circunstância. Prefiro o masoquismo de Cavaco Silva.

Em menos de 10 anos os juros vão duplicar, de 4 para 8 mil milhões, retirando 4 mil milhões de folga orçamental que podia muito bem servir para pagar despesas que se consideram essenciais ou reduzir impostos. É o que acontece quando se empurra com a barriga, pensando apenas em desenrascar o JÁ e deixando o difícil para depois.

Tiago Mestre

Sem comentários: