sábado, 16 de março de 2013

A UE é um gigantesco Black Swan

Foi o economista Nassim Taleb que cunhou o termo "Black Swan" para certos fenómenos altamente improváveis, incluindo os económicos. E que fenómenos são esses?

É quando a complexidade é tão grande e tão frágil que muitas asneiras tentam ser suprimidas, varridas para debaixo do tapete, ocultadas dos meios mediáticos, na esperança (vã) de que não sejam vista e não amedrontem o pessoal.
Mas cedo ou tarde tudo se descobre, às vezes por um pequeno je ne sais quoi, uma coincidência, uma pequena brecha que se abriu e que ninguém reparou, e aí as consequências não se fazem esperar.

A UE, por muita boa vontade que tenha, e teve, em querer "ajudar" os países periféricos, em consolidar relações de paz do Bloco, e por aí fora, teve sempre que gerar soluções por compromisso, que em muitas situações nunca chegam a ser soluções, são remendos.
E quando há remendos, o tecido não é homogéneo. Há pontos fortes aqui e pontos fracos acolá.
Ainda me lembro da maratona de compromissos entre líderes europeus para a aprovação do Tratado de Lisboa. A lavoura foi tanta que Durão Barroso e Sócrates tiveram que celebrar com um Porreiro, pá! Aquilo foi demais. Já não havia paciência para mais nenhuma negociação.

E 2 anos volvidos o tratado foi logo quebrado quando Trichet começou a comprar obrigações gregas no mercado secundário e a UE aprovou uma ajuda à Grécia (Portugal contribuiu com 500 milhões ou 2 mil milhões, já não me lembro bem).

Mesmo os remendos não são suficientes.
Tudo isto deixa muitas pontas soltas, fica sempre muita merda por limpar, e no dia que o Inferno abre as portas, cruzes credo, arredem-se que ele vai doido.

Criar um bloco desta dimensão, com políticas iguais e diferentes, consoante os gostos, com alçapões jurídicos aqui e acolá, é muito difícil de gerir. E a realidade prova diariamente de que quando a tempestade chega, como foi no 2º semestre de 2008, ainda a malta estava descansar da maratona negocial do Tratado de Lisboa.
Não temos gente preparada para assumir responsabilidades desta dimensão, e as que temos julgam que sabem o suficiente para a gerir
Seriam precisos muitos super heróis a trabalhar em parceira, tipo aquele idealizado por Nietzsche, e mesmo assim a coisa iria resvalar com muita probabilidade.

As purgas que o sistema precisa de ter para se ir ajustando foram sistematicamente sonegadas. A tal volatilidade de que ninguém gosta é o melhor remédio.
Mas ninguém quer ouvir falar em perdões de dívida a sério nem deixar cair os grandes bancos, ninguém quer pensar em amedrontar os investidores. Ninguém quer provocar confusão. Ninguém quer provocar nada com medo do que aí possa vir.

Quanto maior, mais complexo. Quanto mais complexo, mais frágil.

Estas são as condições para que se possa apelidar de que a UE é um grande Black Swan em potência, à espera de que o rastilho espolete.
Será o imposto forçado sobre os depósitos no Chipre o rastilho?
Não sei, mas que se estão a pôr a jeito estão.

Tiago Mestre

2 comentários:

Sérgio disse...

A senhora explica:

German Chancellor Angela Merkel, at the helm of the EU’s largest economy, explained why the radical measure makes sense:

“So we said: people who have their money in Cyprus’ banks have to contribute to saving Cyprus. So everyone who has more than 100,000 euros in his or her account will be taxed by almost 10 percent, by 9.9 percent.”

Merkel added, “In so doing, the people responsible will contribute – not only tax payers from other countries. And that is correct in my opinion.”

Das duas uma, ou ela está a assumir que os 10 Mil Milhões que a UE lá vai meter também são a fundo perdido, ou então o que vão roubar às contas bancárias devia ser convertido em títulos de dívida em nome dos titulares das respectivas contas bancárias e com a garantia de compra pelo BCE, tal como fazem com os títulos de dívida dos outros países. Acho que a senhora se enterrou com a explicação.

link:
http://www.euronews.com/2013/03/16/shock-in-cyprus-over-bailout-levy-on-bank-deposits/

Tiago Mestre disse...

Ela fala para os alemães.

Fui ao Spiegel e estive a ver a caixa de comentários desta notícia. Genericamente a malta tem esta opinião. Sabe-a toda