terça-feira, 18 de março de 2014

Krugmanias

Em 2010, após Angela Merkel ter aprovado um programa de moderação nos gastos, Krugman concedeu uma entrevista à revista Der Spiegel afirmando que "as políticas de ajuste alemãs não apenas afetam negativamente sua própria economia, como também reduzem o crescimento de todos os outros países".
O problema é que, desde então, a evolução vivenciada pela Alemanha foi exatamente contrária às previsões de Krugman: o PIB de 2013 está no nível mais elevado de sua história (e 3,4% maior em relação ao pico atingido antes da crise), e sua taxa de desemprego é a mais baixa (de 5,5%).

Krugman, por conseguinte, já criou uma estratégia alternativa para blindar o dogma keynesiano deste contra-exemplo alemão: agora ele afirma que, na realidade, a Alemanha nunca foi nenhum exemplo de austeridade, sendo que tal qualificação deve pertencer integralmente à Espanha.

Sei que tal postura soa incrivelmente vigarista, mas é o que acaba de defender o economista americano. Para comprovar a veracidade desta afirmação, basta efetuarmos uma comparação entre Espanha e Alemanha.

O governo espanhol elevou seu endividamento em quase 60 pontos percentuais em relação ao PIB entre 2007 e 2013; o governo alemão elevou em 15 p.p. (no entanto, ainda mais significativo: desde 2010, o governo alemão reduziu em dois pontos percentuais sua dívida em relação ao PIB, ao passo que o governo espanhol a aumentou em 33 p.p.).

O déficit orçamentário do governo espanhol foi de 11% em 2012; o governo alemão obteve um superávit de 0,1%.

Ou seja, enquanto o déficit da — segundo Krugman — nada austera Alemanha é nulo, o déficit da — segundo Krugman — ultra-austera Espanha é um dos maiores do mundo.

Se houve um país que até muito recentemente aplicou políticas keynesianas (e que em grande medida continua fazendo isso), tal país foi sem dúvida a Espanha, e não a Alemanha.

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