sábado, 15 de março de 2014

Novela da vida real

Carta aberta a Letícia Spiller

leticia-spiller
Prezada Letícia,
Antes de mais nada, gostaria de dizer que admiro seu talento como atriz e também te considero muito bonita. Infelizmente, você tem endossado certas ideias um tanto estapafúrdias, aplaudido regimes nefastos como o cubano, e alegado que se arrepende de ter usado uma camisa com a bandeira americana no passado, chegando a afirmar que se fosse hoje usaria uma com o Che Guevara.
Ontem, sua casa no Itanhangá foi assaltada por bandidos armados, que lhe fizeram de refém enquanto sua filha dormia logo ao lado. Lamento o que você passou, pois deve ser, sem dúvida, uma experiência traumática. Nossa casa é nosso castelo, e se sentir inseguro nela é terrível, especialmente quando temos filhos menores morando com a gente. A sensação de impotência é avassaladora, e muitos chegam a decidir se mudar do país após experiências deste tipo.
O que eu gostaria, entretanto, é que você fosse capaz de fazer uma limonada desse limão, ou seja, que pudesse extrair lições importantes desse trauma que ajudassem a transformá-la em uma pessoa melhor, mais consciente dos reais problemas que nosso país enfrenta. Se isso acontecesse, então aquelas horas de profunda angústia não seriam em vão.
Como você talvez saiba, sou o autor do livro Esquerda Caviar, que fala exatamente de pessoas com seu perfil (aproveito para lhe oferecer um exemplar autografado, se assim desejar). Artistas e “intelectuais” ricos, que vivem no conforto que só o capitalismo pode oferecer, protegidos pela polícia “fascista”, mas que adoram pregar o socialismo, a tirania cubana ou tratar bandidos como vítimas da sociedade: eis o alvo da obra.
Essa campanha ideológica feita por esses artistas famosos acaba tendo influência em nossa cultura, pois, para o bem ou para o mal (quase sempre para o mal), atores e atrizes são formadores de opinião por aqui. Quando um Sean Penn, por exemplo, abraça o tiranete Maduro na Venezuela, ele empresta sua fama a um regime nefasto, ignorando todo o sofrimento do povo venezuelano. Isso é algo abjeto.
No Brasil, vários artistas de esquerda têm elogiado ditaduras socialistas, atacado a polícia, o capitalismo, as empresas que buscam lucrar mais de forma totalmente legítima, etc. Muitos chegaram a enaltecer os vagabundos mascarados dos black blocs, cuja ação já resultou na morte de um cinegrafista.
Pois bem: a impunidade é o maior convite ao crime que existe. Quando vocês tratam bandidos como vítimas da sociedade, como se fossem autômatos incapazes de escolher entre o certo e o errado, como se pobreza por si só levasse alguém a praticar uma invasão dessas que você sofreu, vocês incentivam o crime!
Pense nisso, Letícia. Gostaria de perguntar uma coisa: quando você se viu ali, impotente, com sua propriedade privada invadida, com armas apontadas para a sua cabeça, você realmente acreditou que estava diante de pobres vítimas da “sociedade”, coitadinhos sem oportunidade diferente na vida? Ou você torceu para que fossem presos e punidos por escolherem agir de forma tão covarde contra uma mãe e uma filha em sua própria casa?
Che Guevara, que você parece idolatrar por falta de conhecimento, achava que era absolutamente justo invadir propriedades como a sua. Afinal, o socialismo é isso: tirar dos que têm mais para dar aos que têm menos, como se riqueza fosse jogo de soma zero e fruto da exploração dos mais pobres. Você se enxerga como uma exploradora? Ou acha que sua bela casa é uma conquista legítima por ter trabalhado em várias novelas e levado diversão voluntária aos consumidores?
Nunca é tarde para aprender, para tomar a decisão correta. Por isso, Letícia, faço votos para que esse desespero que você deve ter sentido ontem se transforme em um chamado para uma mudança. Abandone a esquerda caviar, pois ela não presta, é hipócrita, e chega a ser cúmplice desse tipo de crime que você foi vítima. Saia das sombras do socialismo e passe a defender a propriedade privada, o império das leis, o fim da impunidade e o combate ao crime, nobre missão da polícia tão demonizada por seus colegas.
Te espero do lado de cá, o lado daqueles que não desejam apenas posar como “altruístas” com base em discurso hipócrita e sensacionalista, daqueles que focam mais nos resultados concretos das ideias do que no regozijo pessoal com as aparências de revolucionário engajado. Será bem-vinda, como tantos outros que já acordaram e tiveram a coragem de reconhecer o enorme equívoco das lutas passadas em prol do socialismo.
Um abraço,
Rodrigo Constantino


Obs: um PS foi escrito após tanta repercussão. 


11 comentários:

Anónimo disse...

"o socialismo é isso: tirar dos que têm mais para dar aos que têm menos"

"o capitalismo é isso: não permitir que os que tenham menos tenham hipótese de chegar a ter mais"

Tiago Mestre disse...

Não não taawaciclos, o capitalismo não é isso.
No feudalismo, antes de haver liberalismo, é que é era +- isso:
os pobres estavam vedados a serem empresários, a pedirem dinheiro emprestado para arrancar com o negócio ou a obterem estudos que os qualifiquem para outro tipo de profissões.

O comunismo ainda é pior, porque com o asco que têm à iniciativa privada, nivelam tudo por igual, tornando toda a gente tendencialmente pobre excepto os do partido, ou seja, nivelam por baixo, quando intentavam que fosse exatamente o oposto.

O socialismo é uma tentativa mista: estado redistributivo, tendencialmente socialista, recorrendo aos impostos dos que produzem para ajudar os que não produzem. O problema é que o equilíbrio é frágil, e basta os que produzem começarem a não chegar para os que não produzem para a coisa descambar. A emissão de dívida para tapar buraco adiou o nosso encontro com a realidade, até 2011, ano em que finalmente iniciámos o nosso encontro com a verdade.

Há MUITA gente que não quer ver a verdade, tanto ricos como pobres, porque lhes toca, porque lhes dói, porque estão desempregados e o subsídio já fugiu, ou porque lerparam 30% do ordenado, ou porque os filhos emigraram por falta de emprego, etc, etc.
Todos temos razões de queixa, como eu por exemplo, que tive de despedir e não tive dinheiro suficiente para as indeminzações porque ao longo dos anos, os lucros que fui amealhando na empresa e que queria guardar num fundo, o Estado não permitia. O dinheiro foi todo tributado entre 30 a 40%. Com clientes a atrasarem-se a pagar não tinha tesouraria: tive que me endividar para pagar indemnizações. Que coisa esperta, não é?

Mas não é por estes motivos que eu vou agora ser parcial e hipócrita e olhar só para o meu lado. A visão que tenho da realidade do país em termos gerais, que se baseia em números da economia, nas contas do Estado e no entendimento cultural e sociológico que tenho do nosso povo não pode ser afetada por questões particulares ou pessoais. Não fazê-lo é um mau princípio que conduz a más decisões.

Separar estas águas é que é complicado.

Não era para sair testamento, mas pronto !

Anónimo disse...

Saiu um testamento... de facto!

Mas não saiu nada sobre "capitalismo"!

Fica para o próximo...

Anónimo disse...

Já agora!

"O dinheiro foi todo tributado entre 30 a 40%" tributado porque vives sob os auspícios do Capitalismo... Onde o tal do "Estado"/Poder Político é controlado pelo detentores do Capital, ou se preferires do "Poder Capital" que são...

Deves por certo saber quem é que te anda a gamar sem que, no entanto, o alarme faça ruído!!!

Anónimo disse...

Já agora... Novamente!

Não sei se já viste esta intervenção... Explica muito do Capitalismo em vigor neste Belo Burgo de Famílias de Capital!

Belo Espírito Santo...

Tiago Mestre disse...

Também não acho que o Capitalismo seja o paraíso na Terra. É sim o caminho económico mais interessante que temos para se viver em liberdade.

Mas a liberdade dá-nos a hipótese de fazermos asneiras, mesmo com legislação apertada, e por isso mesmo, ambicionar um regime democrático isento de sanguessugas, de corruptos, de privados a viver às custas dos dinheiros públicos e tudo o mais é uma quimera. Como eu gostaria que esses tipos não aparecessem, mas a liberdade existe, e como vão conseguindo escapar pelos pingos da chuva, lá vão ficando. Felizmente há pessoas como Paulo Morais que vão denunciando, também ele a exercer o seu espaço de liberdade.

Foi a liberdade que a nossa Constituição nos deu que permitiu que o Estado passasse de 25% do PIB em 1974 para 50% em 2011. Se concordo? Não concordo. Que é insustentável ter todos os anos défices de exploração nas contas do Estado na ordem dos 10%? É.
É aceitável a SS ter despesas de 29 mil milhões e receitas de 22 mil milhões? É ridículo, porque a diferença paga-se com dívida, que cresce sem parar.
Que me deixa doente ver políticos a prometerem este mundo e o outro aos eleitores sem dizerem onde e como vão buscar o dinheiro? Deixa

O que nos resta fazer? Dar a conhecer outros pontos de vista, ler, estudar e reproduzir num blog ou em conversas com amigos as nossas ideias.

Ambicionar o melhor da democracia sem perceber as coisas más que lhe são intrínsecas é semelhante a criticar uma ditadura sem perceber o que esta tem de bom.

Anónimo disse...

Faltava a liberdade!

Liberdade... Aqui está um bem directamente associado à capacidade que cada um tem de se prostituir em troca de papel-moeda!

Quanto mais papel-moeda conseguires reunires... Mais "livre" serás!

Mas nunca serás realmente livre...

Lura do Grilo disse...

Excelente. Socialismo é mesmo impedir que alguém possa aspirar a uma vida melhor pelo seu trabalho, ideias e talento. Trabalho, ideias e talento que dão trabalho e meios de subsistência a outros que não o conseguiriam por si próprios. Por isso a miséria assola os países socialistas onde os ricos são apenas as elites políticas e os pobres são mais pobres que em outros regimes.

Vivendi disse...

Tiago,

Só um retificação:

O peso do estado no Estado Novo foi de 15% com Salazar (era um relógio suíço) e com Marcelo chegou aos 20% ( um líder "fassista" a cair mais para a demagogia, iniciador do estado social e menos conhecedor da teoria económica).

Segue este link:

http://viriatosdaeconomia.blogspot.com/2013/07/breve-historia-da-inflacao-em-portugal.html

Anónimo disse...

"Por isso a miséria assola os países socialistas onde os ricos são apenas as elites políticas" que ideia mais estapafúrdia! Até parece que nos países com regimes socialistas não há as oligarquias como nos outros lados!

Pelo que posso concluir que em Portugal se vive em regime socialista, pelo menos é o que se pode concluir pelas queixas que por aqui vou lendo.

O sonho (o americano) só mesmo a dormir é que o é!
Na realidade em 2012 existiam 46.500.000 de pobres! Já para não referir os trabalhadores que vivem o sonho americano de trabalhar com salários mínimos... Mais uns milhões...

Socialismo/Comunismo/Capitalismo blá-blá-blá Como se diz em "tugês"
muda o cheiro, a merda é a mesma!

Lura do Grilo disse...

Apenas seis anos depois de o socialismo real ter definhado até à morte seis milhões de ucranianos numa terra farta para criar cereais David Packard e Bill Hewlett, estudantes de uma universidade criaram a empresa Hewllett Packard numa garagem tendo sido criado a partir daí o Silicon Valley. A empresa cresceu e criou equipamentos de medida que foram referência mundial. Os seus trabalhadores eram, mesmo que não quisessem, obrigados a tirar férias e provar que o fizeram. A HP criou a licença de maternidade. Expandiu-se para o Japão e levou para lá estas regalias estranhas aos nipónicos mas obrigatórias. Esta é ainda a razão histórica da obsessão dos japoneses por tirar fotografias quando em turismo.
A liberdade de explorar e levar para a frente ideias criou bem estar e riqueza enquanto a leste os gulags, as valas comuns, a fome, a miséria, o belicismo e a corrida ao armamento onde era empenhado 40% do PIB empobrecia os países socialistas. Uma abordagem socialista à economia levaria a que estes, se evoluíssem separadamente, ainda estivessem com a válvula electrónica, a inventar a Internet, o telemóvel ou a roubar os avanços científicos do Mundo Livre.

Como este caso houve muitos mais empreendedores que teriam sido perdidos se não vivessem em liberdade para tirar vantagens do seu empreendedorismo e as pessoas viveriam tão miseráveis como viveram nos "paraísos".