sábado, 16 de março de 2013

Recuar à força é sinónimo de humilhação

Como é triste ver agora o governo voltar atrás em todas as projeções cor-de-rosa que andou a impingir aos portugueses.

Esta 7ª avaliação da troika representa a chegada da realidade. Durante ano e meio e várias avaliações trimestrais, o futuro doloroso foi permanentemente adiado, sempre na esperança de que o desemprego estancasse, o défice se reduzisse sem grandes cortes de despesa !! e as exportações explodissem até ao céu. O presente, apesar de ir dando indicações preocupantes, era sempre relativizado pelo ajustamento em curso e por estarmos QUASE a terminá-lo.

Passos, Álvaro e Gaspar afinavam pela positiva sempre que uma câmara lhes aparecia à frente. No Verão passado, no Pontal, Passos já vislumbrava a prosperidade.
Meses antes, Álvaro achava que o 2º semestre de 2012 já traria melhores notícias.
E a meio de 2011, os super otimistas já carregavam que 2012 começaria a dar sinais de retoma.
Há 2 semanas, o parolo de serviço, Borges, informava os ignorantes tugas de que o Estado não precisaria de efetuar mais ajustamentos. O assunto estava arrumado, só bastava esperar pelo crescimento económico. Renovaram o contrato com o homem por mais 1 ano.

Tentaram enganar o mundo inteiro ao referirem que a Reforma do Estado não interferiria de sobremaneira na economia privada. 2 Anos de ajustamento público e o problema estaria resolvido. Tinha sido assim em 83-85, e desta vez, com tanta ajuda da Europa, não haveria motivo para ser diferente.

E custa-me ver o PSD a ser queimado, porque fora estes, tudo o resto quer é gastar mais e mais.

Tantas vezes escrevi eu que a quantidade de dinheiro que o Estado precisaria de cortar teria um impacto gigantesco na economia e por arrasto no PIB. As fórmulas deste e do défice não me deixam mentir.
Mas seria a força das exportações que corrigiria tudo isto, pensava muita gente, quando nem sequer se aperceberam de que apenas 10-12% ou menos da população ativa é que trabalha no setor exportador.

Só o pessoal do Viriatos e mais meia dúzia de gatos pingados a quem estas contas e projeções cor-de-rosa não cheiravam bem é que não se deixaram enganar pela falácia.

Há ano e meio tínhamos toda a gente a dizer:
Ok, temos que cumprir o acordo, pôr as contas em ordem temos e mostrar que somos bons alunos para que o dinheirinho venha.
Perdão de dívida? Ui, nem falar disso. Nós cumprimos as nossas obrigações, somos gente de bem, dizia Passos Coelho na Assembleia

E custa-me acreditar como é que uma verdade tão simples foi obliterada por tanta gente que preferiu acreditar em ruído mediático e esperanças vãs.
Como é que a aritmética anterior à civilização grega foi esquecida como quem dá cá aquela palha. Há um lado irracional em todos nós que é muito difícil de compreender.

Rogoff vem dizer ao Expresso que sem perdão de dívida iremos continuar a penar por mais 15 anos. Não interessa de são 15, 10 ou 20 anos.
15 anos é um número redondinho, só isso. Ninguém sabe quanto tempo isto irá durar.

Há muita gente que não concorda com o perdão da dívida, eu também não, mas olhando para o volume de dívida e energia interna para a liquidar, a minha opinião sincera é que não há energia nem tempo para resolver este problema que temos entre mãos.

Para cada circunstância temos que analisar a realidade e perceber o que é possível fazer. Foi assim que Salazar trabalhou em 1932 quando primeiro juntou o Escudo à Libra e depois quebrou a paridade quando esta não conseguiu suportar a força do padrão ouro. Mudou radicalmente de ideologia monetária quando percebeu que as circunstâncias estavam a alterar-se.
A ideologia tem que ser calibrada à medida que a realidade vai evoluindo, é esta a minha opinião.

E estando agora os credores na mó de cima com o apoio que Draghi deu às nossas bonds ("farei tudo o que for necessário!"), penso que nos estamos a aproximar do timing ideal para deixar uma bomba num dos próximos Conselhos Europeus:
NÃO PAGAMOS A DÍVIDA NEM O JURO DA TROIKA

Não é porque não queremos, não é porque desejamos mal à UE, é simplesmente porque não podemos.

Se em 2013 deixarmos escapar esta oportunidade, penso que lá mais para a frente será mais difícil fazê-lo.
Por agora ainda há muita gente que julga que tem muito a perder se a Europa e o € colapsarem, e tudo farão para manter o barco à tona de água. A dívida de Portugal para a troika são amendoins.

É nestas circunstâncias que honestamente teremos de dizer à UE que a dívida contraída nos últimos 12 anos (durante o €) foi com a supervisão destes, aprovação destes; e o esgotamento do crescimento económico também. Terão que ser os colegas europeus a liquidá-la se quiserem. E se não quiserem, agente não paga na mesma e serão os credores do EFSF, do ESM e do FMI a lerparem. Aí sim, a coisa dará mesmo para o torto.
Só pagamos aos credores privados porque será com estes que teremos que contar no futuro. Tudo o resto chama-se solidariedade institucional.
A UE acompanhou-nos na bebedeira, agora tem que nos acompanhar na ressaca. É fodido, é complicado, vai custar eleições a muita gente e talvez a própria desintegração da UE, mas se me vou preocupar com as consequências de cada solução que se deve tomar, então ficaria sempre quieto, com medo do que aí viesse.

É que ter muita dívida nas nossas contas significa isto:
Basta querer baixar o ritmo a que esta cresce e temos logo depressão.

Já escrevi antes que cortar 4 mil milhões em juros e 70 mil milhões de dívida da Troika NÃO CHEGA.
É preciso cortar mais 6 mil milhões na despesa do Estado para que o equilíbrio entre receitas e despesas ordinárias se mantenha, e zelar anualmente por esse equilíbrio.

Para já isto ainda é uma quimera, eu sei, mas para grandes males não acredito em pequenas soluções.

Tiago Mestre

2 comentários:

Anónimo disse...

MUITO BEM.
Não pagamos e saimos do euro.
Simples.
A europa tremeria.

doorstep disse...

Tanto malharam no socrates por ter dito que a divida não era para pagar, e no deputado do ps de aveiro (bloguista no ladrão de biciclatas) por ter sugerido que se lhes acenasse a hipótese de levarem a banhada...

Comme quoi...