A decisão do Banco de Portugal de obrigar o Grupo Espírito Santo a fazer provisões de 700 milhões de euros, devido a receios sobre a capacidade de reembolsar a totalidade de emissão de dívida vendida a clientes do BES, é um momento muito importante para o sistema financeiro português. Por um lado, porque mostra finalmente o nosso banco central a actuar como um verdadeiro regulador, após anos e anos de uma supervisão narcoléptica, que acabou por enterrar o país no caso BPN. Por outro, porque é um sinal público de que o BES, eterno banco do regime e porta-giratória de inúmeros ministros e deputados, tem, de uma vez por todas, de mudar de cultura e de vida.
Na última década, o nome Espírito Santo esteve
envolvido em investigações relacionadas com: 1) o caso Portucale, que
meteu o abate de sobreiros numa zona protegida, após a aprovação de
empreendimentos imobiliários em contra-relógio, em vésperas das
legislativas de 2005, por parte de ministros do CDS-PP; 2) o caso dos
submarinos, onde se suspeitou de financiamento partidário por parte do
consórcio vencedor; 3) o caso Mensalão, mais financiamento partidário,
desta vez do PT de Lula da Silva (as notícias do caso levaram a um corte
de relações entre o BES e a Impresa); 4) o caso das contas de Pinochet,
com dinheiro do ditador chileno a passar, segundo uma investigação
americana, pelo banco português, via Miami; 5) o caso das fraudes na
gestão dos CTT, incluindo a mediática venda de um prédio em Coimbra,
valorizado em mais de cinco milhões de euros num só dia; 6) a
interminável Operação Furacão, megaprocesso de investigação de fraude
fiscal; 7) o caso Monte Branco, onde Ricardo Salgado constava da lista
de clientes da Akoya, rede suíça de fraude fiscal e branqueamento de
capitais; 8) o caso dos 8,5 milhões de euros que Salgado se esqueceu de
declarar ao fisco, detectados na sequência das investigações à Akoya, e
que teria recebido por alegados serviços de consultadoria prestados a um
construtor português a actuar em Angola; 9) o caso da venda das acções
da EDP pelo BES Vida, feita dias antes da aprovação da dispersão em
bolsa da EDP Renováveis, o que levantou suspeitas de abuso de informação
privilegiada; 10) o caso do BES Angola, uma investigação por
branqueamento de capitais que acabou por transformar Álvaro Sobrinho,
antigo presidente do BESA, num dos inimigos de Ricardo Salgado (o BES,
por sua vez, veio acusar Sobrinho de utilizar os jornais da Newshold – o i e o Sol
– para ataques pessoais ao presidente do banco); 11) o caso da recente
multa (1,1 milhões de euros) em Espanha, devido a infracções “muito
graves” de uma norma para a prevenção de branqueamento de capitais (em
2006, a Guardia Civil já havia feito uma rusga a uma dependência
espanhola do BES). É possível que me esteja a esquecer de alguma coisa.
aqui
1 comentário:
O autor desta preciosidade está ele próprio a necessitar de um Time Out...
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