quinta-feira, 7 de março de 2013

Salário mínimo para uns, Salário máximo para outros

O "espetacular" debate que se assiste no parlamento e na televisão acerca do aumento do salário mínimo é já bem revelador do Estado generalizado de ilusão em que todos nós vivemos.

Uns acham que o salário deve aumentar
Outros acham que deve reduzir

E no fundo, todos acham que o valor é para ser manipulável em função da interpretação que cada um tem da economia, do mundo e da vida.

Ninguém pergunta o que é que o Mercado acha disto porque o Mercado não responde em conferências imprensa.
Responde pela calada, nos milhões de micro decisões que empregadores e trabalhadores tomam todos os dias.

Ou seja, quer o salário suba, quer o salário desça, o Mercado, leia-se as pessoas, encontrará os meios para se adaptar a estas virtualidades que a força política julga serem reais.

Se o salário subir, tendencialmente veremos mais gente a ser despedida porque as funções que exercem e que para a qual estão preparadas deixa de se encaixar na virtualidade do salário mínimo.

Se o salário baixar, tendencialmente recuperaremos gente do desemprego que estará apta para exercer as funções compatíveis com a remuneração que os clientes julgam adequado.

Independentemente de subir ou descer, todos nós nos iremos arranjar de alguma maneira, e uma coisa é certa, quanto maior a manipulação, maior a criatividade em arranjar esquemas paralelos.

A grande maioria dos empregos em Portugal são no setor dos serviços massivos, como serviços de limpeza, restauração e outros que tais.

Há mais de 10 anos que a proveniência da força laboral para estes setores vem das empresas de trabalho temporário. E com estas, não me perguntem como, é possível realizar trabalhos com horário parcial e ORDENADO PARCIAL.
O que não falta nas cozinhas é gente a trabalhar só de tarde, a fazer umas horas, tipo 4 ou 5 horas por dia. Auferem abaixo do salário mínimo, claro. Mas isto não é um caso nem dois. São milhares.
Já se descobriram formas, mais ou menos legais para se fugir à prisão do salário mínimo.

Li no outro dia que só a Conforlimpa tem 7 mil funcionários, e como esta há dezenas de outras empresas que empregam massivamente. Era preciso juntar muita indústria para concorrer em recursos humanos com estas entidades.
Empresas de limpeza que faturem um milhão ao ano têm que ter, assim por alto, pelo menos uns 200 ou 300 funcionários. Há empresas exportadoras de tecnologia que exportam isso com 7 ou 8 "macacos" à frente de um computador. São filmes completamente diferentes e lógicas laborais sem comparação alguma.

E o que dizer dos biscates, em que o pedreiro pede ao amigo trolha para lhe dar uma mão naquela obra ali. É tudo por fora. Qual salário mínimo qual quê.
Paga-se enquanto há trabalho. Deixa de haver deixa-se de pagar.

Então e os recibos verdes / trabalhadores independentes?

Eu percebo a boa intenção dos governos em querer instituir um valor mínimo de rendimento, mas e se toda uma população quiser viver abaixo desse valor mínimo que o governo, por decreto, considera ser o nível mais baixo de precariedade?
E o que é que fazem com o seu povo?
Deitam-no para o lixo e vão buscar outro?
Há gente que não quer chatices nenhumas na vida e prefere auferir só aquilo que naquele momento deseja auferir. Vivem dum biscate aqui, dum biscate acolá e têm o direito a serem tão livres e tão felizes como outra pessoa qualquer.

O que não falta aí é gente que não se quer mexer muito, e portanto um salário mínimo de 485€ pode implicar trabalhar mais do que se deseja.
Para muitos, o salário mínimo instituído é superior ao salário máximo que desejam auferir em troca do seu trabalho.

Isto não é apologia da pobreza. É respeitar a soberania individual daqueles que querem viver assim., por muito que isso nos faça confusão na cabeça. Se não querem trabalhar, não querem trabalhar. Vamos nós agora obrigá-los?

Aahh. mas basta compararem-nos com os colegas do € e somos os que temos ordenados mais baixinhos, logo, É PRECISO SUBIR A TODO O TRANSE, esquecendo o que somos e porque somos o que somos.

Tiago Mestre

1 comentário:

David Seraos disse...

Excelente Post! Parabéns Tiago.

Ultimamente não se tem falado noutra coisa sem ser o aumento do Salário Minimo, porque existe mesmo Salário Minimo ou agora também Salário Máximo.
Mas queixam-se que a economia está mal, com tantas manipulações queriam que estivesse bem.

O salário naturalmente seria medido pela produtividade, não existindo valores minimos, produzes 100 recebes 100, produzes 0 recebes 0.