quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Pobres Ricos e Ricos Pobres

Muito se ouve falar nos media que este é o mais rico de Portugal, aquele é o 2º, e por aí fora.
E todos os anos aparecem novos rankings, fazendo notícia que fulano desceu três posições para 560 milhões de euros e sicrano subiu cinco posições para 900 milhões de euros.

Enfim, com tanta lavagem ao cérebro da malta, não é de espantar que se crie na sociedade a impressão de que estes ricos possuem mesmo os 560 milhões de euros ou os 900 ou o que for.

Mas a verdade é que as coisas não se passam bem assim, na medida em que toda essa riqueza pouco ou nada se reflete em cash depositado no banco. A contabilização vai sobretudo às ações, aos imóveis e ao valor que se atribui a esta ou aquela empresa detida em x por cento.

Por sua vez, todos estes "ativos" podem e pelos vistos são dados como colateral para obterem toda a espécie de financiamento. Um caso para mim caricato foi Ricardo Salgado ter dado ações da Tranquilidade como garantia para um empréstimo qualquer. Ou seja, se o empréstimo for liquidado estamos bem, mas se não for, este "tesouro" que Ricardo Salgado possuía vai-se embora, muda de mãos.

Com a quantidade de ativos que o GES possuía, não deve ter sido difícil obter financiamentos quase ilimitados. O problema aparece quando esses empréstimos financiam atividades que dificilmente são rentáveis. Não havendo lucro, mais cedo ou mais tarde o dinheiro fica curto para pagar a todos. Mas enquanto houver financiamento, tapar buracos com mais dívida será sempre uma tentação difícil de resistir. O caso mais paradigmático vem do próprio Estado Português, que se endivida há décadas para tapar défices.

Toda esta forma encapotada de gerar dívida e ao mesmo tempo transparecerem que são ricos criou a sensação nos portugueses de que a riqueza deles estava lá e era real.
Criavam-se as condições para que se iniciasse mais um processo de expropriação dos pobres/classe média que até tinham guardado algum de lado para um futuro incerto.
Bastava para isso criar as ferramentas que apelassem ao português a investir as suas poupanças nas empresas dos ricos. Depósitos a prazo com remunerações bem simpáticas ou então aquisição de empréstimos obrigacionistas com taxas de juro fixas completavam o cenário.

O português lá se enfiou no barco e ao entrar era recebido com boas vindas, funcionárias simpáticas e mordomias vãs, que em tudo o faziam sentir integrado no clube dos ricos. Ascender na escala social dá prazer e portanto uma nova etapa surgia na sua vida.

Não saber como funciona a atividade bancária a nível mundial ou como se interpreta um balanço e os rácios de um banco ou até de uma empresa pode sair muito caro quando confiamos o nosso dinheiro aos seus líderes.
A ignorância aliada a um sentimento de deslumbramento é coisa perigosa.

Tiago Mestre

4 comentários:

Diogo disse...

Tiago Mestre: «Não saber como funciona a atividade bancária a nível mundial ou como se interpreta um balanço e os rácios de um banco ou até de uma empresa pode sair muito caro quando confiamos o nosso dinheiro aos seus líderes.
A ignorância aliada a um sentimento de deslumbramento é coisa perigosa.»


E tu, Tiago? Sabes como funciona a actividade bancária?

Tiago Mestre disse...

Nunca ficamos satisfeitos com o que sabemos porque sabemos que não é suficiente, e portanto, respondendo à tua pergunta se sei como funciona: não sei tudo. Mas sei bem mais do que sabia há 6 anos, te garanto.

Aproveitei a tua pergunta e fui ao baú. Já tinha saudades:
http://contascaseiras.blogspot.pt/2012/05/bankia-deja-vu-dexia-e-bpn.html
http://contascaseiras.blogspot.pt/2012/06/obrigacoes-coco-conversao-contingente.html

vazelios disse...

Contas caseiras :)

Unknown disse...

É nessa linha que estar a falar como o Pib "subiu" ou desceu pode ser muito bonito para provar o nosso ponto de vista (alguns gostam de jogar com essas fantasias para mostrar como a politica dos governos socraticos era mais eficiente) porque esta austeridade de agora acaba por fazer baixar o pib.
Na verdade são filosofias que me parecem baratas mas fantasiosas.