Foi com prazer que vi partes do último programa do Eixo do Mal, transmitido no Sábado à noite e repetido no Domingo à tarde. O grupo tem piada, muita piada, e Daniel Oliveira, ex-BE, mais uma vez carrega-nos com a ideia de que as políticas deste governo são um completo falhanço, é austeridade em cima de austeridade, e assim não vamos lá.
A solução passa por... reestruturar a dívida. É isso que irá resolver os problemas do país e dar fôlego a quem morre com a austeridade.
Só é pena que em todo o discurso não se apresentem uns números, porque é com números que corroboramos ou refutamos ideias como esta que Daniel Oliveira trouxe à Nação.
Já todos sabemos que o défice de 2012, sem contar com a ANA, mas contando com fundos de pensões e descontando umas operações sombra que o governo fez com a CGD, o Eurostat considera que o défice é de... 6,6% do PIB
Ora 6,6% de 166 mil milhões são 10,9 mil milhões de euros.
Grosso modo, e como já tantas vezes escrevi, o défice da nossa Nação anda pelos 10 mil milhões. Há anos que é menos, outros que é mais, mas baseando-nos nos rendimentos e nas despesas, ou seja, excluindo venda de património (privatizações e outras), o valor médio roça sempre este número redondinho de 10 mil milhões.
Agarrando na sugestão de Daniel Oliveira, e sem saber realmente os detalhes da sua proposta, vou inferir que ele sugere o mesmo que eu tenho vindo a sugerir aqui no Viriatos:
Não pagamos nem o juro nem a dívida da troika !
Caso tal desígnio ocorra, aquilo que se consegue fazer é isto:
A dívida pública passaria em 2013 dos 205 mil milhões para 130 mil milhões aprox. (de 120% do PIB passa para 79%)
Os juros descem dos 8-9 mil milhões para 4-5 mil milhões anuais também aprox
O Défice, se usarmos o PIB previsto para 2013 (162 mil milhões aprox) deixará de ser 6% para ser 3% - 4%.
NÃO É MAU. Mas o problema é que mesmo assim, ainda falta MUITO para chegar à meta do superavit.
O que Daniel Oliveira não nos transmite, de forma deliberada ou por desconhecimento, é que para tentar estancar o problema é preciso que nos perdoem a dívida E CARREGUEMOS NA AUSTERIDADE, política que Daniel Oliveira odeia.
Não se resolve só atuando no perdão de dívida. É preciso cortar mais 5 ou 6 mil milhões em despesa, que por sua vez trará maior queda de receitas, o que nos levará a ter que cortar ainda na despesa até que se obtenha o equilíbrio. Só depois poderemos começar a baixar impostos e ajudar a economia a reestruturar-se.
Quem diz que com o perdão da dívida podemos folgar as costas não fez bem as contas. Infelizmente não chega.
Tiago Mestre
4 comentários:
Muito bom artigo.
Uma pregunta; como chegas a uma redução da dívida de 75 mil milhões e os juros que baixam de 8-9 para 4-5 mil milhões?
Tiago, subscrevo em pleno.
André, supostamente a troika irá emprestar-nos 70-75 mil milhões. É esse valor a reduzir na dívida.
E nos juros, se considerarmos uma taxa de juro de 5,5%, teremos que pagar 4 mil milhões em juros à troika.
Como hoje pagamos 8 a 9 mil milhões ao ano em juros, descontando os 4 mil da troika, ficamos com 4 a 5 mil milhões.
Os números não são exatos mas dão para perceber a grandeza das coisas, que é o mais importante para gente leiga como nós.
Ok, muito obrigado.
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